Uma Introdução à Sensação e à Percepção – Por Max Diniz Cruzeiro

Neurocirurgião Max Diniz Cruzeiro (DF)

Para ativar a sensação e a percepção não necessita de grandes esforços conscientes, segundo Richard Gregory essa capacidade requer saltos da imaginação para lidar com a infinidade de objetos de distintas dimensionalidades, configurações e aspectos de formação de sua constituição física, que se constitui algo comum e cotidiano.
Tudo se constitui em uma construção de um padrão retirada da física dos corpos, vistos como estruturas tridimensionais, em que as energias são coletas pelos receptores sensoriais. As percepções humanas podem aparecer ou cristalizar degradadas, incompletas, mas em geral são razoavelmente exatas.


Neurocirurgião Max Diniz Cruzeiro (DF)

Mas como os estímulos com as qualidades e características dos objetos no ambiental são representados e transferidos para a mente humana nesta base conhecida como percepção?

Mas quão próxima será a correspondência verdadeira entre o mundo físico e o mundo subjetivo e interior criado por nossos sentidos? Schiffman, Harvey Richard

Nem sempre o mundo criado pelos sentidos corresponde à realidade física, frisa Schiffman, é possível que apreensões distorcidas gerem erros e distorções sistemáticas afetando a representação do mundo devido uma informação sensorial cujo padrão do observador não está acostumado a interpretar de forma correta. O tornar consciente do ambiente físico é uma das grandes problemáticas para um psicólogo, a fim do domínio deste conteúdo.

Sensação são os efeitos reproduzidos a partir da interação do indivíduo com o ambiente, em sua fase inicial, onde o ser tem receptivamente contato com o estímulo no nível do receptor biológico que envolve o contato com a luz, pressão, calor, substâncias químicas, eletromagnetismo, e outras que despertem os sentidos.

Conforme frisa Schiffman nossas janelas biológicas captam essas energias e as transformas em pulso bioelétrico, visto como um código neural, a ser encaminhado para o cérebro. Cada célula receptora é sensível a um tipo de transmissão específica, algumas orientadas para corresponder as variações da luz, outras em termos de composições atmosféricas ou de outros objetos, outras motivadas a corresponder as experiências sensoriais de pressão, e assim por diante.

A percepção está ligado a um aspecto mais qualitativo, em que os desdobramentos dos processos psicológicos são levados em consideração, em que a mente humana é capaz de compor relacionamentos a partir dos contextos, julgamentos, experiência passada e memória possam criar um processo de ancoragem em torno do represamento do estímulo, em que coexiste um princípio de retenção capaz de fixar e atribuir aprendizado a partir desta fixação.

Uma percepção, portanto, envolve organização de informações, interpretação e atribuição de sentido há tudo que foi possível extrair e ordenar essa inscrição, na forma de sensações que se transformaram em código de bioeletricidade, que uma vez armazenados se tornou possível transcrever neuralmente e mapear os processos físicos que se transformaram em ordem psíquica dentro de um indivíduo.

Schiffman afirma que de maneira geral a sensação e a percepção são processos unificados e inseparáveis. Por isto é tão difícil em certos casos identificar o que é sensação e o que é percepção, uma vez que a distinção do processo consciente torna difícil a catalogação entre codificado e elemento percebido desta codificação. Então é possível pensar em termos de uma fronteira onde o toque com o ambiente torna possível uma degustação do plano dimensional em dois distintos níveis: um nível que a influência receptiva é mais densa, que desloca a sensação para eclodir seus efeitos na foz do receptor biológico; e outro nível, em que a influência mnêmica possui maior vigor de atuação, este segundo item em termos representativos, que desloca a percepção para representar o estímulo no psíquico. Talvez esse seja o indício mais fácil de se compreender teoricamente a distinção entre sensação e percepção.

A necessidade de se estudar sensação e percepção é porque ela é uma das bases da psicologia experimental e muitos problemas ambientais requerem que sejam trabalhados argumentos em que a compreensão dentro deste nível seja despertada a fim de resolução de um conflito a que se destina o objeto de uma pesquisa ou estudo. Outro fator de relevância é que a compreensão da sensação e percepção ajuda a compreensão do próprio indivíduo como agente e paciente de suas relações com o espaço ambiental onde esteja inserido, essencial para a continuidade através da avaliação do espaço ambiental. Outro motivo relevante ao estudo é que a compreensão de sensações e percepções nos ajudam na compreensão dos elementos mais básicos e elementares à volta das interações humanas com o habitat ou ambiente.

