Semanário satírico “Charlie Hebdo” esgotado em toda a França

Tiragem vai ser aumentada de três para cinco milhões.
Tiragem vai ser aumentada de três para cinco milhões.
Tiragem vai ser aumentada de três para cinco milhões.

Uma semana depois do atentado sobre a sua redacção, nunca o Charlie Hebdo esteve tão vivo. Em poucas horas os 27 mil pontos de venda em França ficaram sem qualquer exemplar do jornal satírico. A forte procura levou o distribuidor a aumentar a tiragem para cinco milhões de exemplares.
A edição número 1179 do Charlie Hebdo chegou às bancas esta quarta-feira, precisamente uma semana depois do ataque de dois fundamentalistas islamitas que matou 9 membros da redacção. Tudo nesta edição é histórico e são muitos os franceses que querem guardar o jornal.
Pelas 8 horas (7h em Portugal continental) já eram várias as bancas sem exemplares para decepção de muitos clientes, como constataram os jornalistas da AFP e do Le Figaro. Na estação de Auber, no centro de Paris, o Charlie Hebdo aguentou dez minutos no quiosque de Sarah. “Talvez amanhã…”, lê-se num cartaz afixado.
Num quiosque em frente à estação às 6h35 ainda não tinha chegado nenhum dos 75 exemplares, mas o vendedor não estava preocupado. De qualquer forma seriam poucos os que poderia vender esta manhã. “As pessoas reservaram o seu número com antecedência, tenho 70 encomendas”, explicou ao Le Monde.
Foram impressos três milhões de exemplares do Charlie Hebdo, mas independentemente das quantidades presentes nos quiosques franceses, a resposta parece ser sempre a mesma. “É incrível, tinha uma fila de 60, 70 pessoas à frente da loja quando abri. Nunca vi algo assim, os meus 450 exemplares esgotaram-se em 15 minutos”, contou à AFP uma vendedora.
A procura sem precedentes levou a distribuidora a anunciar esta manhã que vão ser impressos mais dois milhões de exemplares.
A capa do semanário foi revelada no início da semana. Uma caricatura do profeta Maomé, sobre fundo verde, com uma lágrima no olho e a segurar um cartaz com o lema das manifestações de solidariedade para com o jornal – “Je suis Charlie”. Em cima pode ler-se “Tudo está perdoado”.
O profeta do Islão é caricaturado apenas na capa, mas no interior da edição há vários desenhos de extremistas. Num dos cartoons, dois terroristas chegam ao paraíso e perguntam pelas 70 virgens, enquanto os cartoonistas mortos do jornal se envolvem numa orgia, descreve o correspondente da BBC em Paris, Hugh Schofield.
O editorial refere a onda de solidariedade que se formou um pouco por todo o mundo após os ataques, mas há igualmente uma condenação das posições que criticavam a postura do jornal que, por criticar o Islão, estaria a desafiar as reacções mais extremas.
A edição especial irá contar apenas com oito páginas – em vez das 16 normais – e é distribuída em 25 países, incluindo Portugal, e traduzida em seis línguas, incluindo árabe e turco. Na Turquia um jornal da oposição ao Presidente, Recep Tayyip Erdogan, publicou quatro páginas da edição do semanário francês. Antes, a polícia realizou buscas na redacção do Cumhuriyet para tentar travar a distribuição do jornal. A publicação acabou por sair para as bancas, depois das garantias dadas de que a caricatura de Maomé não seria incluída, segundo o site do jornal Hurriyet.
De acordo com a AFP, o Cumhuriyet foi o único jornal de um país muçulmano a publicar algum conteúdo do Charlie Hebdo.
A continuação da publicação de caricaturas do profeta foi criticada por alguns sectores muçulmanos. “Não é nem razoável, nem lógico, nem sábio publicar os desenhos e os filmes que ofendem o profeta ou ataquem o Islão”, afirmou o líder da União Mundial dos Ulemas Muçulmanos, Youssef al-Qaradoui, através de um comunicado.
O Irão considerou a caricatura de Maomé um “gesto insultuoso” e alertou para a entrada “num círculo vicioso de violência”. “Condenamos o terrorismo em todo o mundo (…) mas ao mesmo tempo também condenamos este gesto insultuoso do semanário”, disse o porta-voz da diplomacia iraniana, Marzieh Afkham. Na sequência dos ataques, o Presidente, Hassan Rohani, condenou “a violência e o terrorismo” e mostrou-se receoso perante o início de uma vaga de “islamofobia” no Ocidente.
(AFP)


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