Tefé, minha saudade! As principais festas religiosas

Professora Raimunda Gil Schaeken

Professora Raimunda Gil Schaeken


As festas religiosas mais bonitas e, que envolviam todos os fiéis, na década de 60,  eram: Natal, Páscoa, Peregrinação de Nossa Senhora de Fátima (no mês de maio), a Procissão de Corpus Christi e os festejos da Padroeira da cidade ( Santa Teresa D’ávila) de 1º a 15 de outubro. Desde o ano de 2009, por decisão da comissão dos festejos, pároco e do senhor Bispo, o arraial vem iniciando dia  seis de outubro, primeira noite da novena, em preparação a grande festa da Padroeira.

NATAL: Em preparação para o Natal, tínhamos as caminhadas pelas ruas todas as noites, levando uma coroa enfeitada de samambaias com quatro velas, representando as quatro semanas do advento. No início de cada semana, acendia-se uma vela, e na última semana tínhamos as quatro velas acesas. Durante o percurso, rezávamos e cantávamos:
Quando virá, Senhor, o dia/ em que apareça o Salvador/ e se efetue a profecia:/ “Nasceu do mundo o Redentor”?
Rorate, coeli, desuper, et nubes pluant Iustum.(Orvalhai lá do alto, ó céus, / e as nuvens chovam o justo!)
Aquele dia prometido,/ a antiga fé de nossos pais,/ dia em que o mal será banido,/ mudando em risos nossos ais!

Era uma atividade feita com amor e dedicação pelos membros da Legião de Maria: o casal José Guinemer (de saudosa memória) e Maria Mendes de Souza; Hélio Silva e Roberval de Almeida (de saudosa memória); os irmãos: Luiz Barreto e Carlos Alberto Sales; João Batista Trindade; Eliete Rabelo; Ivaldite Cabral de Castro e eu.

A missa solene, conhecida como “Missa do Galo”, era cantada pelo coral das alunas internas e algumas externas do Colégio Santa Teresa, que com suas vozes maviosas dominavam muito bem o latim. Igualmente eram cantadas, pelo mesmo coral as demais missas solenes. O povo da época acompanhava com facilidade o Ato Penitencial, Glória, Credo, Santo e o Cordeiro de Deus.

Durante o período natalino tínhamos as bonitas pastorinhas e pastoral, muito bem ensaiados pela Irmã Adamir Bamberg e pelas tefeenses Santa Nogueira, Ormízia Ferreira, Luzia Nascimento e Lucila, na cidade; Fantilda de Souza, Myrian Gonçalves de Souza, Carmélia Frazão, Francisca e Raimunda Barros, Alcinda, no interior

Páscoa

Em preparação à festa da Páscoa, havia Via-Sacra todas as sextas-feiras, na Igreja Matriz, a única até os anos 60 e as Capelas de São Miguel, na Ermida, na Rua Marechal Deodoro; Bom Jesus, na Rua Duque de Caxias; Nossa Senhora de Fátima, na estrada do Aeroporto. Naquele tempo, o período quaresmal era de recolhimento, orações, jejum e abstinência da carne todas as sextas-feiras. As imagens da Igreja eram cobertas com pano roxo e só eram tirados na Missa da Vigília Pascal, durante o Hino do Glória, momento que tocavam todos os sinos. No final da Missa, todos cantavam alegremente:

Despe o luto, veste gala! Santa Igreja do Senhor! Traze flores, traze palmas! Hinos, cantos de louvor! Como havia anunciado! Ressurgiu o Redentor.

Aleluia, cante a terra! Aleluia, o céu também! A Jesus que ressurgindo! Trouxe ao mundo tanto bem! Glória a Deus, no céu e na terra! E agora e sempre: amém.

A Páscoa é uma festa religiosa celebrada tanto pelos judeus como pelos cristãos. A palavra páscoa deriva de um termo hebraico que significa PASSAGEM.

Para os antigos pastores, a Páscoa significava a passagem de uma estação para outra, era a festa da chegada da primavera, quando a vida renascia na terra. Mais tarde, a festa foi relacionada com a experiência do povo de Deus, recordando a noite em que o Senhor passou como exterminador para ferir as pessoas que moravam nas casas sem a marca do sangue do cordeiro. Páscoa significava, então, “Deus que passa”. Para os judeus, a Páscoa significa a libertação dos hebreus do cativeiro no Egito, onde foram escravos por 400 anos, aproximadamente, e a travessia para a Palestina, sob a liderança de Moisés, isto é, a lembrança do Êxodo e da Aliança, com o sentido de libertação. (Êxodo 12)

Para os cristãos, a Páscoa representa a Gloriosa Ressurreição de Cristo, considerada a maior solenidade do ano eclesiástico. É a festa da passagem da morte para a Vida, das trevas para a luz, do luto para a festa, do mundo para Deus. É também a celebração da libertação (Mateus 26,17-29). Com sua Paixão, Morte e Ressurreição, Cristo nos liberta do mal, do pecado e da morte. Ele nos faz renascer para uma vida nova em seu amor.

