
Entre 2013 e 2023, o Brasil registrou 51.608 mortes com indícios de homicídio que foram classificadas como de causa indeterminada pelo Ministério da Saúde. Esses casos são chamados de homicídios ocultos pelo Atlas da Violência, estudo do Ipea e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Essas mortes, embora apresentem características típicas de assassinatos, como uso de arma de fogo e vítimas jovens, negras e de baixa escolaridade, acabam registradas como “causa indeterminada” no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).
Para identificá-las, o Ipea analisou milhões de registros desde 1996, cruzando dados como local, instrumento da morte, idade e perfil da vítima. O estudo estima que 38% das 135 mil mortes violentas sem causa definida no período são homicídios ocultos — uma média de 4.692 por ano.
O número total supera os homicídios registrados em 2023 e equivale, segundo os autores, à queda de 100 aviões lotados. Os estados de SP, RJ, MG e BA concentram 66% dos casos. Em São Paulo, foram 2.277 registros só em 2023 — 60% do total nacional.
Desde 2018, uma portaria determina que mortes com indícios de crime devem ser registradas como homicídio, mas a falta de padronização entre os estados dificulta a aplicação. A inclusão dos homicídios ocultos elevaria a taxa de homicídios de SP de 6,4 para 11,2 por 100 mil habitantes, tirando o estado da posição de menos violento do país.
O Espírito Santo é um exemplo positivo, reduzindo seus casos de 205 em 2022 para apenas 7 em 2023, após integração entre órgãos públicos. Apesar dos números ocultos, o Brasil registrou sua menor taxa de homicídios em 11 anos: 23 por 100 mil habitantes.
Fonte: Folha de S. Paulo