Último índio sobrevivente de tribo vive solitário há 22 anos em Rondônia

Índio da tribo Tanaru vive isolado há 22 anos - Foto: Reprodução/Funai

No meio da mata no interior do estado de Rondônia, o último sobrevivente de uma tribo indígena resiste ao contato com a civilização do homem branco. Motivos para a decisão não faltam. Após ter seus últimos membros mortos por fazendeiros em 1995, o “índio solitário” mantém tradições, costumes e sabedorias que desaparecem aos olhos incrédulos dos caras pálidas.


A primeira vez que foi visto pela Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé (FPE Guaporé), sediada em Alta Floresta (RO), foi junho em 1996. O achado ocorreu após informações de um grupo de madeireiros que apontavam a existência de um índio, uma cabana, armadilhas e um buraco que, posteriormente, serviria de apelido ao aldeado.

“Chegamos a ficar duas horas em frente a cabana para convencê-lo a sair, mas ele se armou dentro dela”, lembra o servidor da Fundação do Índio (Funai), Altair Algayer, também coordenador da FPE Guaporé.

Após confirmada a existência do sobrevivente da Terra Indígena (TI) Tanaru, a Funai se utilizou de dispositivos legais para a interdição da área. Assim, por meio da Portaria do Presidente da Funai nº 1040, de 16 de outubro de 2015, a área demarcada de 8.070 hectares teve sua interdição prolongada por mais 10 anos.

As primeiras interdições já haviam acontecido na década de 1990, quando houve a confirmação sobre um índio isolado.

Os indígenas da TI Tanaru são vítimas de eventos históricos na Amazônia a partir da década de 1980, onde a colonização desenfreada, a instalação de fazendas e a exploração ilegal de madeira em Rondônia, provocou sucessivos ataques aos povos indígenas isolados que viviam nessas regiões, resultando em expulsões de suas terras e mortes.

Cabana construída pelo índio isolado – Foto: Reprodução/Funai

E foi em um último ataque de fazendeiros, no final de 1995, que o grupo da TI Tanaru, provavelmente já pequeno, segundo equipe local, se transformou em apenas uma pessoa. Os culpados jamais foram punidos.

A Funai, desde então, realizou 57 incursões de monitoramento do “indígena solitário” nos últimos 10 anos, além de 40 viagens para ações de vigilância e proteção da TI Tanaru.

As imagens que correram o mundo, mostrando o “índio do buraco”, foram obtidas por acaso, durante ações da FPE Guaporé no interior da TI Tanaru. A Funai afirma que, graças aos monitoramentos da área, há cinco anos não são registradas invasões de madeireiros, desmatamentos e presença de pessoas estranhas dentro dos limites da TI.

Como vive?

Atualmente, segundo a Funai, o indígena vive próximo à divisa de quatro municípios no sul do estado, mais precisamente em Corumbiara, município distante a pouco mais de 700 quilômetros de Porto Velho.

Altair Algayer explica que demandou muito tempo até que imagens pudessem ser feitas. “Não é somente chegar e ver o índio. Das poucas vezes que conseguimos localizá-lo, ele fugiu rapidamente. Não dá tempo de tirar uma máquina e fotografar ou filmá-lo”, afirma o servidor da Funai.

As únicas imagens que comprovam a existência do “índio solitário” foram feitas quando ele não estava perto. “Apenas uma vez, cheguei a olhá-lo muito próximo, mas não tive como registrar esse momento. Por ele não entender nossa língua, usei vários gestos”, disse.

Registro mais extenso são da morada do índio: uma cabana, popularmente conhecida como tapiri, estrutura feita com lascas e cascas de madeira, palmeiras e roncos de pau, coberta com palha do chão até o teto.

Só que as propriedades construídas pelo índio solitário têm um toque especial: a existência de um buraco. Até hoje, a FPE Guaporé localizou 48 moradias semelhantes a do índio.

“A primeira coisa que ele faz é cavar um buraco. Depois, constrói a casa. A ação, aparentemente, não tem função nenhuma aos nossos olhos, mas acredito que a prática esteja ligada à sua religião. Somente ele pode explicar a função disso. Ele não dorme lá dentro e não guarda nada. A rede é armada em cima do buraco”, explica Altair.

Índio da tribo Tanaru vive isolado há 22 anos – Foto: Reprodução/Funai

Altair também acredita que as ferramentas de ferro, encontradas com ele em 1996, indicam que houve uma proximidade com seres humanos antes do primeiro contato com os servidores da Funai.

“O contato dele com nossa sociedade foi muito próximo, pois haviam estradas feitas por madeireiros na floresta. Ele possivelmente andou junto com essa ocupação, onde com certeza, pegou ferramentas que ficavam pelo caminho”, supõe.

Mas, nem mesmo as ferramentas resistem ao tempo. Quando a equipe vê que já não estão boas, doam outras.
“Ele aceita facão, machado e panelas em alguns casos, somente quando são deixados perto de sua casa.
Doamos também algumas sementes, já que ele perdeu todo o seu cultivo em 1996. Hoje, o índio mantém um cultivo de batata, mandioca, mamão para subsistência”, explica o servidor.

Fonte: G1

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