Por decreto do Concílio de Nicéia (ano de 767), o dia da Páscoa, do qual dependem todas as festas móveis da Igreja Católica Romana, deve ser celebrado no domingo, depois da primeira lua cheia da primavera (entre nós, outono). O estabelecimento da festa da Páscoa remonta às origens do Cristianismo. O 4º Concílio de Latrão, em 1215, ordenou a todos os cristãos em idade própria comungar, ao menos uma vez em cada ano, de preferência na época da Páscoa.

Peregrinação do mês de maio

No mês de maio, realizava-se as peregrinações com a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Antigamente havia maior presença de fiéis, numa expressão de muita fé, amor e devoção a Maria. Os donos das casas que recebiam a imagem, preparavam um bonito altar, de cetim, tule e muito brilho. Convidavam os vizinhos pra passarem a noite, rezando e cantando, saboreando um gostoso cafezinho, nescau, bolo, biscoito e bolachas.
A imagem era recebida com foguetes, crianças todas de branco com as mãos cheias de pétalas de rosas para jogar na Virgem Mãe. O padre fazia reflexões sempre baseadas nas aparições da Virgem aos três pastorinhos da Cova da Iria, em Portugal, concluindo com as seguintes invocações:
Nossa Senhora de Fátima, nós vos saudamos.
Nossa Senhora de Fátima, nós temos confiança em vós.
Virgem Maria, nós vos amamos.
Mãe de Deus, rogai por nós.
Refúgio dos pecadores, convertei os pecadores.
Socorro dos cristãos, vinde em nosso auxílio.
Dai-nos o espírito de caridade.
Dai-nos o espírito de justiça
Dai-nos o espírito de fé.
Dai-nos o espírito de pureza.
Rainha do mundo, dai a paz ao mundo.
Nossa Senhora de Fátima, protegei  a Santa Sé.
Nossa Senhora de Fátima, protegei o Santo Padre.

A  imagem era recebida com flores e palmas pelas crianças, enquanto todos cantavam:

Sobre os braços da Azinheira.
Tu vieste, ó Mãe clemente,
Visitai a nossa gente.
De quem és a padroeira.
    II
Foi na Cova da Iria
Quando o Terço te rezavam
Quando os sinos convidavam
A orar ao meio dia.

Ave, ave!
Ave, ave Mãe de Deus!
Ave, ave! Ave canta os filhos teus.

Na saída da imagem para outra casa, cantava-se com muita emoção o canto:
A hora é chegada de vossa partida. Adeus, Mãe amada, adeus Mãe querida.
Adeus, adeus, adeus, Maria (2x)

Para o encerramento do mês de maio, conserva-se a tradição de coroar a Virgem Mãe, no dia 31. Durante 30 anos, a solenidade de coroação foi dirigida pela minha amiga, de saudosa memória Maria de Lourdes Braga Pereira. Durante a coroação, as crianças cantavam:

Ó Virgem Santa, Mãe de Jesus.
Fonte de graça, de amor e luz.
Filhinhas tuas, vimos sorrindo,
Trazer-te o nosso afeto infindo (2x).

Ó Virgem pura, maternal e boa,
Entrelaçadas vão nesta coroa.
As nossas almas, pequeninas rosas.
Que ao teu olhar se tornam mais viçosas (2x).

Flores, flores, flores a Maria!
Cuja a  glorificação!
Nesta noite de alegria.
Enche o nosso coração

Que te podemos ofertar, Mãe pura.
Como expressão de filial ternura.
Recebe, pois, já que outros bens não temos.
Esta coroa que te oferecemos (2x)
 
Lembramos que Maria de Lourdes Braga Pereira teve 50 anos de dedicação
à Igreja de Santa Teresa arrumando os vasos dos altares e os andores dos santos para as procissões, tornando-os mais bonitos e agradáveis aos olhos dos paroquianos. Ela tinha muita devoção a santa Teresa D’ávila, ao Sagrado Coração de Jesus, assim como a Maria Santíssima e, dirigiu durante 15 anos a Pia União das Filhas de Maria.
 
