
Eles conduzem metas, gerenciam crises, tomam decisões difíceis e precisam, ao mesmo tempo, manter a motivação da equipe. Estão sempre prontos, disponíveis, estratégicos.
Mas quem cuida deles?
A saúde mental dos líderes é, muitas vezes, a mais esquecida dentro das organizações. E, ironicamente, é dela que depende boa parte do bem-estar — e do clima emocional — das equipes.
A pressão de ser infalível
No imaginário corporativo, líderes não podem vacilar. Precisam ter todas as respostas, lidar com todos os conflitos e ainda inspirar confiança, mesmo quando estão inseguros ou exaustos.
Essa pressão, silenciosa e constante, leva muitos a desenvolverem padrões de autoexigência, isolamento e negação do sofrimento. É o famoso “não posso demonstrar fraqueza”.
Mas a neurociência e a psicologia já mostram o custo dessa postura:
-Aumento do cortisol (hormônio do estresse)
-Redução da empatia e da tomada de decisão ética
-Risco maior de burnout e fadiga por compaixão
-Diminuição da capacidade de escuta ativa
Líderes também adoecem
No consultório e nos bastidores dos projetos organizacionais, atendo líderes que vivem sob forte tensão emocional — e que, muitas vezes, só pedem ajuda quando o corpo grita ou quando uma crise explode.
São relatos como:
“Não posso parar. Sou eu que seguro tudo.”
“Se eu demonstrar cansaço, minha equipe desanima.”
“Ninguém me escuta, mas todos esperam que eu esteja bem.”
Esse silêncio institucionalizado contribui para que líderes sofram em silêncio — até que se afastem, desmotivem ou reproduzam, sem perceber, comportamentos tóxicos na tentativa de manter o controle.
E o impacto nos liderados?
Um líder que não se cuida tende a:
Reagir com dureza às pressões da equipe
Transmitir insegurança ou instabilidade emocional
Reforçar uma cultura de negação do sofrimento
Aumentar o medo de erro e a cobrança por perfeição
Por outro lado, líderes que reconhecem seus próprios limites e cuidam da saúde emocional criam espaços mais humanos, seguros e engajados. Eles inspiram, não pela rigidez, mas pela presença e coerência.
A saúde emocional da liderança é estratégica
-Empresas que investem na saúde mental dos seus líderes colhem benefícios como:
-Maior retenção de talentos
-Melhoria no clima organizacional
-Redução de conflitos internos
-Aumento da confiança e da colaboração entre times
Além disso, um líder emocionalmente saudável é modelo vivo de autocuidado e inteligência emocional. Ele valida, acolhe e estimula o mesmo comportamento na equipe.
O que fazer na prática?
Oferecer suporte psicológico específico para líderes
Supervisões clínicas, psicoterapia, grupos de apoio. Eles também precisam de uma escuta qualificada.
Normalizar a vulnerabilidade na liderança
Errar, pedir ajuda, não saber tudo — isso não desqualifica. Humaniza.
Redefinir o que é ser forte
Ser forte não é aguentar sozinho. É saber a hora de dividir o peso.
Incluir saúde mental no plano de desenvolvimento da liderança
Treinamentos, mentorias e KPIs que incluam o cuidado com pessoas e consigo mesmo.
Reflexão final:
Líderes não são máquinas. São seres humanos em posição de influência. Cuidar da saúde mental deles não é um luxo, é uma estratégia inteligente. Porque quando a liderança adoece, toda a cultura adoece junto.
Luanna Cunha – Psicóloga Clínica e Organizacional
Excelente matéria para refletirmos