Uma novela com mais de quarenta anos.

Luiz Lauschner Escritor e empresário

No início dos anos 80 ainda era possível trafegar pela BR 319 saindo de Manaus e chegar vivo com o carro em condições de trafegabilidade em Porto Velho. No final daquela década não era mais e assim continua até hoje. As pessoas chamadas a ocupar as margens da rodovia padecem do mesmo mal que a própria, sem condições de se locomover em caso de necessidade ou para lazer.


Existe um abaixo assinado circulando em Manaus que pede o imediato retorno das obras da tal rodovia. Atitude louvável, considerando-se que entra governo, sai governo e a estrada continua intransitável. E existe uma turma grande que quer que continue assim. Uma estrada que poderia virar um canal de turismo para toda a região norte está fechada de mato porque alguns acreditam que alguma planta desconhecida que poderia curar doenças que ainda não existem possa ser dizimada.

Tenho respeito a você leitor, mesmo se faz parte dos ecologistas criados em cativeiro que dão mais valor aos animais que às pessoas; Também respeito à maneira como gasta seu dinheiro, mesmo que seja dando-o a ONGs corruptas que usam a defesa da Amazônia para tomar as economias dos incautos e viver como paxás em confortáveis apartamentos em terras onde não mais existem as incômodas florestas; Tenho respeito por você que denuncia a queimada de folhas num jardim, mas fica horas assistindo na TV a matança de jacarés nos pantanais americanos para evitar a proliferação; Tenho respeito por quem reclama da demora no atendimento em hospitais públicos e privados e se esquece que, por falta de estradas alguns conterrâneos demoram dias para chegar a esse hospital por meios de locomoção que acreditávamos não mais existir; Tenho respeito por quem reclama do custo de vida, encarecido por meios de transportes morosos onde não há estradas; Respeito até quem aplaude o governo por impedir a reabertura da rodovia, por ele reconhecer que não fará cumprir as leis de proteção ambiental. Sim, tenho respeito, mas não comungo de suas ideias. O Brasil tem leis para garantir que o direito de ir e vir possa ser respeitado, em ocupar suas terras e fazê-las produzir sem ameaça ao meio ambiente. Não fazer obras, por receio que as leis não sejam cumpridas é renunciar da autoridade de governar.

Está na hora de vermos a essência das coisas: Abater animais não significa submetê-los a maus tratos; Derrubar árvores adultas para aproveitar a madeira não é devastar; roubar terras, na cidade ou no interior, é sempre roubo. Agricultura já existe desde os tempos dos faraós, até porque colher frutas silvestres e transportá-las da selva amazônica até centros consumidores é inimaginável. O plantio e a preservação podem andar lado a lado sem prejuízo para um e para outro. Preservar as nascentes e margens dos rios é uma questão séria e prevista em lei. O turismo rural pode receber um impulso que ajuda a preservação.

A todos que só veem o lado negativo na reabertura da rodovia, convido a viver nas margens do que sobrou dela. Não por muito tempo, apenas por seis meses, durante o período de chuvas, nas condições em que vivem os moradores. Se sobreviver e mantiver a mesma posição, então sim, merece ser ouvido, pois terá argumentos por sua vivência e não a mera repetição do que leu ou ouviu de pessoas que nunca estiveram na selva. Todo aprendizado teórico necessita de prática. Decorar o manual do motorista não habilita ninguém a dirigir.

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