CORPUS CHRISTI: Entre os meses de maio e junho, a Igreja Católica celebra a festa de Corpus Christi. Em Tefé, na década de 60, via-se um movimento entre os estudantes, que pela orientação dos professores, se dividiam para ornamentar as ruas por onde passaria a procissão solene com a presença real de Cristo na Eucaristia. Cada equipe se esmerava para enfeitar muito bem a rua que lhe era confiada. Não faltavam os desenhos artísticos, tapetes de flores e faixas com as citações bíblicas;
“Este é o Pão que desceu do céu”.
“Quem comer deste Pão viverá eternamente”.

Essa festa foi celebrada pela primeira vez na Bélgica em 1246. Entrou para o calendário litúrgico universal em 1264 por determinação do Papa Urbano IV devido a um fato extraordinário. Aconteceu que um padre, duvidou da presença real de Cristo na Eucaristia, e enquanto celebrava a missa viu que da Hóstia consagrada manava sangue até tingir de vermelho o corporal que até hoje é conservado na catedral de Orvieto na Itália. A partir daí, a Igreja realiza a Procissão de Corpus Christi (Corpo de Cristo) como um prolongamento da liturgia da missa. Para os cristãos católicos é a presença de Deus no meio de seu povo e ao mesmo tempo uma manifestação pública de sua fé. A participação dos fiéis nessa festa religiosa e cristã é muito grande. Há enfeites nas casas e ruas por onde o Santíssimo Sacramento passa levado pelo bispo. Essa é a única procissão que é obrigatória para todos os católicos.
Nos Evangelhos podemos encontrar o relato em que Jesus celebra a Última Ceia com seus discípulos e instituiu o Sacramento da Eucaristia (Lc 22,19 ; 1Cor 11,24-25) sinal da Nova Aliança com a humanidade. Com amor derrama sangue para o perdão dos pecados e salvação de toda a humanidade.

Dvino: (Pentecostes- Cinquenta dias após a páscoa)

A palavra Pentecostes vem do grego antigo e significa apenas um numeral (quinquagésimo).

No Antigo Testamento o Pentecostes era uma das festas em que todo israelita tinha que comparecer diante de Javé, assim nos dizem os livros Êxodo e Deuteronômio. E no Código da Aliança é chamada a “festa da Colheita” ou “festa das primícias da colheita do trigo”, como também “festa das semanas”, porque era celebrada sete semanas depois da festa dos ázimos (a memória da passagem – páscoa – do Povo de Israel pelas águas do mar Vermelho). Mais tarde foi dado até o nome de “festa do quinquagésimo dia”, pois era celebrada 50 dias depois da oferta do primeiro molho de espigas de cevada. Pentecostes era essencialmente uma festa de colheita, e, por conseguinte uma festa alegre e de ação de graças. A essa festa originariamente agrária deu-se mais tarde um sentido histórico. Os judeus, pelo menos no século II depois de Cristo interpretaram-na como sendo a comemoração da promulgação da lei mosaica no Sinai.

No primeiro Pentecostes após a morte de Jesus o Espírito Santo desceu sobre a comunidade cristã de Jerusalém na forma de línguas de fogo; todos ficaram cheios do Espírito Santo. O Pentecostes do Novo Testamento é considerado a partir daí o nascimento da Igreja de Jesus (cf. Atos 2,1-13).
 
A festa do Divino é celebrada em muitas comunidades do município de Tefé: Missão, Jutica, Caiambé, São Vicente e nos municípios vizinhos de Alvarães e Uarini. Realizam bonitas festas e usam bandeiras vermelhas com a figura de uma pomba. A pomba é símbolo da paz e da mansidão, da simplicidade e da pureza. No batismo de Jesus, o Espírito Santo veio sobre ele em forma de pomba, isto quer dizer que, Jesus assumia a missão de servir o povo, com humildade e mansidão, sem jamais dominar sobre ele. Em preparação a grande festa, há levantação do mastro e animado novenário. No dia da festa o festeiro oferece almoço aos visitantes, devotos e pagadores de promessa. A solenidade de derrubação do mastro é cheia de rituais com cantos e rezas em volta do mastro, quase sempre em latim, seguindo-se da ladainha e procissão. Em algumas comunidades há procissão fluvial luminosa e onde tem padre há missa solene.

