Textos inacessíveis – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Quem já foi a exposições, percebe que por incompetência ou falta de capacidade para mostrar o que é exposto, sente-se quase cego para ler o que está escrito ao lado do que está exposto. Se o tamanho da letra for abaixo de “corpo 12”, é impróprio para consumo humano. Isto vale para livros, papers, telas de micro, legendas, etiquetas. Empurram-nos textos de péssima legibilidadade nas listas telefônicas (que crescem em espessura e decrescem em qualidade), nos anúncios classificados e nas apólices de seguro, grafadas para desencorajar uma leitura atenta.


A leitura também é insalubre em outdoors e exposições. Há outdoors ineficientes no fornecimento da informação que levaria ao ato de compra. Telefone, endereço e site aparecem em letras miúdas, ocupando espaço mínimo na superfície do macroanúncio. Às vezes, grafadas em tipo superfino, espesso demais, ou imitando manuscrito. Impossível ler à distância. O bumbum da garota propaganda ou qualquer outra imagem são privilegiados no espaço, para chamar a atenção.

Mas a indicação clara de como chegar ao produto, é falha. O anunciante sai lesado e o possível cliente, já era. Textos fisiologicamente difíceis de ler são notórios em museus e outros espaços de exposições de arte, história, arqueologia, ciências. Este detalhe importante merece ser tratado com atenção e bom senso. Ao lado das pinturas, fotos e outros objetos, há explicações valiosas, mas compostas de letras subdimensionadas para o ato de leitura nesses espaços. Lê-se mal nas exposições. Somos forçados a decifrar o texto bem de perto, impedindo a visão de outras pessoas, que poderiam lê-lo à distância, se fosse grafado em letras maiores.

Tanto trabalho para montar uma exposição e os visitantes “pulam” porções de seu conteúdo, porque a leitura de densos blocos de texto e letras apertadinhas, é cansativa e desestimulante. Constatei este defeito em recentes exposições na concha do Ibirapuera e na Pinacoteca de São Paulo, no Espaço Cultural Bandepe e no Instituto Ricardo Brennand. Todos com exposições magníficas, porém deficientes em legibilidade, mesmo para leitores de visão normal. Nesses locais, a informação escrita costuma ser diagramada em forma de esfera, retângulo ou quadrado, com ampla superfície vazia ao redor, ou imprensada entre fotos e desenhos. “Coisa de arquiteto/ambientador que se lambuza com a estética e se borra na funcionalidade”, comentou um amigo enfezado.

A frustração gera generalizações injustas. Além dos textos em paredes e painéis, as minúsculas placas de identificação de telas, esculturas e peças raras protegidas por vitrinas, também precisam ser impressas em tipos maiores. Ou que se forneça uma lupa a cada visitante. Tipos pixititinhos como aqueles, só são aceitáveis em teste de oftalmologista. Esperemos que os curadores e patronos de exposições sensibilizem-se para facilitar a leitura da informação nesses espaços. Os textos que selecionaram com tanto gosto e competência merecem ser lidos confortavelmente por todos – em tipo apropriado para consumo humano.

Artigo anteriorO filho ’04’ diz que já namorou e que namoraria de novo ‘uma petista’
Próximo artigoEstudantes se inspiram em histórias de familiares para se vacinarem contra Covid-19

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui