Questão ambiental – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

A comoção mundial provocada pela ocorrência de incêndios florestais na Amazônia, tem provocado uma avalanche de mensagens sobre a destruição de aéreas verdes e de animais afetados pelo fogo nas redes sociais. A discussão sobre a questão ambiental já não se mostra como uma novidade. Está incorporada aos currículos, às ações de ONGs, está presente nos noticiários… mas aparece, na maioria das vezes, como uma proposta “tradicional”, isto é, enfocando apenas as causas ambientais e propondo apenas mudanças culturais.


Precisamos hoje, de uma Educação Ambiental crítica que busque além das raízes, causas e mudanças culturais. A Educação Ambiental hoje deve discutir “ambiente x relações produtivas e mercantis”, buscando a transformação social. Sociedade e cultura não podem se opor à natureza mas, enquanto o homem permanecer como detentor dos direitos sobre os recurso naturais, desmatando, contaminando o ambiente com chumbo, os rios com mercúrio e esgotos, não teremos solução para os problemas ambientais. As raízes da questão ambiental estão longínquas, podemos quiçá relacioná-las com a descoberta do fogo: quando o homem fez sua primeira fogueira estava praticando, seguramente, seu primeiro ato de agressão ao meio ambiente. Mas as causas da crise ambiental tal como ela hoje se apresentam são mais recentes e estão associadas ao ganho de capital, infelizmente ganho de muito poucos em detrimento de uma maioria que de todo o processo só usufrui fumaça, mau cheiro e doenças resultantes da poluição da água, do ar e do solo.

Os segmentos mais marginalizados da sociedade – os trabalhadores pobres, as populações indígenas e negras – são os mais afetados pela crise ambiental, basta observar que lixões e aterros estão sempre próximos às comunidades pobres. O individualismo de uns poucos que se beneficiam da modernidade deve ser substituído pelo coletivismo em prol da natureza. A questão que se coloca então é: como pensar no coletivo sem deixar de “ganhar capital”? A geração de riquezas a partir dos recursos naturais não passa pela luta pelo equilíbrio social e se torna um risco ecológico principalmente para aqueles que vivem à margem dos benefícios, quer em termos locais como globais, repetindo a histórica divisão entre os que podem e os que não podem, entre os que têm e os que não têm.

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Consultor.

A natureza, sem a interferência do homem, se mostra equilibrada e assim também deveria se mostrar a sociedade que dela usufrui. O direito de poluir na maioria das vezes está longe do dever de restaurar o dano causado e resulta que, para benefício de uma minoria, nosso ar, nossos alimentos, nossa água, estão envenenados. Não é de hoje que a matéria está presente nos currículos, mas, os educadores estarão promovendo uma Educação Ambiental que busque uma sociedade ecologicamente sustentável e socialmente justa? Embora sem dados estatísticos concretos, o que se observa é que a Educação Ambiental ainda enfoca mais a natureza e menos a sociedade, dificultando a percepção de que muitos danos e riscos ambientais estão relacionados também à injustiça social. Desde a ECO-92, o movimento ambiental brasileiro, através de diversas ONGs, tem discutido com diversos segmentos da sociedade temas que envolvem justiça ambiental e social, mas a Educação Ambiental necessita ainda da implementação de uma política pública coerente, “crítica” e “transformadora”.

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