Ulisses, uma entrevista atual (Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo(AM)

Ao garimpar nas redes sociais sempre descubro algo interessante. Acabo de encontrar uma entrevista que Ulisses Guimarães concedeu ao Programa do Jô, em 1992, ano em que o Congresso votou o impeachment do ex-presidente Collor de Melo. Não resisto à oportunidade de transcrevê-la em parte. Embora em momentos já distantes, há uma sucessão de coincidências entre os acontecimentos, que vale a pena conferir. Tem-se, também, uma aula de política proferida pelo líder que conseguiu vencer a ditadura militar no Brasil.
Com a palavra, o “Senhor Diretas”, titulação que lhe foi conferida na época por ter sustentado com vigor a memorável campanha pela reintrodução das eleições presidenciais diretas no Brasil.


Diz Ulisses:

“Getúlio Vargas renunciou duas vezes, por motivos que não eram esses que estão aí, de quadrilha, de corrupção. Ele renunciou para evitar uma guerra civil e uma das vezes renunciou à vida.

“De maneira que eu quero dizer que o povo acordou. Nessa parte, o presidente acertou, olhando bem esse cenário de vergonha e de indignação que aí está em todo o país.

“O Collor não é mais presidente. Ele é o Fernando. Para os amigos, o Fernandinho. Não pensem vocês que eu estou sendo malcriado. Quem irrevogavelmente lavrou essa sentença foi o povo. Porque ele foi eleito, mas a dimensão de uma eleição é menor do que um plebiscito. A praça pública é maior do que a urna. Portanto, mesmo tendo sido eleito, foi agora repudiado pela praça pública. Não é mais presidente. É o Fernando, o Fernandinho. Este presidente é um chícharo. Ele morreu, morreu no respeito da Nação. E não acredita que morreu. É um fantasma, um fantasma que aumenta a inflação, aumenta o desemprego, que faz a queda das bolsas e enlameia o nome do Brasil lá fora.  Então temos que exorcizar esse fantasma. Vamos exorcizá-lo, de acordo com a Nação …

“Quero dizer que existe a tropa do lado de lá, a tropa de choque. Quero dizer que a tropa de choque não é o cheque da tropa (fina ironia), é a tropa de choque. Eles vão botar casca de banana, vão querer perturbar a sessão [de votação do impeachment na Câmara], mas nós estamos prevenidos, nós não somos bobos …

“O cidadão agora acordou. O cidadão está neste momento no Brasil se manifestando em nome da cidadania. E a cidadania é mais do que o cidadão, porque o cidadão, em nome da cidadania, pode errar. Por exemplo, 35 milhões de  brasileiros erraram, entendendo que exercitavam a cidadania em benefício do país, e trouxeram essa desgraça que está aí, mas isso pode acontecer em qualquer democracia. Agora está vigilante, está atuando, está acompanhando nos meios de comunicação. E é por isso que todos nós no Congresso e na Câmara estamos sendo vigiados. Agora somos juízes e, se o resultado não for aquele que a Nação quer, passaremos a réus.

Como se vê, há muita identidade entre os fatos. A população, no exercício da cidadania, ocupa atualmente as praças, ruas e esquinas do Brasil, em todas as regiões. Exige o impeachment da presidente Dilma, estelionatária e incompetente, clama por sua urgente deposição e almeja por um reencontro da Nação com seu povo, aspiração nacional das mais justas. Ou deputados e senadores submetem-se à vontade de milhões de brasileiros, expressa nas grandes manifestações populares, como disse o velho Ulisses, na condição de magistrados constitucionais, ou serão transformados em réus perante a história.

E a história, na esteira das reflexões de outro velho genial, repete-se sempre como tragédia ou farsa. Cuido do alemão Karl Marx, pensador do século XIX, escritor de alentada obra filosófica, cujas páginas jamais foram sequer abertas pela esquerda de araque que empolga o PT e o poder atual no Brasil. Com a devida reverência a quem “mudou a consciência do mundo”, segundo George Bernard Shaw, Dilma Rousseff encerra, nela própria e em tudo o que representa, o horror, a catástrofe e o grotesco do embuste sem nenhum limite, com a falência do Estado brasileiro e a derrocada da imagem do país.

Ela, tatibitate, incapaz de formular um raciocínio simples e escorreito, vive no mundo da lua, alheia a tudo o que acontece à sua volta. Mais grave, insiste em manter-se no comando da nau prestes a naufragar.(Paulo Figueiredo – advogado, escritor e comentarista político – [email protected])  

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