Que Deus se apiede de nossas almas – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Estranha a conjugação, não é? É apenas a forma arcaica, mas eu não resisto a sonoridade da frase. Mas vamos ao ponto. Eu dificilmente tenho medo, tenho receios de pessoas, mas o medo não cabe na minha ideia, nem de morrer, porque isso é uma definição, mas tenho medo de gente que tem medo de gente, como aquele ex-presidente da ditadura militar que tinha horror até do cheiro de povo. Tenho medo especialmente de quem tem medo de gente pobre, preta, de gente que veio de baixo e ousou sair do lugar que lhe estava destinado como um vaticínio.


Tenho medo de quem confunde inteligência com título universitário, saber com conhecimento; esses que estigmatizam como incapazes os que não saíram do próprio ventre. Eles abolem o princípio de igualdade e de indivisibilidade de todos os seres humanos. Portanto, eles acreditam em seres superiores, eleitos por obra divina, e com esse tipo de convicção costumam simpatizar com diferentes modalidades de fascismos, racismos etc.

Tenho medo de quem tem medo de alternância de poder porque esse medo revela outro, mais assustador, que é o medo mais profundo que eles escondem de uma verdadeira democracia. Mas tenho medo mesmo é do que pode acontecer no próximo dia sete de setembro, onde os radicais, vão tentar invadir o STF e o Congresso, eles os manifestantes esquerdistas e negacionistas estão organizados, numa incitação a violência, para que voltemos aos tempos de 1964, é preciso que urgentemente as autoridades deixem de agir passivamente e tomem uma medida de maneira que impeça a ação criminosa. Tenho medo de quem demoniza a esquerda, de que tem medo de oposição, de quem acredita em pensamento único, em Deus único. Porque eles se acomodam a toda espécie de intolerância e obscurantismo.

Tenho também medo de uma esquerda com classe, mas sem raça. Mas temo mais ainda uma direita que só governa para os simplesmente de primeira classe, e tentam dar golpes como o que está acontecendo agora no Brasil. Tenho medo dos que tentam conspurcar com seu medo a livre expressão daqueles que têm como única arma para mostrar a sua indignação o voto. Graças a esse medo, a história deste país tem sido o de uma ilha de democracia cercada de ditaduras por todos os lados. Tenho medo de quem tem medo do resultado de eleições livres e democráticas, mas não se apavora diante do fato de que este país, no início do terceiro milênio, mantenha pessoas trabalhando em regime análogo ao de escravidão, entre elas crianças de 4 a 10 anos de idade, como denunciado pela imprensa na última quarta-feira, mais uma entre as inúmeras denúncias que se conhece sobre esse tema que, via de regra, envolve gente que participa de eleições cujo resultado se conhece antes da contagem dos votos.

Tenho medo de quem não se apavora com os 53 milhões de pessoas empobrecidas, das quais 22 milhões vivendo em condições de indigência humana num país cuja economia está entre as dez maiores do mundo e, no entanto, é incapaz de oferecer segurança alimentar ao conjunto de sua população. Tenho medo de quem tem medo de uma esquerda que, onde exerce o poder, nunca empreendeu nenhuma revolução. Isso significa que a mera defesa de direitos elementares de cidadania às massas excluídas é considerada ainda hoje como no pós-abolição, como rompantes revolucionários por setores de nossas elites.

Tenho medo de quem é capaz de usar o medo para acovardar outros; para domesticar consciências, manter o status quo e inviabilizar a emergência de qualquer alternativa. Que tentam nos convencer de que se esgotou a capacidade humana de criar, sonhar e cultuar a esperança. Tenho medo dos que preferem o conforto do mal conhecido à ousadia de lutar pela transformação, pela mudança. Quando essa gente se move para garantir que tudo permaneça como está, não tem limites: vale-se do terrorismo político que se assemelha nas práticas e objetivos ao terrorismo criminoso, como o dos traficantes dos morros cariocas. No cerne de ambos, o medo da derrota política para uns, ou da frustração de seus planos de consolidação de um poder paralelo criminoso para outros.

Em ambos os casos, a intimidação como arma. Sempre tive medo do medo. E esse medo que no inicio do presente artigo disse que não tinha, confesso que tenho, e esse  medo do medo sempre me impulsionou a me arriscar para impedir que ele me governasse. Por isso, com prazer, o derrotarei, uma vez mais, no próximo ano, em legítima defesa de minha liberdade, sobretudo de sonhar e ousar mudar.

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