“The Guardian” e “Washington Post” ganham prêmio por reportagens sobre espionagem americana na web

O ex-analista de Inteligência americano Edward Snowden
France Presse

Os jornais The Guardian e The Washington Post receberam, nesta segunda-feira (14), o prêmio Pulitzer de jornalismo por suas revelações sobre o programa de espionagem dos Estados Unidos, feitas com base nos documentos vazados pelo ex-analista de Inteligência americano Edward Snowden.


Os dois jornais foram premiados na categoria “serviço público” por suas matérias sobre o programa de vigilância da NSA (Agência de Segurança Nacional), para a qual Edward Snowden trabalhava.

— Essas publicações foram muito além do simples vazamento de documentos — justificou o diretor dos Prêmios Pulitzer, Sig Gissler, após anunciar os vencedores em uma sala lotada da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, em Nova York.

O Pulitzer é um dos mais importantes prêmios mundiais da profissão.

Em uma decisão muito esperada, o júri optou por premiar a versão americana do jornal britânico The Guardian e o americano The Washington Post, em vez dos repórteres autores dos artigos.

A decisão lembra o prêmio de 1972 concedido ao jornal The New York Times por ter publicado os famosos “Pentagon Papers”, documentos sigilosos sobre o envolvimento político e militar dos Estados Unidos no Vietnã.

A categoria em questão reconhece “um exemplo de serviço público meritório por um jornal, ou site de informações”, de acordo com as regras do concurso. Os veículos receberam uma medalha de ouro.

Em meados do ano passado, o Guardian e o Post publicaram o que talvez tenha sido a história mais relevante da década, expondo como a maior potência do mundo vigia milhões de pessoas em todo o planeta, sobretudo, as comunicações telefônicas e pela Internet.

Mal-estar

As revelações sobre o programa global de vigilância da NSA causaram grande mal-estar no governo dos Estados Unidos e em seus aliados, como Brasil e Alemanha, depois que vieram à tona informações de que Washington havia espionado conversas de alguns líderes mundiais.

O debate foi de tamanha magnitude que forçou o governo a rever e modificar suas práticas de coleta e armazenamento de dados.

Sig Gissler ressaltou que o prêmio “não se concentrou” em Snowden, contra quem pesam acusações de espionagem por parte do governo americano.

— Estamos extremamente orgulhosos e satisfeitos por termos sido honrados pelo júri do Pulitzer. Foi um ano intenso, exaustivo e, às vezes, arrepiante de trabalho nessa história — disse a editora-chefe do “Guardian US”, Janine Gibson, em um e-mail à AFP.

Greenwald e MacAskill

Os repórteres do Guardian que tiveram um papel-chave na publicação da história foram Glenn Greenwald, que já não trabalha mais para o jornal e vive no Brasil, e Ewen MacAskill.

O nova-iorquino Greenwald se especializou na defesa dos direitos civis até 2005, quando decidiu se dedicar ao que ele chama de “adversarial journalism”. Trata-se de um jornalismo mais politicamente engajado, diferente do investigativo, considerado mais imparcial. Para Greenwald, a busca dos jornalistas por objetividade “enfraquece a profissão”.

A polêmica começou em 5 de junho de 2013, quando ele revelou que a NSA havia coletado milhões de dados telefônicos da operadora Verizon.

Em 2014, Greenwald entrou para o site The Intercept, lançado pelo fundador do eBay, Pierre Omidyar.

Já Ewen MacAskill é setorista de Defesa e Inteligência no Guardian. Dirigiu o escritório do jornal em Washington de 2007 a 2013, onde foi correspondente, e viajou para Hong Kong com Greenwald e Laura Poitras para entrevistar Snowden por vários dias.

Gellman e Laura Poitras

O diretor-executivo do Post, Martin Baron, afirmou que as matérias “foram totalmente um serviço público” e ressaltou que, sem elas, os americanos “nunca teriam sabido o quanto o país se afastou dos direitos individuais em favor do poder do Estado”.

Barton Gellman, do Post e ganhador de dois Pulitzers, escreveu a maior parte das matérias no jornal americano. Em 2002, já havia conquistado um Pulitzer com a equipe do periódico pela cobertura dos atentados do 11 de Setembro, e outro com sua colega Jo Becker, em 2008, pelas revelações sobre a influência do então vice-presidente Dick Cheney no Executivo de George W. Bush.

A jornalista Laura Poitras, uma cineasta que serviu de contato para Snowden depois que Greenwald ignorou as primeiras mensagens do ex-analista, teve a distinção incomum de ver sua assinatura incluída nas publicações de ambos os veículos.

Foi Laura que filmou a célebre entrevista com Snowden em Hong Kong, posteriormente publicada no site do “Guardian”. Ela também assinou, junto com Gellman, um artigo no “Post” sobre o programa Prism, que permite à NSA acessar os servidores dos gigantes da Internet.

Asilo na Rússia

O pivô da história, o ex-consultor Edward Snowden, encontra-se asilado na Rússia. Para esse americano, “a decisão (de premiação do Pulitzer) é uma reivindicação de todos que acreditam que o público tem um papel no governo”.

— Devemos isso a esses repórteres corajosos e a seus colegas que continuaram trabalhando frente a uma extraordinária intimidação, que incluiu a destruição forçada de materiais jornalísticos, o uso inadequado de leis antiterroristas e tantos outros meios de pressão para frear o que o mundo reconhece agora como um trabalho de vital importância pública — comentou Snowden.

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