Suspeito de desviar cilindros de oxigênio na pandemia é preso em Manaus

Foto: Reprodução

Um homem foi preso nesta semana, em Manaus, depois que a polícia descobriu um esquema de roubo de cilindros de oxigênio. Em janeiro, no auge da crise da saúde no Amazonas, o suspeito se tornou voluntário de uma ONG que transportava para os hospitais os cilindros doados para o Estado. Segundo as investigações, João Victor Araújo da Silva entrou na SOS Amazonas não para ajudar, mas para furtar os cilindros de oxigênio.


Para entender a gravidade do crime, é necessário relembrar momentos dramáticos. Nos primeiros meses desse ano, o oxigênio acabou nos principais hospitais de Manaus que recebiam pacientes graves de todo o estado.

O sistema de saúde do Amazonas entrou em colapso. Pessoas morreram à espera de um leito, às vezes, dentro de ambulâncias. O país inteiro se mobilizou para ajudar. E o Estado começou a receber doações de cilindros de oxigênio.

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O advogado e voluntário da SOS Amazonas, Wiston Feitoza de Souza, disse que João fingia ser policial. “Ele agia como se fosse policial. Nos fazia acreditar que era”.

“Ele se infiltrou em uma organização sem fins lucrativos. E lá de dentro começou a desviar oxigênio e revender a preços superfaturados, lucrando com a desgraça dos outros, com a necessidade dos outros de consumir oxigênio”, explicou a delegada-geral da Polícia Civil do Amazonas, Emília Ferraz.

As doações de cilindros de oxigênio chegavam a Manaus de avião ou de barco. A ONG recebia esses cilindros e encaminhava direto para os hospitais. Quando acabava o oxigênio, a ONG recolhia os cilindros vazios para fazer a recarga. Segundo as investigações, João Victor Araújo da Silva sempre se oferecia para fazer esse transporte – na hora de levar de volta, o criminoso parava em uma casa, desviava alguns cilindros e levava o restante para os hospitais.

No celular dele, a polícia encontrou diversas mensagens e áudios onde ele negociava a venda dos cilindros. De acordo com os policiais, João Victor pode ter desviado mais de 60 cilindros.

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“Durante o auge da deficiência de oxigênio no Amazonas, ele chegou a vender cilindros pelo valor de cerca de R$ 6 mil”, disse o delegado Denis Alves Pinho. “Ele vendia de 10 a 15 cilindros de uma vez”.

A investigação aponta que em apenas dois meses, João Victor movimentou na conta bancária dele cerca de R$ 140 mil.

“Esse indivíduo começou a ter um padrão de vida fora da sua realidade: ele era desempregado, começou a realizar viagens, começou a participar de festa e começou a gastar o dinheiro que realmente era incompatível com a sua realidade financeira”, continuou o delegado Denis Pinho.

Com o caos gerado pela pandemia, nem os hospitais e nem a ONG perceberam os desvios. O homem começou a anunciar, com o próprio nome, a venda dos cilindros na internet. Um dos cilindros chamou a atenção de um empresário, porque tinha a marca da ONG SOS Amazonas. Ele comunicou a organização, que alertou a polícia.

Como não foi difícil descobrir de quem era o anúncio, os policiais começaram a seguir João Victor, que foi preso em flagrante nesta semana quando fazia mais um furto.

A dona da casa onde ele guardava os cilindros roubados e uma terceira pessoa, que entregava os itens para os compradores, também foram presas. Por nota, a defesa da dona da casa onde os cilindros estavam armazenados disse que todos foram todos comprados legalmente e que “através de vasta documentação” vai provar sua inocência.

Segundo a polícia, como o número de casos de Covid-19 diminuiu no Amazonas, o suspeito passou a procurar outros estados para vender os cilindros desviados. Atualmente, ele cobrava o valor de R$ 2 mil a R$ 3 mil. Agora, a polícia investiga como esses cilindros seriam encaminhados ao Pará.

João Victor Araújo da Silva continua preso. Ele e os outros dois integrantes da quadrilha vão responder pelos crimes de receptação qualificada, associação criminosa e estelionato.

Deborah Taiah é médica e estava na linha de frente no combate ao Covid-19 em Manaus. “O que foi doado para a gente, o que era para ser dos nossos pacientes, o que era para salvar vidas acabou tendo esse fechamento. É muito difícil. É revoltante”, lamenta a médica.

Fonte: G1

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