Quem vai à nova passeata do Bolsonaro? Os que ele chamou de malucos? – por Madeleine Lacsko

Madeleine Lacsko sobre os "malucos" do Bolsonaro - foto: recorte/montagem

A política doente que vivemos hoje é fruto disso: carência emocional, déficit educacional, desequilíbrio emocional e a infantilização do debate público


Essa passeata vai lotar. E não porque exista alguma causa nobre sendo defendida, mas porque no Brasil não falta gente com precariedade cognitiva, desequilíbrio emocional e sede de pertencimento.

Vai encher de emocionados. Gente que acredita que está fazendo história quando, na prática, está apenas servindo de escada para o ego de um líder que já os chamou de “malucos” e “incontroláveis”.

Piadinhas com Alexandre de Moraes

O episódio recente com Alexandre de Moraes mostra isso. Bolsonaro fez piadinha, acenou, sorriu. Nenhuma palavra pelos réus do 8 de Janeiro. Nenhuma menção àqueles que foram às ruas em seu nome e hoje estão atrás das grades.

Bastaria ter dito: “Se quer me prender, prenda. Mas solta aquela gente.” Isso teria sido um gesto de liderança. Não fez. Preferiu se poupar. Jogou os seguidores debaixo do ônibus e ainda se aproximou de quem os prendeu.

Fé cega

E mesmo assim, eles continuam. Vão pra rua. Vestem camisa, cantam hino, pedem intervenção, distribuem panfleto. É fé cega. Uma mistura de fanatismo político com carência afetiva, solidão, baixa escolaridade e ausência de estrutura emocional.

Tem gente que transforma o grupo de WhatsApp em lar. Que acha que militância é reencontro de órfãos. Que não estuda política, não sabe como o sistema funciona, mas se alimenta do ódio ao outro lado e da ilusão de que faz parte de algo maior.

Política doente

A política doente que vivemos hoje é fruto disso: carência emocional, déficit educacional e a infantilização do debate público. A pessoa não consegue construir uma amizade real, não sabe lidar com frustração, vive em guerra com o espelho, então canaliza tudo na política. E transforma o político da vez em um ser sagrado, um guia, um pai. E se o pai te chama de maluco, você vai à rua mesmo assim, porque a devoção já virou destino.

Bolsonaro lidera esse movimento não porque tenha um grande projeto. Mas porque é o maior catalisador de afetos desorganizados da política brasileira. E mesmo depois de abandonar seus apoiadores, vai continuar arrastando multidões. Porque no fim, não é sobre ele.

É sobre o vazio de quem o segue.

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