Traições e bordoadas (Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)
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Foi muita bordoada. Nesta semana, enquanto apresentava seu programa anual de televisão, o PT enfrentou o panelaço em todo o país. Sob as bênçãos do âncora Lula da Silva – sem graça e irritado –, os petistas insistiram na propaganda enganosa, como se fôssemos um rebanho de idiotas. Teimam em dizer que colocaram os corruptos na cadeia e levaram chumbo grosso e merecido.
Tempos difíceis para a companheirada. Na Câmara Federal foram obrigados a votar e aprovar o ajuste fiscal, que retira direitos dos trabalhadores, na contramão do que dizia em campanha a candidata Dilma Rousseff. O “nem que a vaca tussa” da presidente terminou tossindo e com acessos incontroláveis. Com o programa televisivo, tentaram esconder da população o que seriam compelidos a fazer no dia seguinte, com manobras logo denunciadas por seus próprios aliados. O líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani, foi direto: ou o PT assumiria a paternidade das medidas de arrocho, em processo de votação nominal de todos os seus deputados, ou a medida provisória do governo não seria sequer posta em votação.


Dito e feito, o peemedebista carioca somente deu sinal verde após o fechamento da questão pelos petistas. Em seguida, teve-se o velho toma lá dá cá, que deixa no chinelo as investidas feitas no passado pelo Centrão, grupo parlamentar de direita, notabilizado pelo franciscanismo congressual do é dando que se recebe. Com a adoção de restrições ao benefício do seguro-desemprego e do abono salarial, direitos que pareciam consolidados foram pelo ralo, levando de roldão o discurso de véspera do antigo líder metalúrgico.

Na votação, uma chuva de “ptdólares”, notas impressas da moeda americana com as efígies de Lula, Dilma e Vaccari. Antes já haviam sofrido o golpe da PEC da Bengala, que retirou da presidente a oportunidade de indicar cinco novos ministros do Supremo Tribunal Federal. Inimaginável, um vexame para o PT, para o seu folclórico líder, o acriano Sibá Machado, e demais deputados da sigla. Acossados no fundo do plenário da Câmara, foram obrigados a ouvir o refrão “você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”, do samba de Jorge Aragão, “Vou Festejar”, interpretação de Beth Carvalho. Não tiveram como ocultar da opinião pública a vilania cometida contra os trabalhadores. Mais grave é que numa hora de recessão da economia, que faz explodir os índices de desemprego, com inflação em alta, sem que as vítimas possam socorrer-se de uma conquista histórica, agora sepultada pelo partido que bradava aos quatro cantos advogar as aspirações do operariado nacional.

Nas galerias da Câmara, acompanhando a votação, a Força Sindical e representações indignadas com a violência que arrebenta na costa dos mais fracos. Lá não estavam a CUT, braço sindical do PT, e outras entidades afinadas com o discurso do poder.

Sem entrar no mérito da necessidade de adoção das medidas anunciadas pelo ministro Levy, algumas recomendáveis, não há como admitir-se a nova opção do chamado “Partido dos Trabalhadores”, assim mesmo, posto entre aspas ideológicas. Representa um governo desastrado, que se recusa a cortar na própria carne e continua esbanjando recursos. Mesmo em momento de dificuldades, mantém o número de 38 ministérios, apenas para saciar os apetites de seus aliados no falido presidencialismo de coalizão.

Fruto de uma simbiose entre incompetência e corrupção, como bem demonstrou o notório Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras e principal delator da Lava-Jato, em depoimento prestado à CPI da estatal, o rombo causado pela má gestão alcança algo em torno de 60 bilhões de reais. Um prejuízo dez vezes maior do que os valores surrupiados da empresa, a partir dos governos Lula e Dilma, estimando-se que o assalto até então apurado é de cerca de 6 bilhões de reais. Roubalheira e improficiência, uma combinação dramática, como irmãs siamesas, servem de estuário a uma administração que mergulhou o país no atraso econômico de décadas, um período que jamais será recuperado.

No instante em que o PT entrava em rede nacional de televisão, o panelaço, rojões e buzinaços também atingiram o metalúrgico Lula da Silva, que mantinha certa distância dos acontecimentos e das trapalhadas frequentes no núcleo do poder. Foi-se assim a única carta na manga do PT com a qual disputaria a sucessão presidencial em 2018. Hoje o povo começa a tomar consciência de que o metalúrgico encontra-se na origem de todos os males do governo de Dilma Rousseff, como obra de sua exclusiva criação.

No vigente presidencialismo, resta esperar o escoamento do governo atual durante quase quatro anos, sangrando a cada dia. No parlamentarismo, sistema que em tese defendo, mas cuja aplicação no Brasil seria problemática, com o Congresso que temos, o governo teria caído logo com os primeiros sinais da crise de governabilidade.(Paulo Figueiredo – advogado, escritor e comentarista político – [email protected])

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