Tempo do narcisista – por Carlos Santiago

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado

Explicar os tipos de sociedades do mundo atual não é um exercício simples. As transformações se processam com rapidez e afetam as relações sociais e os comportamentos individuais, criando, inclusive, personagens de carne e de osso que antes só existiam na mitologia grega.


Estudos recentes apontam para um crescente número de pessoas que adoecem em decorrência de relacionamentos abusivos, com destaque para as vítimas de narcisista, um transtorno que tem analogia com o mito grego que conta a história de um belo jovem chamado Narciso que vagava pelo mundo em busca do amor. A ninfa Eco se apaixonou por ele, mas é rejeitada, pois Narciso só se encantava por ele mesmo, era entorpecido pela própria beleza o que o fez morrer quando se jogou no lago em busca de sua imagem.

O narcisista atual está em todos os lugares fazendo vítimas que são utilizadas como suprimento e instrumento para obter poder, atenção, status, tratamento especial e alimento de suas vaidades. É um ser que se julga superior e especial, incapaz de sentir empatia. Busca o sucesso a todo custo, não se importa com ninguém, coloca seus interesses acima de tudo.

Em princípio, o narcisista se mostra uma pessoa encantadora, cativante, com forte exibição, projeta uma imagem grandiosa e bela de si mesmo. Na política, no mundo artístico e intelectual se faz presente em busca de status que lhe garanta tratamento vip. No meio dos negócios sempre prima pela obediência, bajulação e tratamento especial.

Quando ocupa cargo de liderança pode agir de maneira antiética, prejudicando os colegas de trabalho e a empresa, agindo sempre de maneira egoísta. Não aceita críticas sobre seu desempenho profissional, prefere afrontar ou ficar ressentido com os chefes e com os colegas de profissão.

Na família, se manifesta quando busca sempre agradar, idolatrar e elogiar o (a) filho (a) excessivamente como se fosse um cuidado, mas o intuito é obter atenção ou admiração. Nos relacionamentos afetivos, no início é o amante perfeito que oferece o paraíso, mas com o tempo se mostra desonesto, infiel, mentiroso que envolve o outro num ciclo de abusos e manipulação, levando o seu companheiro (a) à perda do amor próprio, da identidade, da autoestima, pois suga o que o outro tem de melhor.

Não aceita ser confrontado ou refutado, pois se julga um ser máximo que vive para ser servido e idolatrado, quando a sua imagem irreal é questionada pode tornar-se um ser agressivo e violento. As pessoas que são vítimas de narcisista têm muita dificuldade de romper com esse ciclo, pois desenvolvem dependência afetiva, culpa e sempre acreditam que podem mudar o comportamento do abusador egoísta.

As redes sociais mostram um mundo incompatível com a realidade, projeta-se uma visão distorcida da realidade, parecendo um mundo de fantasias, onde tudo é belo, maravilhoso e feliz, fazendo desse espaço um céu aberto de expressão de liberdade sem ter que responder pelas consequências. Para o narcisista esses espaços são propícios para exibir sua falsa imagem.

O mundo das redes sociais e do consumo tem contribuído para a criação de fantasias de pessoas presas nos seus quadrados, deixando de construir relações afetivas sólidas. Tem-se uma geração de pessoas frágeis emocionalmente, resultando em campo fértil do egoísta, o que pode, inclusive, influir nos índices de suicídio e de feminicídios.

O tempo virou dinheiro. Não sobra tempo às pessoas exercitarem o autoconhecimento para o convívio com a família, com os amigos e a natureza. É preciso refletir sobre qual a sociedade que queremos e com quem queremos construir relações de amizade sadia e de amor.

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado

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