

Pela primeira vez em 20 anos, nem PMDB nem PT assumirão o governo de Mato Grosso do Sul. Quem venceu as eleições no Estado foi o candidato que pregava a “mudança”, o tucano Reinaldo Azambuja.
Com 91% das seções apuradas no Estado, o deputado federal somava 55,3% dos votos, ante 44,6% de Delcídio Amaral (PT), e o resultado estava matematicamente definido.
Proprietário rural, Azambuja chega ao cargo com a promessa de fazer um governo ético e honesto, sua principal bandeira nesta campanha, em que fez forte oposição ao PT desde o primeiro turno.
Seu adversário era chamado de “Delcídio do PT”, e seus programas eleitorais criticavam o modo como “o governo federal do PT” deixou de investir em saúde e segurança nas fronteiras.
O discurso fez efeito num Estado agropecuarista e com eleitorado conservador, como analisam especialistas e políticos ouvidos pela reportagem.
Mais do que isso, Azambuja resistiu a um bombardeio do adversário, que comparou suas biografias, rememorou denúncias contra o tucano e fez acusações no horário eleitoral que renderam quase duas horas de direito de resposta. O PT chegou a reclamar de parcialidade da Justiça.
Enquanto Delcídio, senador há doze anos, expansivo e articulado, ia para o ataque, Azambuja, com jeito sério e reservado, rebatia com parcimônia e acusava o adversário de desespero. “Ele tem esse jeito manso, de bom moço. Funcionou”, diz o analista político Eron Brum, doutor em comunicação e ex-professor da UFMS.
Para além do discurso, Azambuja também mostrou ser forte politicamente, especialmente com um adversário como Delcídio, um dos mais proeminentes políticos do Estado e com forte atuação no Senado.
Emendas parlamentares
O petista se preparava para ser candidato havia doze anos. Conversara com os principais partidos e tinha milhões de reais em emendas parlamentares obtidas para os municípios.
O tucano, deputado federal em primeiro mandato, conseguiu articular sua candidatura com uma “caravana política”, o Pensando MS, que percorreu todos os 79 municípios durante um ano, colhendo sugestões e conversando com líderes políticos.
Numa das campanhas mais caras do país, com previsão de gastos de R$ 35 milhões, Azambuja obteve o apoio da maioria dos prefeitos e conseguiu agregar nove partidos ao seu projeto no segundo turno –Delcídio ficou com apenas dois.
O apoio do poderoso PMDB, porém, quase foi seu calcanhar de Aquiles. O partido que hoje governa o Estado não apoiou o tucano oficialmente, já que parte dele declarou neutralidade, inclusive o atual governador André Puccinelli.
Mas Azambuja posou para foto e fez discurso ao lado da família Trad, uma das mais tradicionais da política estadual e cujo candidato, Nelsinho Trad, ficou em terceiro lugar na disputa.
Delcídio partiu para cima. Acusou o tucano de ser “o candidato dos poderosos” e “duas caras”, já que falava de mudança e se aliou ao status quo. Não foi suficiente.