Servidores da Anvisa repudiam ameaça de Bolsonaro: “Método fascista”

Foto: Reprodução

A Associação dos Servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Univisa) divulgou, nesta sexta-feira (17/12), uma nota de repúdio às tentativas de intimidação aos servidores do órgão federal após a aprovação da vacina contra a Covid para crianças de 5 a 11 anos de idade.


Na noite de quinta-feira (16/12), horas após a Anvisa liberar a vacinação em crianças, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que pediria, extraoficialmente, os nomes dos servidores que participaram da decisão.

O presidente também afirmou que gostaria de divulgar a identidade dos servidores participantes do processo de análise.

“A Anvisa não está subordinada a mim – deixar bem claro isso. Não interfiro lá. Eu pedi, extraoficialmente, o nome das pessoas que aprovaram a vacina para crianças a partir de 5 anos. Nós queremos divulgar o nome dessas pessoas para que todo mundo tome conhecimento de quem são essas pessoas e, obviamente, formem o seu juízo”, discursou Bolsonaro.

Em nota, a Univisa afirmou que a intenção de divulgar a identidade dos envolvidos na análise técnica “não traz consigo qualquer interesse republicano”. Os servidores acusaram o presidente Bolsonaro de praticar retaliação e defendem que a publicação de dados pessoais pode colocar em risco a “vida e a integridade física” dos trabalhadores.

“[A fala de Bolsonaro] mostra-se como ameaça de retaliação que, não encontrando meios institucionais para fazê-lo, vale-se da incitação ao cidadão, método abertamente fascista e cujos resultados podem ser trágicos e violentos, colocando em risco a vida e a integridade física de servidores da agência. Uma atitude que demonstra desprezo pelos princípios constitucionais da Administração Pública, pelas decisões técnicas da agência e pela vida dos seus servidores”, divulgou a organização, em publicação nas redes sociais.

Ameaças

A Univisa lembrou as ameaças de morte sofridas pelos cinco diretores da autarquia no final de outubro. Investigações preliminares apontam que grupos antivacina enviaram mensagens por e-mail aos servidores, exigindo que a vacinação de crianças contra a Covid-19 fosse rejeitada.

“Tendo como pano de fundo um discurso negacionista e anticientífico – antagônico à boa técnica e às boas práticas regulatórias – servidores públicos foram ameaçados pelo regular exercício do seu dever funcional. Algo extremamente incompatível com o regime democrático e que deveria inspirar a máxima atenção das autoridades competentes”, divulgou a Univisa.

Por fim, a associação se solidarizou com os servidores que trabalharam em ações ligadas à pandemia de Covid-19. “A associação se solidariza com aquelas e aqueles que, extenuados pela carga de trabalho imposta pela pandemia, veem-se ainda perturbados e constrangidos por ameaças”, concluiu.

Leia a nota na íntegra:

Diante da aprovação do uso da vacina Comirnaty (Pfizer) para imunização contra Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos de idade, a Univisa vem a público para, mais uma vez, reconhecer o trabalho técnico e incansável realizado pelo corpo de servidores da agência. Ressalte-se a celeridade na tramitação e o rigor técnico da análise que, além dos especialistas em regulação e vigilância sanitária da Anvisa, contou com a participação especialistas da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Recentemente, com os rumores de possível decisão nesse teor, diretores e servidores da Anvisa sofreram ameaças. Tendo como pano de fundo um discurso negacionista e anticientífico – antagônico à boa técnica e às boas práticas regulatórias – servidores públicos foram ameaçados pelo regular exercício do seu dever funcional. Algo extremamente incompatível com o regime democrático e que deveria inspirar a máxima atenção das autoridades competentes.

Nesse contexto, a intenção de se divulgar a identidade dos envolvidos na análise técnica não traz consigo qualquer interesse republicano. Antes, mostra-se como ameaça de retaliação que, não encontrando meios institucionais para fazê-lo, vale-se da incitação ao cidadão, método abertamente fascista e cujos resultados podem ser trágicos e violentos, colocando em risco a vida e a integridade física de servidores da Agência. Uma atitude que demonstra desprezo pelos princípios constitucionais da Administração Pública, pelas decisões técnicas da agência e pela vida dos seus servidores.

A Univisa repudia qualquer ameaça proferida contra o corpo técnico da Anvisa, bem como a quaisquer tentativas de intervenção sobre o posicionamento da autoridade sanitária que não advenham do debate estritamente científico e democrático. Além disso, a Associação se solidariza com aquelas e aqueles que, extenuados pela carga de trabalho imposta pela pandemia, veem-se ainda perturbados e constrangidos por ameaças.

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