“Somos Todos Brasil” (Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)

Com o slogan aí de cima, o governo federal pretende gastar a bagatela de R$ 56 milhões com publicidade, ainda neste finalzinho de ano, em ação preparatória para a divulgação das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Trata-se de uma primeira fase da campanha, pasmem os leitores, dentre outras que virão ainda mais dispendiosas. Prevista a divulgação no rádio, televisão e internet, excluídos os jornais impressos, sustentará a necessidade de superação da crise econômica e defenderá a união do país em torno dos jogos.
A Olimpíada servirá apenas de pretexto. Na verdade, o que o governo quer é divulgar o que chama de agenda positiva, em meio à ameaça de impeachment de Dilma Rousseff, dia a dia mais distante, em função do toma lá dá cá em curso no Congresso Nacional, montado pelo governo e pelo PT. Mesmo assim, só não se sabe como, com o país no fundo do poço e uma brutal crise de credibilidade da presidente, em quem ninguém aposta sequer um tostão de mel coado. De mais a mais, as nuvens continuam escuras, prenúncio de tempestades ainda bem maiores no horizonte da economia e da política .


É mais dinheiro jogado pelo ralo da incúria, independente da ilegalidade visceral que caracteriza a publicidade oficial no Brasil. Os governos, em todas as esferas da Federação, fraudam o texto constitucional, que exige tenha a publicidade de atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos, caráter educativo, informativo ou de orientação social. Em muitos casos, no Brasil profundo, não se respeita nem ao menos a proibição de que nelas constem nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de eventuais detentores do poder. Há municíp ios que alegam discriminação política e partidária, no enfrentamento de dificuldades desde sempre previsíveis, mas seus dirigentes não se pejam de gastar somas fantásticas em publicidade, com base em discurso que nem sempre traduz a verdade de suas administrações. Mais grave, em detrimento de urgências sociais inadiáveis, em saúde, educação, saneamento básico e mobilidade urbana, especialmente em bairros periféricos e problemáticos. Como forma de burlar as vedações da Carta da República, em termos locais ou nacionais, tem-se nas peças de propaganda mensagens subliminares com o propósito de promover o gestor que contrata os serviços e paga a conta milionária.

Quem hoje, por exemplo, não identifica a presença da presidente Dilma Rousseff nas campanhas publicitárias do governo federal – “Brasil, um País de Todos”, exatamente como sempre ocorreu no passado em relação ao mandatário de plantão. Na requisição de redes nacionais de rádio e televisão, em horário nobre, a situação torna-se bem mais escandalosa. Convoca-se a transmissão obrigatória sem maiores justificativas ou sem nenhum sentido, a qualquer momento, tão somente como meio de divulgação pessoal do governante, tudo custeado a peso de ouro pelo depauperado contribuinte brasileiro. Por isso mesmo, sempre defendi a proibição pura e simples da publicidade oficial em cadeias privadas, passando a comunicação governamental a ser divulgada exclusivamente pela rede pública de rádio, televisão e diários oficiais.

Na Copa do Mundo de 2014, que deixou como legado uma dívida vultosa para os Estados que construíram as tais arenas de futebol – elefantes brancos ainda vazios, o governo esbanjou em publicidade. O discurso ufanista, levado às últimas consequências, também fundado em propaganda enganosa, ao anunciar que os grandes investimentos seriam feitos pela iniciativa privada, fazia crer que conquistaríamos o caneco. O dinheiro não chegou nunca e o erário foi obrigado a assumir as responsabilidades. Pior, deu no que deu, perdemos a taça e amargamos o vergonhoso 7 a 1 no confronto com a Alemanha, um placar humilhante para a hist&oac ute;ria, do qual jamais nos livraremos. A dinheirama gasta lá atrás, pela incompetência e pela esbórnia lulopetista, em prejuízo de programas de reconhecida prioridade, fazem agora mais falta do que nunca, no quadro atual de profunda depressão da economia, inflação crescente e incontrolável, bolsa em queda, dólar em alta e juros estratosféricos.

Se no futebol, no “País do futebol”, não tivemos a menor chance, não custa imaginar o que acontecerá nas Olimpíadas, uma ou outra rara oportunidade de vitória. O resto, o legado, que legado?(Paulo Figueiredo – Advogado, escritor e comentarista político [email protected])

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