Rio Negro: o Rio Vermelho! Segundo Galvão Bueno – Por: José Ribamar Mitoso

Professor Josè Ribamar Mitoso
Professor Josè Ribamar Mitoso
Professor Josè Ribamar Mitoso

Eu sei muito bem o que é isto. Estava ali, na nossa cara, e todos nós, Amazônidas, chamando o boto vermelho de boto vermelho. Mas não. Foi preciso um cientista francês provar para nós que o boto vermelho é cor de rosa para percebermos o erro óptico.
A luminosidade da Linha do Equador ofusca o olhar. Não aprendemos a nos ver. Nosso olhar é importado! Não lemos O Vermelho e O Negro, de Stendhal… Nem aprendemos a cor do mito! E nem a lição… Le Rouge Et Le Noir! E vumbora… Mas tudo bem.
Jacques Cousteau é um cientista, francês. Veio bisbilhotar. Concordo. Mapear nossa biodiversidade é verdade. Mas na época não tínhamos o SIVAM, nem o CIOPS, da PM, para vigiá-lo passo a passo. Pelo contrário. Vigiaram os cientistas brasileiros que queriam vigiá-lo. Protegeram a rapina imperialista. Não temos amor próprio. Perdemos a soberania sobre nosso patrimônio natural. Demos tudo de lambuja. Gostamos dos nossos donos. Especialmente daqueles travestidos de realismo fantástico.


Jacques Cousteau é biólogo, Francês, com publicações de pesquisas feitas nos oceanos e Amazônia.
Jacques Cousteau é biólogo, Francês, com publicações de pesquisas feitas nos oceanos e Amazônia.

A indústria farmacêutica e a indústria de química fina agradeceram… “Não temos raposa mas temos o galinheiro:” equipamentos optrônicos americanos vigiando a Amazônia para nós. Temos problemas ópticos.
Costeau provou isto. Então, neste caso, é melhor usar o olho do imperialismo. Ele não tem problema de visão. A hipocrisia acusa os pobres com voz grossa e bajula as corporações com voz fina. Deus é justo! Ao contrário do dedão… Porém, uma coisa é Jacques Cousteau dizer que nosso boto vermelho é cor de rosa. Outra coisa muito diferente é o Galvão Bueno, cronista esportivo como meu finado pai, dizer que a cor da água do Rio Negro é vermelha.

O boto-cor-de-rosa é uma das espécies-símbolo da Amazônica.
O Boto-Cor-de-Rosa é uma das espécies-símbolo da Amazônica.

Peralá! Pode isto, Arnaldo? Eu posso dizer que o Rio Negro é vermelho? – Pode não, Galvão! Este erro que você cometeu foi cometido, ainda no século XVIII, pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira. Um brasileiro do Brasil de baixo querendo dar lição de especulação para a população do Brasil de cima. Ele disse que a cor do Rio Negro era âmbar, resultado da dissolução de betume, presente nos vários afloramentos de rocha no leito deste rio de água preta.
Alexandre se referia à resíduos de ferro, frequentes em áreas rochosas, mas que não estão relacionados com betumes. Depois ele mudou de opinião, Galvão, e atribuiu a cor “âmbar” da água à presença de xisto mineralizado e à vegetação rica em ferro. Apenas em 1980, Galvão, um químico americano, que tem boa visão, descobriu que a cor preta da água do Rio Negro é resultante de um processo de escoamento lateral da água que, ao retornar, carrega consigo grande quantidade de ácidos orgânicos provenientes da decomposição de restos vegetais de solos arenosos do alto e do médio Rio Negro. Entendeu, Galvão? – Entendi, Arnaldo. Então não pode… Eu não posso dizer que a água do Rio Negro é vermelha. – Exatamente, Galvão.
A água do Rio Negro é negra… – Você está me desmentindo, Arnaldo? Posso pedir a comprovação do olho eletrônico? – Galvão, poder pode. Mas tem que pedir para a empresa americana que criou o equipamento optrônico que vigia a Amazônia para nós, Galvão.
– Então, deixa, Arnaldo! – Ok, Galvão! – No intervalo nós conversamos… – Beleza, Galvão. O boto é vermelho e o Rio Negro é negro. Stendhal não olhou para o boto, nem para o rio. Talvez não tivesse assessoria optrônica. O olhar importado nos diverte. Não há intimidação explícita ou velada que nos castre o riso. O riso é a prova dos nove, acertou Oswald. Ele evita o suicídio…Cultural, quero dizer! O executivo das corporações transnacionais não ri! Nós rimos e não entramos na energia dele! Nosso entretenimento não é dos assassinos! Não dialogamos com o mau-humor, nem em imaginação. Nosso olhar é nativo! Não importamos das transnacionais da morte a nossa dignidade! Nosso rio é negro, Galvão!

*José Ribamar Mitoso é: Escritor, Dramaturgo e Professor da UFAM, todos os Domingos no www.correiodaamazonia.com.br

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