Que país é este, Francelino? (Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)
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O piauiense Francelino Pereira foi governador biônico de Minas Gerais e presidente da Arena, durante a ditadura militar. É dele a célebre indagação: “que país é este?”, quando da promessa do presidente Ernesto Geisel de promover a redemocratização do Brasil. Ninguém acreditava no general. Bem, com o país já sob regime democrático, a frase seria repetida pelo notório Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, ao questionar com seu advogado sua primeira prisão, acusado de lavagem de dinheiro e corrupção no escândalo do Petrolão.
Duque voltou às grades da PF, mesmo após ter sido solto por determinação do ministro Teori Zavascki, e Francelino amarga um merecido ostracismo. Mudando o que deve ser mudado, num caso e noutro, ambos tem razão. Afinal, vencidas tantas e tantas batalhas na luta pela institucionalização da liberdade no Brasil, com tantos e tantos que tombaram pelo caminho, que diabo de país é este, uma pergunta cada dia mais atual?


Obrigo-me, por dever de ofício, à leitura diária dos principais jornais do país, que circulam no Rio e em São Paulo. É brochante. As manchetes e os temas desanimam. Vamos lá. Na Folha de São Paulo: “Petrobras estima propina de até 6 bi”, “Tesoureiro defende doações ao PT e ataca partidos rivais”, “Roedores soltos no plenário causam tumulto em sessão” e “Lula e Temer discutem cargos do 2º escalão”. No Estadão: “Reinício de governo sem trégua – Temer, que esteve ontem com Lula, vai ter poder para nomear” e “Ratos no Congresso”.  Em O Globo: “Na CPI da Petrobras Tesoureiro do PT não explica reuniões com delatores”, com uma charge do Chico que é uma preciosidade, com o vice Michel Temer portando a faixa presidencial e Dilma escondendo-se atrás do dito cujo. Na página do UOL: “Dois ex-deputados são presos na Lava Jato, que passa a investigar Caixa”, além de outras notícias sobre a Operação Zelotes, que investiga pagamento de propinas a membros do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.

É um escracho, o Brasil naufraga. Como se não bastasse, Temer diz que “Dilma lhe pediu ajuda para governar”, declaração que confirma a inspiração dos cartuns de Chico. E, sem pestanejar, Temer segue governando e promove a distribuição do poder, em ação partilhada com Lula da Silva, responsável pela indicação de seu nome para compor o núcleo duro do governo. No horizonte do fisiologismo escancarado, a ocupação dos órgãos públicos de segundo escalão, onde são encontradas algumas galinhas de ovos de ouro bem atrativas, seguindo-se na mesma linha de aparelhamento do Estado comandado pela companheirada do PT.

O tesoureiro do PT, Vaccari Neto, protegido por mais de uma dezena de deputados federais e correligionários, coitadinho, quanta ingenuidade, vai à CPI da Petrobras e admite que esteve com Renato Duque e Pedro Barusco, ladrões da estatal. Também informou ter agendado uma reunião com o doleiro Alberto Youssef, que não chegou a se realizar, pois não o encontrou ao chegar ao local combinado. Pretende tirar uma espécie de salvo-conduto ou salvaguarda que justifique as gravações feitas nos lugares desses encontros, possivelmente nas mãos dos investigadores e procuradores federais. A partir daí, nada mais sobre assunto, nenhuma uma vírgula, como se fôssemos todos um rebanho de idiotas. Talvez devesse acrescentar que estiveram reunidos a fim de discutir o progresso do país e o futuro da Nação, como patriotas de elevado espírito público. Não foi à toa que alguns roedores circularam com desenvoltura na sala da Comissão Parlamentar de Inquérito, sentindo-se realmente em casa, para o desconforto de muitos que vestiram a carapuça.

A mitomania tomou corpo de tal forma no PT que o hábito de mentir faz hoje parte da rotina do partido e de seus líderes mais expressivos, a começar pelo metalúrgico Lula da Silva. Mentem sem nenhum pudor, com a cara mais deslavada do mundo. Nesta semana, por exemplo, o PT disse no horário gratuito na TV que foi o partido que colocou os corruptos na cadeia, em várias inserções publicitárias. Pelo amor de Deus, quanta desfaçatez. Que corruptos? Os do Mensalão? E agora os réus da Operação Lava-Jato de assalto aos cofres da Petrobras? José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, João Paulo Cunha e tantos outros próceres do PT, presos pelo próprio PT, que jamais tolerou a decisão do Supremo Tribunal Federal. E os indiciados e réus na Operação Lava-Jato, dentre os quais o tesoureiro do partido Vaccari Neto, também responsabilizados por iniciativa do partido e do governo Dilma Rousseff, que tudo fizeram para torpedear as investigações.

É demais, é muita cara de pau. Assim não dá, não sei aonde chegaremos com essa canalha, que ultrapassa as raias do cinismo absoluto.(Paulo Figueiredo – advogado, escritor e comentarista político – [email protected])

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