Risco psicossocial é risco real: o papel das lideranças na promoção da saúde mental – por Luanna Cunha

Luanna Cunha é Psicóloga Clínica e Organizacional - Foto: Divulgação

Durante anos, falar sobre saúde mental no ambiente de trabalho era quase um tabu. Limitado a campanhas pontuais, mensagens institucionais e rodas de conversa pouco efetivas. Felizmente, esse cenário vem mudando — mas ainda devagar demais.


O que muitos líderes ainda não entenderam é que riscos psicossociais não são “questões pessoais” dos colaboradores. São riscos ocupacionais reais — e como tais, devem ser reconhecidos, prevenidos e gerenciados.

Quando não o são, o resultado é claro: ambientes adoecidos, equipes desmotivadas e produtividade insustentável.

O que define um risco psicossocial?

De acordo com a OIT (Organização Internacional do Trabalho), riscos psicossociais envolvem:

Carga de trabalho excessiva ou mal distribuída
Ambiguidade de papéis
Falta de controle sobre a própria rotina
Clima de pressão constante
Relações interpessoais hostis
Ausência de reconhecimento ou escuta ativa

E agora, com a atualização da NR-01, esses fatores passaram a compor oficialmente o mapa de riscos das organizações. Ou seja: não são mais “intangíveis” — são passíveis de ação e responsabilidade.

O papel da liderança vai além de bater metas

Liderar, hoje, é ser guardião da saúde do time. É entender que clima, cultura e cuidado não são “extras” — são essenciais.

Pesquisas da Gallup mostram que 70% da variação no engajamento de uma equipe está diretamente relacionada ao comportamento da liderança. E mais: líderes emocionalmente disponíveis contribuem para a redução de afastamentos por questões mentais e aumentam o senso de pertencimento no time.

Liderança emocionalmente saudável não significa ser terapeuta da equipe, mas sim:

Validar sentimentos sem julgamento
Reconhecer sinais de esgotamento e agir preventivamente
Estimular pausas, autocuidado e limites
Promover uma cultura de diálogo aberto e respeito mútuo
Um olhar atento às vivências femininas

Mulheres em ambientes corporativos ainda enfrentam mais desafios: são interrompidas com mais frequência, recebem menos reconhecimento por ideias e acumulam funções emocionais invisíveis (como gestão de conflitos interpessoais ou acolhimento de colegas).

Líderes atentos são capazes de identificar essas dinâmicas e intervir de forma justa e estratégica — promovendo equidade e prevenindo o adoecimento silencioso.

O que a prática mostra

Nos projetos organizacionais que acompanho, o impacto da liderança é visível:
Equipes com líderes empáticos adoecem menos.
Times que se sentem ouvidos entregam mais e melhor.
Ambientes emocionalmente seguros retêm talentos e atraem profissionais comprometidos.
Ao contrário do que muitos pensam, não é o excesso de cobrança que gera alta performance. É o equilíbrio entre desafio e suporte.

Por onde começar?

Formação contínua em habilidades socioemocionais para líderes
Criação de canais reais de escuta e feedback
Revisão de metas, rituais e indicadores com olhar humanizado
Apoio à saúde mental como política, e não só como ação pontual

Reflexão final:

Se risco psicossocial é risco real, a liderança não pode mais se isentar. Cuidar das pessoas é cuidar dos resultados — e isso começa por quem guia o caminho. Que tipo de ambiente você está ajudando a construir?

Luanna Cunha é Psicóloga Clínica e Organizacional

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