Ribeirinhos relatam morte de botos e peixes-bois no rio Amazonas

Mortes de Animais em Juruti após dragagem do Rio Amazonas - Divulgação

Moradores de Juruti, no oeste do Pará, estão relatando a morte de diversos animais desde o início da dragagem de um trecho do rio Amazonas pela Alcoa, uma das maiores produtoras de alumínio do mundo. A dragagem, iniciada em 18 de agosto, visa facilitar a navegação de navios carregados com bauxita devido ao baixo nível da água.


Desde o início das operações, ribeirinhos encontraram três peixes-bois, dois botos, além de peixes menores e quelônios mortos. Nadson Mendes Oliveira, coordenador da associação Comunidades Diretamente Impactadas pela Dragagem (CDID), relatou que os animais começaram a aparecer mortos logo após o início da dragagem.


Ribeirinhos ao lado de um dos animais mortos no rio Amazonas – Foto: acervo

O pescador Joílson Batista Régis, surpreso, comentou sobre a inteligência dos botos, que normalmente evitam redes de pesca, mas foram encontrados mortos nas margens do rio.

Fábio Cunha, doutor em Ecologia Aquática e Pesca pela UFPA, questiona se a mortandade não é um fenômeno natural. Ele afirma que mamíferos aquáticos, considerados bioindicadores da integridade ambiental, indicam possíveis alterações severas na paisagem com essas mortes.

Filhote de boto encontrado morto em Juruti – Foto: acervo

Impactos da seca e dragagem na fauna amazônica

A seca histórica de 2023 na Bacia Amazônica e os alertas de 2024 aumentam a preocupação. A dragagem dos rios intensifica a pressão sobre as espécies aquáticas, como explica Vera Silva, pesquisadora do Inpa. A dragagem cria uma “tempestade de areia” subaquática, dificultando a ecolocação dos botos e perturbando sua alimentação e comunicação.

Além disso, a dragagem pode liberar materiais tóxicos, como mercúrio, no ambiente aquático, agravando os impactos. Segundo Vera, “dragar nunca foi algo saudável ou sustentável” e os efeitos sobre os organismos aquáticos são severos.


Além de animais maiores, peixes menores também apareceram sem vida – Foto: acervo

Cunha ressalta a necessidade de cautela em projetos de dragagem, especialmente durante períodos de seca, devido aos impactos ambientais e sociais causados pelas mudanças no regime hidrológico dos rios, exacerbadas pelas mudanças climáticas e pela crescente utilização dos rios para transporte de minérios.

Nota de posicionamento da Alcoa

A Alcoa Juruti destaca que o processo de dragagem passa por uma avaliação criteriosa dos órgãos competentes para garantir que os impactos sobre a fauna são adequadamente gerenciados. Durante todo o período de dragagem, o processo é acompanhado em tempo integral (24 horas/dia) por uma equipe composta por biólogos, veterinários e auxiliares de campo responsáveis pelo afugentamento, monitoramento e resgate de animais em caso de algum incidente.

Importante destacar que existem causas de mortes de animais na área que não têm nenhuma influência da dragagem. Exemplo recente é o caso do boto encontrado no último dia 20 de agosto. Mesmo sendo verificado que o animal estava fora da área de influência da atividade de dragagem, tanto direta como indireta, houve o recolhimento pela equipe de resgate a fim de identificar a causa da morte. O laudo técnico final emitido pelo CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres da Alcoa) concluiu que a causa da morte foi uma obstrução intestinal com óbito datado de data anterior ao início da dragagem. O animal apresentava sinais de escoriações na região dorsal próxima à cabeça e marcas de redes de pesca. As evidências encontradas na análise da carcaça indicam que o animal esteve preso na rede de pesca ao buscar se alimentar de peixes, que estavam sendo atraídos por grande quantidade de milho utilizado como isca.

Alcoa Juruti reforça seu comprometimento com a relação de transparência com a região e lembra que todos os integrantes das comunidades envolvidas são convidados a acompanhar diariamente o processo.

Fonte: Conexão Planeta

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