
Retrocedendo 53 anos: o governo de João Goulart, em 1964, chegou a um ponto extremo de ruptura tal que poderia ter descambado para uma guerra civil. O extremismo a que se chegou foi contornado por outro: a intervenção militar de 31 de março ou 1º de abril. Pouco importa.
O momento político e institucional, contudo, era outro. O país balançava entre a esquerda radical, que pretendia implantar a ditadura do proletariado (ou uma república sindicalista) padrão soviético; e a sociedade que resistia aos extremismos, ansiosa apenas pelo fortalecimento de nossa democracia, a recuperação da economia e o combate à inflação, que, no acumulado de 1963 alcançara 78,4% e em 1964, 89,9%. Hiperinflação instaurada.


Tinha-se, entretanto, um Congresso predominantemente confiável do ponto de vista cultural e moral. Diferente de hoje, em que no mínimo dois terços de seus integrantes compõem-se de corruptos insaciáveis que conduziram o país à pior crise de nossa história.
Criticado pela esquerda e pela direita, João Goulart pediu o Estado de Sítio, mas desistiu. Em janeiro de 1964, Jango propôs novas leis nacionalistas e reformistas (inclusive a reforma urbana que permitia a desapropriação de imóveis desocupados ou semi-ocupados).
Cem mil pessoas foram ao comício de apoio às reformas, na Central do Brasil. Cinco doas depois, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade respondeu com 300 mil em S. Paulo.
Não houve acordo. E vieram os militares. Com eles uma ditadura de 21 anos motivada principalmente por radicalismos e falta de competência política para costurar acordo social, um pacto de governança e gestão, capaz de conduzir o país à trilha da estabilidade política, econômica e social.
Para chegar a esse pacto, hoje, o país precisa de forças políticas responsáveis e capazes. O que não temos. Não com o Congresso de hoje. Impossível pretender acordo com lideranças partidárias na grande maioria incursas em processos penais na operação Lava Jato.
Que caminho a seguir?
Nos EUA, face à depressão de 1929, a saída encontrada veio por meio de medidas implantadas no governo do presidente democrata Franklin Delano Roosevelt (1933-1945), o New Deal (Pacto Novo, em tradução livre). Como na Espanha de 1977, via Pacto de Moncloa.
No Brasil estamos muito distantes desse tipo de acordo civilizado e pragmático.
Os movimentos levados a efeito em Brasília nesta quarta-feira, 24, não foram de protesto, mas de puro vandalismo. No meio dos atos de selvageria perpetrados estão militantes de CUT, PT, PCdoB, MST, dentre outras vertentes dos movimentos sociais financiados com recursos das frentes sindicalistas e do Fórum de São Paulo, controlado pelo Partido dos Trabalhadores.
Não que as oposições e as siglas vinculadas aos movimentos sociais não tenham direito ao protesto, a se insurgir contra a crise. Tem, evidentemente. Tudo, porém, precisa ser conduzido num nível de respeito às normas democráticas e à ordem pública.
Vandalizar prédios do governo é certamente o último estágio de desagregação social a que estes movimentos pretendem conduzir o Brasil. O patrimônio público, como o privado, tem de ser respeitado. Custe o que custar.
Foi precisamente a intolerância bolivariana que levou os governos Lula e Dilma a sucumbirem a miríades totalitaristas responsáveis pela quebra da economia brasileira. Não se pode, com efeito, estranhar a reação das forças da defesa nacional face a atitudes explicitamente desordeiras e arruaceiras.
Diante desse nítido quadro de instabilidade política, pode-se observar, aqui e ali, cheiro forte de fumaça no ar. Não nos esqueçamos: assim começou 64. Quem viveu a época não esquece jamais.(Osíris Silva é Economista, Consultor e Empresa e Escritor – [email protected])