TCC de arqueólogo do Instituto Mamirauá é eleito o melhor de 2018

A monografia, chamada “Contextualização espacial histórica e tecnológica dos muiraquitãs amazônicos”, foi escolhida com unanimidade pelo júri do prêmio Luiz de Castro Faria – 2018. A premiação é realizada desde 2013 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) junto ao Centro Nacional de Arqueologia (CNA). Também foram reconhecidos artigos científicos, uma dissertação e uma tese, todas no campo da preservação do patrimônio nacional e da arqueologia.


Muiraquitãs mostram a complexidade dos antigos povos da Amazônia

Um objeto de pedra verde, feito em forma de rã ou sapo e que cabe na palma da mão. Essa é a versão mais conhecida dos muiraquitãs, artefatos da Amazônia antiga que permanecem muito vivos na cultura local. Os “sapinhos” verdes atualmente são símbolos de sorte, proteção e amor. Para arqueólogos, como Márcio Amaral, eles também representam evidências de um passado movimentado e complexo em terras amazônicas. Uma jornada que começou bem antes do contato com os europeus e teve continuidade durante a colonização.

De acordo com o pesquisador, ao longo de diversos trechos da Pan-Amazônia, existiam “extensas e ramificadas redes de trocas, que integravam diversidade étnica e mantinham relações conexas e intrínsecas em torno dos objetos de pedras verdes”.

Objetos de pedra verde em forma de sapo, os muiraquitãs são evidências do passado diverso e complexo da Amazônia/Foto: Márcio Amaral

Os muiraquitãs tinham alto valor, funcionando como moedas da época, e circulavam por diferentes sociedades que habitaram esse território séculos atrás, atravessando até milhares de quilômetros.

“Já foram encontrados muiraquitãs no Maranhão, nas Antilhas, nas Guianas, o que indica um extenso fluxo entre esses povos antigos”, conta o arqueólogo do Instituto Mamirauá. Os objetos estavam ligados “a rituais de fertilidade, à água, à fartura. Então tinha toda uma simbologia e ideologia tanto política, quanto religiosa, que era pano de fundo do muiraquitã”.

Um dos maiores centros de produção dos amuletos verdes ficava na região hoje conhecida como Baixo Amazonas/Foto: Márcio Amaral

Um dos maiores centros de produção dos amuletos verdes ficava na região hoje conhecida como Baixo Amazonas, que abrange municípios paraenses como Prainha, Monte Alegre e Santarém. Esse foi o ponto de partida de Márcio Amaral, que buscou identificar as ferramentas e reproduzir a maneira como os muiraquitãs eram manufaturados pela sociedade indígena Tapajós, provavelmente, a partir do século 8 d.C. (depois de Cristo), em um tempo e contexto onde os metais não estavam na lista de ferramentas.

Para a pesquisa, foram analisados muiraquitãs arqueológicos da coleção Juma Janaína, pertencente à Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). “Conseguimos estabelecer uma linha de pesquisa e, por meio de uma série de testes, reproduzir como esses materiais eram fabricados”.

Para a pesquisa, foram analisados muiraquitãs arqueológicos da coleção Juma Janaína, pertencente à Universidade Federal do Oeste do Pará/Foto: Márcio Amaral

Além da manufatura em si, Márcio traçou um panorama espacial e histórico das relações sociais envolvendo os muiraquitãs. “Fomos atrás de subsídios, desde a construção e formação de paisagens na Amazônia, trocas entre grupos indígenas que estavam geograficamente muito distantes, e questões ligadas à religião, à guerra, a fontes de matéria-prima e ao material utilizado para a confecção”.

O estudo foi realizado com orientação do Prof. Dr. Claide de Paula Moraes, dentro da graduação em Arqueologia da Ufopa, que Márcio Amaral cursou entre os anos de 2012 e 2017. Apesar de ser recém-formado, o pesquisador tem grande experiência na área, e atua como técnico de campo e laboratório desde o início dos anos 2000, tendo trabalhado com grandes nomes da arqueologia amazônica, como Anna Roosevelt e Denise Schaan.

Além da manufatura, Márcio traçou um panorama espacial e histórico das relações sociais envolvendo os muiraquitãs/Foto: Everson Tavares

Para Márcio Amaral, que desde 2015 integra o Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá, o reconhecimento com o prêmio Luiz de Castro Faria-2018 é “um estímulo, saber que o trabalho que se faz vai servir de referência para outras pesquisas. É assim que o conhecimento é ampliado e a ciência avança”.

A cerimônia do prêmio Luiz de Castro Faria-2018 acontecerá no próximo dia 25 de outubro na Sede do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional – IPHAN em Brasília.

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