Na localidade São Vicente, até hoje o Divino é festejado. É herança deixada por meus avós Vicente e Joana Gil. Os poucos “Gil” que ainda moram lá conservam a tradição.

Nesse dia é festa para a maioria dos padres que trabalham na Prelazia de Tefé, pertencentes à Congregação do Espírito Santo.

A festa do Divino surgiu em Portugal, no século XIII, e deu origem ao culto ao Divino no Brasil, na época da colonização. Para o cristão, o Divino Espírito Santo é uma pessoa divina que nos foi dada pelo Pai e pelo Filho. Ele nos faz compreender o mistério de Jesus, como segui-lo e, assim, chegar ao Pai.

Povos cristãos ou não são impelidos pelo Espírito Santo, que é luz, força e vida, para Deus e para a construção de um mundo mais humano e fraterno.

A Festa e arraial de Santa Tereza

A festa de Santa Teresa acontecia tradicionalmente no período de 1º a 15 de outubro, constando de grandioso arraial, na praça da Igreja. No dia 30 de setembro havia movimentação dos devotos em frente à Igreja, na expectativa da abertura dos festejos que constava de alvorada com fogos de artifícios, sinos dobrando e o canto do hino da Padroeira. Hino esse, que por ser emotivo, faz os fiéis chorarem ao recordarem de entes queridos ausentes. Após o hino o pároco fazia a abertura dos festejos com os votos de boa participação no arraial e nas novenas em preparação à grande festa. No ano de 2009, por decisão da comissão dos festejos, pároco e do senhor Bispo, o arraial vem iniciando dia  seis de outubro, a primeira noite da novena. A tradicional alvorada passou a ser na véspera da abertura dos festejos.

Ainda é costume vender terrenos, onde muitos vendedores ambulantes armam barracas para venderem suas mercadorias. Nessa época, muitos tefeenses aproveitam também para colocar suas vendas. A praça fica cheia, de difícil acesso. A barraca mais animada e onde as pessoas encontram os mais variados e apetitosos quitutes é a barraca de Santa Teresa, ocupada a cada noite por noitários diferentes. Tudo é festa e alegria, momentos de descontração, bate-papo e encontros amigáveis, com participação nos leilões e bingos. A cidade fica movimentada e todos colaboram com amor. Na década de 90, a comissão organizadora dos festejos incluía a parte cultural, para dar um toque especial à festa, direcionada durantes muitos anos pela professora Maria Dirce Batalha Marinho.

Durante as novenas, há reflexão de temas relacionados com a vida de Santa Teresa, com muita participação dos devotos, ficando pequena a Igreja para acolher tantos fiéis. À zero horas, do dia 15 a alvorada se repete com a mesma alegria, emoção e o show pirotécnico.

No dia da festa, às 9,00 horas há a Missa solene. Após a missa o povo conduz a imagem até alguma Comunidade, percorrendo as principais ruas e bairros da cidade. Às 16 horas inicia a procissão, até a Igreja Matriz.  São muitos os devotos da cidade, dos municípios vizinhos e da capital que vão pagar promessas numa verdadeira expressão de fé. É a maior concentração popular da cidade.

Santa Teresa de Jesus, a Virgem e Doutora da Igreja

Nasceu em Ávila (Espanha), no ano de 1515. Entrou na Ordem das Carmelitas, fez grandes progressos no caminho da perfeição e teve revelações místicas.

Santa Teresa é portadora de grandes virtudes que nos conduz ao amor de Deus. Em Santa Teresa descobrimos que a vida é um dom de Deus que deve ser preservado a todo momento. Assim, como muitos santos, Santa Teresa abandonou a vida deste mundo que nós amamos muito, deixou a riqueza, nobreza, esqueceu sua beleza e entregou-se totalmente a Jesus Cristo.

Para lutar pelo seu reino, ela enfrentou os poderosos, defendeu os pobres, viveu uma vida de serviço e oração com o lema: “SÓ DEUS ME BASTA”.

RAIMUNDA GIL SCHAEKEN, ex-aluna, sócia titular da Associação dos Escritores do Amazonas (ASSEAM) e membro efetivo da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas (ALCEAR).

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1 COMENTÁRIO

  1. Por favor preciso do nome desta musica
    Ó Virgem Santa, Mãe de Jesus.
    Fonte de graça, de amor e luz.
    Filhinhas tuas, vimos sorrindo,
    Trazer-te o nosso afeto infindo
    ja pesquisei em varios luares e não consigo achar . se alguem souber por favor me manda a resposta

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