Sabores e saberes de nossa comida

Luiz Lauschner Escritor e empresário

Já se passaram mais de 500 anos desde que os espanhóis levaram as batatas do Peru para a Europa e lá as reproduziram. Muitas vezes comemos a chamada “batata portuguesa”, como é chamada no norte, ou “batata inglesa” no resto do Brasil sem sequer nos questionarmos sobre sua origem. Tratar assim um tubérculo, entre milhares que existem no país vizinho, é uma dupla injustiça. Primeiro porque a origem da batata é andina e em segundo lugar, difundiu-se na Europa há mais de 250 anos, graças a um decreto do rei da Prússia (hoje Alemanha) Frederico, O Grande que obrigou a todos os agricultores a plantar batata como imposição de Estado. Talvez tenha surgido dali a expressão “vá plantar batata”. O decreto do ditador prussiano teve como motivo o curto ciclo entre o plantio e a colheita e o alto teor calórico do tubérculo que ajudou a alimentar o povo.


Estima-se que a batata seja o segundo produto agrícola mais consumido no mundo, depois do trigo. Frita, assada, cozida, em forma de purê, em alguns pães e até como sobremesa ela está presente na culinária de qualquer país. Sem contarmos que alguns fazem dela bebidas destiladas, como a Vodca. Embora tenhamos um grande consumo de arroz, feijão no Brasil, se computarmos o mundo todo, os nossos grãos preferidos perdem para os tubérculos. É, de longe, a biopirataria iniciada pelos invasores que mais rendeu no mundo. Aliás, no mundo todo, Brasil no meio, há um empenho muito grande em sempre se produzir novas variedades. A Europa tem mais de 150. É um alto número, mas jamais poderá alcançar o criatório original que é o Peru, com suas incríveis 4.235 variedades de todas as cores e sabores.

Contudo, em se tratando de comida, a “biopirataria” não é uma estrada de uma via só. As excelentes uvas produzidas no Chile e no Peru, originárias do oriente médio, também servem para serem destiladas e fornecerem a aguardente pisco que os peruanos consomem muito. Em outras palavras: os seres humanos não são tão diferentes dos outros animais que comem para terem energia e assim poderem procurar mais comida. E vão cada vez mais longe em busca de iguarias. Os italianos aprenderam a fazer molhos de tomate especialíssimos, provavelmente desconhecidos dos Astecas que lhes forneceram a primeira matéria prima. Quem descasca cebola, com lágrimas nos olhos, não imagina que ela tenha um parentesco próximo com o belo lírio.

A América foi invadida com a desculpa de catequisar os nativos, mas a ganância por ouro era o motivo principal. Possivelmente os navegadores não imaginavam que os alimentos um dia fossem trazer tantas riquezas quanto o minério. Ainda que a América não seja a origem de muitos alimentos aqui produzidos, mas seu clima e a vasta área para o plantio, modificaram hábitos no mundo todo. Além da batata, o tomate, o chocolate, o café e outros, recentemente o mundo está descobrindo frutas tropicais amazônicas que em pouco tempo serão obrigatórios em cardápios sofisticados. O alimento é uma riqueza maior porque, diferente de uma joia cara, que fica guardada escondida por anos, este precisa ser consumido diariamente.

Saber a origem dos nossos alimentos pode não mudar em nada seu valor nutritivo nem no seu sabor, mas faz bem para o ego ter a certeza que contribuímos muito para diminuir a fome no mundo.

 

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