
Muitos portugueses não ganham tanto, e irão aqui considerar que “sim, é muito bom e que se pode ter uma vida muito boa”, mas não é bem assim…
Em Portugal, se ganha menos de 3000€ líquidos vai ter uma vida com muitas restrições, que serão tanto maiores quanto mais abaixo ganhar desse valor. Lembre-se que 50% dos portugueses vivem em risco de pobreza extrema e entre 65% a 70% vive em estado de privação económica.
O facto de cerca de 80% dos portugueses não ganharem tanto não significa que esse salário é bom, significa apenas que o da maioria é ainda pior.
Portugal é o país mais pobre da Europa ocidental, bem como o que tem piores salários.
Enquanto muitos portugueses sonham com um salário de 1700€, no Luxemburgo, na Suiça, na Holanda, entre vários outros, esse salário é inferior ao salário mínimo local. Apesar do custo de vida ser, obviamente mais alto nesses países, a diferença de poder paritário de compra e a mediana de salários, entre Portugal e eles, é abismal.
Haverá aqui respostas de muitas pessoas que ganham menos que isso e que ficarão irritadas e ofendidas, por se considerar que têm uma vida medíocre. Essas pessoas irão contestar a minha resposta com base em argumentos subjetivos diversos, como o sentimento de felicidade, o grau de consumismo, ou o conhecimento empírico de cada um.
Contudo, ninguém se engane, apesar de muitas poderem ser felizes (e ser feliz não está só dependente do rendimento), todas vivem com restrições de variada ordem a que meramente se habituaram e resignaram.
Com esse salário líquido não pode ter uma vida “Muito Boa”,nem sequer “boa”, ficará num nível entre razoável e medíocre, com tendência acentuada para medíocre e com muitas restrições de consumo, de hábitos quotidianos, de objectivos pessoais e com muito receio de imprevistos.
Grande parte deste rendimento irá para habitação e respectivas contas de electricidade, água, etc da mesma, uma segunda parcela será gasta em transportes e alimentação, ambos poderão ser mais fáceis de gerir, mas com esse rendimento vão sempre pesar.
O valor será “maior” quanto menos relevante seja a cidade, mas atenção que, se é difícil auferir 1700€ líquidos no Porto e Lisboa, então imagine quão mais difícil é noutras localidades.
No Porto e Lisboa este valor é “mais baixo” e possibilita menos poder de compra que nas restantes cidades…não dá para uma “boa vida” nestas cidades. Com esse rendimento e a viver nas duas grandes cidades portuguesas, o máximo que poderá aspirar é talvez comprar casa, com muito sacrifício para dar entrada e mesmo assim terá de ser pequena e nas áreas menos apetecíveis, talvez possa fazer umas férias fora por ano e uns almoços, ou jantares, baratos, ao fim de semana.
Não vai dar para mais que isso. Esqueça: carros bons, roupa boa, férias muito longas, muito distantes, ou caras, escapadinhas de fim de semana, viagens de sonho, ensino privado, actividades extracurriculares para filhos, casas de férias, passagens de ano em destinos paradisíacos, etc…enfim, com esse valor esqueça basicamente todos os luxos, sonhos, extras ou imprevistos.
Outro factor que faz diferença é se o valor é para uma pessoa só, ou para uma família. Se for para uma pessoa só, o valor será bem melhor mas ainda assim é um valor bastante limitado.
Por Carlos Gomes – Mestrado em Economia, Faculdade De Economia Da Universidade Do Porto (Formou-se em 2010). Seguir