Esses processos são a todo momento desencadeados, tais como cheiros, odores, imagens, sons, toques, movimentos de pressão ambiental, temperatura, e ondas eletromagnéticas provenientes dos fenômenos das ondas gravitacionais e dos efeitos de energias cósmicas que chegam até o planeta.

As sensações e percepções são desencadeadas com muita frequência, de dependendo do nível de interação e correspondência um indivíduo torna-se mais ou menos apto ao seu desenvolvimento vital.

Muitas pessoas não se dão conta de que a percepção é um problema; percebem o mundo com tão pouco esforço e de forma tão continua que tomam o mecanismo como coisa certa. A percepção é o mais negligenciado de todos os problemas importantes da ciência, e isso pode acontecer porque ela é o problema mais difícil de todos eles. (p. 1).  (SCHIFFMAN 3) SCHIFFMAN, Harvey Richard. Sensação e Percepção, 5ª edição. LTC, 10/2005. VitalBook file.

O estudo das sensações e percepções remontam no início da intelectualidade humana, construções teóricas neste sentido podem ser coletadas a partir dos estudos gregos antigos que objetivavam a compreensão do mundo externo e suas relações internas nos fatores de interação do homem com o ambiente, que culminou na divisão dos sentidos em visão, audição, paladar, olfato e tato,

O desdobramento das coletas de informações ambientais vistas como sentidos, deu origem a um ramo científico chamado de Empirismo, onde se denota a construção de uma verdade a partir do que pode ser catalogado e construído da experiência sensorial. Os grandes pensadores desta fase foram: Thomas Hobbes (1588-2679); John Locke (1632-1704) e George Berkeley (1685-1753).

Locke por exemplo, visualizava a mente como uma “tábua rasa”, uma folha em branco onde as experiências são escritas. Berkeley passou a colher informações que questionavam a existência do mundo, no qual se fixou na existência perceptiva das coisas e dos objetos, no qual apenas Deus era exercedor de consciência de toda a criação.

Wilhelm Wundt fundou em 1879 a psicologia como uma ciência experimental sob uma abordagem estruturalista com o objetivo de descobrir os elementos constituintes da ativação dos sentidos, no nível molecular e atômico (Estruturalista). Onde se constrói uma visão que a soma e a integração das sensações reproduz o que se denomina percepção.

Em 1910 na Alemanha surgiu outra escola denominada Psicologia da Gestalt e parte de um princípio de negação a alguns pressupostos estruturalistas, que dizia que a análise estruturalista ignorou a relação entre os estímulos, não observando as unidades como sensações que dão origem a uma simples soma das partes individuais que dão origem ao ente percebido. Na Gestalt o ambiente é percebido a partir de suas propriedades organizacionais e relacionais que abrem o entendimento para a conversão de formas significativas, conexas e holísticas, conforme frisa Schiffman. Gestalt: “O todo é diferente da soma das partes.”

A diferenciação entre Estruturalismo e Gestalt está no trabalho de bases distintas. No Estruturalismo a base se prende a formação do código, enquanto na Gestalt a base se prende a formação do percebido, em que a fundamentação do código se mostra motivação irrelevante. Por isto sua negação no sentido de estruturação do holístico ou representado, por ser base mais complexa em que entes relacionais se organizam para gerir o produto, ou “coisa” em sua visão mais ampla.

Na abordagem Construtivista, visto como escola, se baseia para construir os seus pressupostos, nas estratégias cognitivas, experiências passadas, expectativas, motivação, atenção, reflexão, resposta, valoração, balanceamento e juízo, entre outras, que permitem gerir uma interpretação do ambiente através de suas relações.

Outra corrente científica, da Percepção Direta (Abordagem Ecológica), de J. Gibson, focou suas conclusões lógicas baseadas na coleta direta de informações ambientais em que o agente apenas se condiciona a colher as impressões suficientes para sua correspondência em termos de uma percepção eficaz e adaptativa. Onde os gradientes de informações denotam poderosas estruturas de influência sobre a tomada de decisão de um indivíduo.

