Sociedade alienada – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Costumo repetir que, civicamente, somos uma sociedade alienada. Em média, não costumo encontrar pessoas, mesmo entre os bons amigos com que convivo, que, além de conhecerem seus direitos de cidadãos, preocupam-se com a melhoria da realidade institucional do País. Vivem a criticar a conjuntura socioeconômica, veem a continuidade das crises, sofrem as consequências, mas não reservam o menor tempo na consideração de suas origens.


Se existem fatores conjunturais a fomenta-las. Ficou fácil botar a culpar nos políticos e nos responsáveis pela administração, dificultando a formação de ânimo para as soluções inovadoras; fertilizantes. Para que perder tempo pensando em opções institucionais se as respectivas dinâmicas ficam sempre nas mãos de políticos, que não prestam? Acredito que esse raciocínio equivocado povoa a inteligência de muita gente; da maioria mesmo. Só não consigo entender o motivo pelo qual não se questiona o fato e não ocorrer melhoria com o rodízio de políticos no comando da máquina administrativa, quando se sabe que a maioria deles goza de bom conceito no exercício de outras atividades. Entendo que essa circunstância sozinha já deveria ser suficiente para induzir os questionamentos que vivo a fazer.

Não ignoro que o universo da vida pública brasileira enfrenta longa entressafra de estadistas, sobretudo na órbita do Legislativo. Certamente, pelo que se ouve e se lê, inúmeros parlamentares não são sacerdotes do interesse comum, como deveriam ser, mas aproveitadores de oportunidades, espécie de erva daninha no canteiro da vida pública. Mas o número de espíritos bem formados, patriotas, com vocação para a defesa do interesse social, dentro do Congresso Nacional, não é nada desprezível. É bem maior do que se pensa. Só que terminam condenados ao imobilismo pela mecânica inibidora, deformada, da realidade institucional do Brasil.

Para piorar, no centro desse aumento de luz, a imprensa, que é a matriz geradora dos sinais de orientação nas sociedades democráticas, também anda a padecer no País de insuficiência de visão. Em razão de uma patologia menor, fácil de ser vencida até pelos anticorpos naturais do seu organismo de vocação norteadora da melhor consciência social, anda dando prioridade de espaço apenas aos assuntos de evidência ostensiva, às matérias tendentes a sensibilizar o sensacionalismo, às críticas menores da intriga.

Essas últimas típicas do mau jornalismo, de profissionais que procuram crescer aproveitando-se da indignação de um povo sofrido, sem nenhum respeito à ordem ética. Em consequência, a mídia costuma ignorar fatos importantes para o interesse comum, que não ecoam no vácuo da ignorância, deixando de cumprir o dever de orientar.

A propósito, o Judiciário acaba de dar um exemplo de como fazer ativismo judicial. Um Ministro amigo do deputado Silas Câmara, pediu vista para que seu processo já rolando há dez anos, prescrevesse. No penúltimo dia, outro Ministro, achando que poderia melhorar a situação, quebra uma regra de que um processo em julgamento não pode ter multa arbitrada, mas foi o que fez o Ministro Barroso, tornando o réu sem nenhum problema com a justiça pagando uma multa por ter se apropriado do dinheiro de seus funcionários.

A imprensa deixou o fato passar em branco, a não ser uma noticia aqui e ali, mas sem ter a ênfase necessária para que houvesse uma desalienação do povo, senão no momento, mas não elegendo o Deputado nem para Sindico de seu prédio, pois poderia se apropriar dos salários dos seus pobres funcionários. É uma vergonha para o país.

Artigo anteriorPrefeito entrega ‘Presépio Flutuante’ para atender 38 comunidades ribeirinhas
Próximo artigoO Encanto do Natal estreia neste domingo no palco do Teatro Amazonas

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui