Projeto indecoroso(Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)

Convencida por Lula, Dilma Rousseff admitiu convocar plebiscito a fim de que a população se manifeste sobre a realização ou não de novas eleições presidenciais, caso o Senado rejeite seu impedimento. Reempossada, segundo suas palavras, poderia “remontar um pacto que vinha desde a Constituição de 1988 e foi interrompido com o processo de impeachment”. Inexata, não explicita qual o pacto que foi interceptado, com um raciocínio de parto sempre doloroso e incompreensível.
Insiste no discurso do golpe e mistura as estações. Condena o parlamentarismo e defende o presidencialismo, contanto que retorne ao poder. Fala de pautas conservadoras comandadas na Câmara Federal por Eduardo Cunha, com quem diz que jamais faria qualquer tipo de negociação. Anuncia que não celebraria nenhum pacto com o presidente em exercício e que somente o plebiscito pode “lavar e enxaguar essa lambança, que está sendo o governo Temer”. Ainda assim, evita comprometer-se com datas e formas que possam orientar a consulta popular, deixando tudo para ser resolvido após sua reintrodução na presidência.


É confusa, como sempre, e mente sem o mínimo talento. De forma atrapalhada e com sua proverbial estultice, orquestra manobras diversionistas ditadas por seu criador, com quem esteve nesta semana em Brasília. Condena Cunha, mas esquece que o recebia com frequência em encontros privados no Alvorada, com o propósito de mantê-lo como aliado de seu governo. Não desiste de estabelecer fortes liames entre Cunha e Temer, na tentativa de embaralhar os fatos e criar embaraços ao atual presidente perante a opinião pública. Mas não custa lembrar que Dilma até a undécima hora ainda admitia um acordo com Cunha, tanto &e acute; que o pedido de impeachment foi aceito em termos bastante restritos, frente ao conjunto da obra que incrimina a presidente faltosa. Também não esclarece qual a lambança de Temer que pretende com o plebiscito “lavar e enxaguar”.

Ora, somente com muita ingenuidade pode-se engolir a historieta do plebiscito, mal-ajambrada por Lula e enfiada goela abaixo de Dilma. Ou com muita má-fé, como o faz o notório e destrambelhado senador Roberto Requião, que defendeu a proposta, em jantar com colegas de Senado em Brasília. Qual o cristão que hoje confiaria na palavra de Dilma, mitômana fundamental, com suas inúmeras declarações e promessas feitas e desfeitas, com idas e vindas sobre o mesmo tema, desde a campanha e no exercício da presidência. Lá sei, talvez quem sabe o ingênuo senador Cristovam Buarque, que formula indagaç&otild e;es despropositadas na Comissão de Impeachment que interessam ao lulopetismo, esquecendo-se que foi demitido por Lula de maneira ultrajante do Ministério da Educação. Bem, de qualquer sorte, servirá para engrossar a fileira de senadores que aproveitam a situação de instabilidade do governo para barganhar a nomeação de cargos e a concessão de favores do presidente interino.

Dilma, com a rejeição do impeachment, reintroduzida no cargo, poderá pura e simplesmente esquecer o compromisso de renunciar ao mandato. De mais a mais, será necessário combinar com os russos, como dizia nosso inesquecível gênio das pernas tortas, com o vice Michel Temer, que poderá recusar-se a seguir o mesmo caminho da titular, com todas as razões do mundo. Portanto, trata-se de conversa fiada, de um projeto indecoroso, mais um expediente fraudulento, mais um estelionato, como tantos outros cometidos durante o pleito de 2014.

A todos os títulos, isto sim é que é golpe. O retorno da presidente, agora acusada pessoalmente de ter cometido uma sucessão de ilícitos penais e eleitorais, representa um duro golpe contra o Brasil e contra as instituições nacionais. Como é evidente, não se terá um golpe, na acepção que lhe empresta a Ciência Política, porquanto a rejeição do processo de impedimento poderá dar-se na forma da legislação vigente, em sentido contrário do que propalam os petistas e a presidente afastada para o caso da aprovação do impeachment. No entanto, com ela de volta, o caos absoluto, a conjugação da incompetência com a corrupção, com o país mergulhado na anarquia econômica, inflação elevada e total desorganização das finanças públicas, numa viagem definitiva, trágica e funesta para a sociedade.

Restará, com tão graves consequências, a falência da Lei de Responsabilidade Fiscal, notável conquista da probidade da transparência no trato do gasto público, e a negação do texto constitucional a respeito dos crimes de responsabilidade, como letras mortas no ordenamento jurídico. A partir da mais alta autoridade da República, passa-se então a sinalizar que o crime compensa, que vale a pena o procedimento predador e ilegal na administração pública, ficando todos autorizados a descumprir a lei e a Constituição.

Veja-se o risco da readmissão de Dilma Rousseff, raivosa, vingativa e intolerante, sem nenhuma vocação para a construção do diálogo democrático. Acresça-se ao seu temperamento irascível e grosseiro a ampla rejeição do povo brasileiro, cerca de 70% aplaudem o impeachment, índice que espelha com eloquência o desastre de sua presença no comando da República.

Neste momento tormentoso e preocupante da vida nacional, estima-se que a representação política no Senado interprete com muito juízo os anseios da Pátria, ratificando a voz das ruas, com o afastamento definitivo da presidente inepta e delituosa.(Paulo Figueiredo – Advogado, Escritor e Comentarista Político –
[email protected])
NR – Artigo publicado, excepcionalmente, neste domingo.

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