A Abordagem Computacional de David Marr (1945-1980) atribui aos aspectos de mensuração física de fenômenos potenciais indícios para a formação perceptiva de um indivíduo, onde quinas, linhas, bordas, contornos, e outros formatos descontínuos são relevantes informações de conhecimento que permitem que o humano, através de sua mente, possa gestar uma simulação sobre o ambiente que esteja inserido. Criando um conhecimento que não se contrapõe a Gibson (Percepção direta).

Na Abordagem Neurofisiológica a explicação sensorial sensação-percpeção é explicada a partir de redução de processos e estruturas neurais e fisiológicos que permeiam e formam todos os aspectos do comportamento humano.

Na Abordagem da Neurociência Cognitiva o desempenho complexo da atividade humana requer o estudo das múltiplas regiões cerebrais, num campo interdisciplinar que envolvem várias cadeiras e ciências. A partir de 1970 técnicas de imagiamento como a Tomograia por Emissão de Pósitrons (PET) e Ressonância Magnética Funcional (fMRI) tornou-se possível mapear o funcionamento cerebral.

A percepção e a captação da sensação apenas é possível graças aos diversos sistemas neurais através de um fenômeno de transdução (transformação da energia física em energia de estimulação neural), quando algum fenômeno físico interage com o corpo biológico, neurônios sensoriais despertam a atividade para se intercomunicarem com interneurônios (informações transmitidas de neurônio para neurônio) e por sua vez do sistema nervoso central através de neurônios motores, estes últimos responsável pelo desencadeamento de informações do cérebro para os músculos.

O neurônio possui três estruturas básicas: Dendritos (captadores de informações); soma, ou corpo celular onde as atividades químicas são desencadeadas; e, axônios (Nervos: Nervos sensoriais – aferentes; Nervos motores – eferentes) onde o fluxo de informações sofre transposição para ser coordenado para o neurônio seguinte através de um ou mais botões terminais. Sobre os axônios geralmente uma capa de substância conhecida como mielina ajuda no processo de transmissão de informações entre neurônios. Os neurônios seguintes (com uso de neurotransmissores) são afetados a partir de um potencial de ação que irá trabalhar em um sistema de tudo ou nada. E de acordo com a frequência dos pulsos a correspondência do indivíduo irá inclinar para a ação ou não ação para resolução do problema-conflito.

À medida que os pulsos são mais extensivos um processo de acomodação dente a diminuir a correspondência dos disparos dos potenciais de ação, a correspondência direta é a diminuição da magnitude da sensação. Esse processo é conhecido como adaptação (o estímulo constante diminui e se torna indetectável). O que pode sinalizar um deslocamento da sensação para um nível procedural de correspondência a ser trabalhada num nível mental-psicológico no sistema nervoso central, uma vez que a noção de perigo do mecanismo foi desligada do regime e caráter de urgência da catalogação do sentido. É possível a um neurônio encaminhar 1000 pulsos, de potencial de ação, num período de um segundo, visto por uma visão de instrução de um período denominado refratário, que é uma métrica definida para ajustar como as variantes de percepção são gerenciadas pelo Sistema Nervoso Central (SNC – aqui nos nervos são chamados de tratos e grandes grupos neurais de núcleos). Os disparos do potencial de ação podem liberar neurotransmissores, pela fenda sináptica, que inibem (antagonistas – ex. GABA, Endorfina, Curare, Barbitúricos, Álcool) ou estimulem (agonistas – ex. Norepinefrina) os neurônios seguintes.

Johannes Müller propôs que não é a forma de energia física que determina a natureza da sensação, mas sim a especificidade dos neurônios, receptores e nervos ativos pelo estímulo. Toda a rede de receptores é capaz de sintetizar eletroquímicos este princípio é suficiente para integrar todas as unidades sensoriais.

O processo de evolução através da seleção natural privilegia o desenvolvimento de receptores sensoriais que se ajustam as demandas ambientais, de forma que as funcionalidades e funções a partir de estruturas sensoriais adaptativas que são úteis, lentamente ganham primazia frente aos mecanismos poucos utilizados que são descartados ao longo do tempo em um processo contínuo de depuração de uma espécie. (Max Diniz Cruzeiro – Neurocientista Clínico, Psicopedagogo Clínico e Empresarial – www.lenderbook.com)

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