RO: Empresa que teria incinerado bebê seguiu contrato, diz hospital

Hospital de Base onde bebê foi visto pela última vez/Foto: Decon(RO)
Hospital de Base onde bebê foi visto pela última vez/Foto: Decon(RO)
Hospital de Base onde bebê foi visto pela última vez/Foto: Decon(RO)

O diretor do Hospital de Base Doutor Ary Pinheiro (HB), em Porto Velho, declarou que a empresa terceirizada Amazon Fort não seguiu os protocolos do contrato de serviço, quando coletou o corpo do recém-nascido Nicolas Naitz e o incinerou por engano, conforme concluiu a Polícia Civil. O delegado responsável pelo caso, Jeremias Mendes, deve entregar o inquérito fechado ao Ministério Público do Estado de Rondônia (MP/RO) na próxima segunda-feira (8).

Em depoimento prestado ao delegado nesta quinta-feira (4), o diretor do HB, Nilson Cordeiro Paniágua, declarou que o hospital possui dois funcionários responsáveis pelo setor de óbito e uma assistente social que autoriza a retirada de todo material para ser incinerado, com documentação assinada pelos responsáveis do corpo, como os pais ou outros familiares. Já a logística de retirada de material, com o descarte de restos de corpo humano, é de responsabilidade da empresa terceirizada, segundo o diretor. “Não houve o conhecimento da assistente social sobre a retirada desse corpo. Seguindo os procedimentos, esse bebê entrou e não saiu do hospital, não existe o documento com autorização dos pais”, disse Nilson.


“O diretor argumentou e se defendeu com esse argumento, afirmando que o hospital seguiu os protocolos e ampresa não cumpriu com os procedimentos adequados”, disse o delegado, informando que o documento será anexado aos autos do inquérito.

Na terça-feira (2), três empregados da empresa Amazon Fort foram ouvidos como novas testemunhas do caso. Um funcionário confirmou ter visto o corpo do bebê separado para ser incinerado. O delegado informou que os novos depoimentos não interferem na conclusão das investigações e o inquérito com essas declarações será entregue ao MP na segunda-feira.

O G1 procurou a Amazon Fort, mas nenhum responsável pela empresa atendeu a reportagem até a publicação desta matéria.

Entenda o caso

Os pais de Nicolas moram em Cujubim, distante 224 quilômetros da capital do estado. Em 22 de maio deste ano, no hospital do município, os médicos recomendaram a transferência para Porto Velho. Na viagem, a ambulância teve que parar em Candeias do Jamari, porque a mãe, Marcieli Naitz, estava em trabalho de parto avançado. O nascimento ocorreu no hospital da cidade, e, de lá, a mãe e a criança foram encaminhadas para Porto Velho. Marcieli foi direto para o Hospital de Base e Nicolas foi transferido para a UTI neonatal da maternidade Regina Pacis, onde faleceu.

A família foi informada de que o corpo deveria ser levado para o HB, já que a maternidade não possui câmara fria. A avó do recém-nascido acompanhou o trajeto na ambulância, mas diz não ter sido autorizada a conferir o que estava dentro do lençol que envolvia o corpo. No dia seguinte, quando a mãe de Nicolas teve alta e foi buscar o bebê, juntamente com funcionário da funerária contratada pela família, foi informada de que não havia sido registrada a entrada de qualquer corpo de criança no necrotério do hospital.

Investigações

Após seis meses de investigação, a Polícia Civil concluiu que o cadáver do recém-nascido foi incinerado por engano. Foi apurado que um funcionário da empresa Amazon Fort, responsável pela coleta dos materiais, como restos mortais e lixo hospitalar, e pelo incinerador do Hospital de Base, localizado na BR-364, levou equivocadamente o corpo de Nicolas para a incineração. Na empresa, outros empregados notaram um corpo no meio do lixo hospitalar a ser incinerado, mas receberam ordens para não mexer no material e o cadáver acabou sendo incinerado.

O sumiço do bebê foi comunicado à direção do Hospital de Base e à polícia em 23 de maio. No mesmo dia, a Amazon Fort foi comunicada pelo HB para não incinerar o material coletado na data anterior. No entanto, um funcionário informou que a incineração já havia sido realizada. Policiais foram até a empresa e perguntaram sobre o corpo, mas os empregados negaram a entrada de qualquer cadáver de criança no local.

A polícia informou que serão indiciados dois funcionários da Amazon Fort. A empresa refuta a conclusão sobre o caso sob a alegação de que o empregado apenas recolheu o material autorizado que estava fora da câmara fria do necrotério e que, na data do desaparecimento do recém-nascido, o único resto mortal retirado do hospital foi um membro amputado. A Amazon Fort questiona ainda as informações de que funcionários viram o corpo no incinerador e que foram impedidos de mexer no equipamento e informou que irá prestar o atendimento judicial necessário a seus colaboradores.

Família contesta inquérito

Marcieli Naitz, mãe do recém-nascido Nicolas Naitz, informou que pedirá a reabertura do inquérito sobre o caso. A família também julgou insatisfatória a conclusão das investigações e diz que muitas perguntas sobre o desaparecimento do bebê ainda não foram respondidas. O advogado da família preparou um relatório para apresentar ao MP. “Existem muitas contradições por parte da polícia, cadê os restos mortais? Essa história de que foram levados para Minas Gerais [onde fica o aterro da Amazon Fort] foi criada para encerrar logo o caso, porque não tinham provas concretas”, disse a mãe.

Outro questionamento é sobre a suspeita de que a criança teria desaparecido ainda viva e teria sido vítima de tráfico de pessoas, que foi descartada pela polícia ao longo das investigações.(G1)

Artigo anteriorDorival Junior deve deixar o Palmeiras, que quer Mano Menezes
Próximo artigoUEA realiza eleição para diretores de unidades acadêmicas da capital e interior

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui