UNICEF leva jovem indígena do Amazonas à COP 27 no Egito

Tainara da Costa Cruz, do Povo Kambeba - Foto: Divulgação

Amazonas, 3 de novembro de 2022 – O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a organização da sociedade civil Viração Educomunicação levarão três jovens ativistas ambientais de diferentes regiões do Brasil para a 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27). Moradora da comunidade indígenas Três Unidos, localizada na Área de Proteção Ambiental (APA), no Amazonas, Tainara da Costa Cruz, do Povo Kambeba, 18 anos, será a representante da região Norte – ao lado de Victor Medeiros, de 18 anos, do litoral de São Paulo, e Maria Eduarda Silva, 19 anos, de Bonito, Pernambuco. Eles serão parte de um grupo de 40 meninas e meninos brasileiros, de diversos coletivos e organizações sociais, que vão representar a adolescência e a juventude brasileira na conferência. O encontro será realizado entre 6 e 18 deste mês, no Egito.


Em suas diversas iniciativas em desenvolvimento no Brasil, o UNICEF vem engajando adolescentes e jovens nas discussões sobre mudanças climáticas, valorizando a participação ativa de meninas e meninos em debates e proposições de ações. Estudo divulgado no mês passado alerta que, até 2050, todas as crianças e adolescentes do mundo estarão expostos a ondas de calor e chama a atenção para a necessidade urgente de ampliação de financiamento para adaptar os serviços públicos e proteger crianças, adolescentes e comunidades vulneráveis.

Os três jovens que irão para a COP foram selecionados a partir dos projetos apresentados e do potencial como multiplicadores. A expectativa é que possam compartilhar e multiplicar o conhecimento em suas localidades quando retornarem, além de seguirem com as atividades que já desenvolvem.

Para a oficial de participação e desenvolvimento de adolescentes do UNICEF no Brasil, Rayanne Máximo, a participação de adolescentes e jovens fortalece ainda mais os processos que buscam a diminuição mundial dos impactos das mudanças climáticas. “A agenda climática do UNICEF vem crescendo, apoiada diretamente no engajamento e na participação de adolescentes, pensando em inovação, criação de estratégias e advocacy para pautar nas políticas públicas ações concretas que coloquem crianças e adolescentes na centralidade das ações climáticas”, salienta Rayanne.

“É fundamental que as próximas gerações tenham apoio de agências internacionais, instituições e organizações da sociedade civil para fazer frente à crise climática a partir do aprendizado e exercício da participação cidadã, acompanhando os debates por justiça climática de forma global e em seus territórios, compartilhando conhecimentos e criando soluções para um futuro sustentável para todos. Ter a participação destes jovens na COP 27 é um grande passo nesse sentido”, afirma Monise Berno, Coordenadora de Comunicação da Viração e do programa Agência Jovem de Notícias no Brasil.

Para Paulo Lima, diretor internacional da Viração, que há 11 anos acompanha adolescentes e jovens nas Conferências da ONU sobre o Clima, “a participação dos 3 jovens brasileiros ligados aos projetos do UNICEF representa uma grande oportunidade de exercitar a cidadania global e um grande exercício de educação climática global. O mais importante é que esses jovens, voltando para o Brasil, poderão compartilhar com outros jovens de todo o país a experiência deles no evento e de conhecer outros adolescentes jovens que trabalham com educação climática em todo o mundo”.

Tainara, jovem liderança Kambeba

Estudante do 2o ano do ensino médio, na Escola Estadual Samsung Amazonas, localizada na comunidade Três Unidos, Tainara abarca a luta de jovens lideranças pelos direitos dos povos indígenas. Para seu primeiro evento internacional, ela já preparou a tinta à base de urucum – de uso indígena para pintura corporal, sua vestimenta com grafismos típicos do povo Kambeba e o discurso que tange para conservação da floresta amazônica. “O evento é uma oportunidade de valorizar nossa cultura e dar voz aos povos indígenas sobre questões ambientais. A cada ano, por exemplo, percebemos que os impactos das mudanças climáticas são significativos. Nos deparamos com períodos de estiagem ou de chuva mais intensos o que acaba prejudicando plantações e o aumento de temperatura”, explica a jovem.

A comunidade Três Unidos tem mais de 30 anos de existência, com 35 famílias e mais de 100 pessoas entre crianças, jovens e adultos do povo Kambaba, também chamados de Omágua, que significa “o povo das água”. Nesse ambiente, o indígena Tome Cruz, pai de Tainara, é professor de História para alunos do ensino fundamental. Ele é uma liderança que busca o fortalecimento da luta e autonomia dos povos indígenas desde jovem. “Tainara sempre esteve comigo nas reuniões e observava as discussões sobre os direitos dos povos indígenas e manejo racional da floresta. Estamos orgulhosos pela participação dela na COP 27, pois isso é resultado da sua dedicação e responsabilidade como jovem liderança indígena”, esclarece Tome.

Sobre sua atuação no movimento indígena, Tainara explica que a oportunidade firmou com a Rede de Jovens Comunicadores Makira E’ta, parceiro do UNICEF para o projeto de “Fortalecimento da capacidade de povos indígenas na Amazônia para prevenção e resposta à covid-19”. “Sempre quis colaborar com a iniciativa e quando percebi já estava fazendo parte do grupo. Comecei a integrar eventos locais e nacionais e hoje, junto com outros parentes, busco consolidar a voz dos povos indígenas na defesa da Amazônia contra desmatamento, queimada, garimpo e poluição”, afirma Tainara.

“A presença de jovens indígenas na pauta ambiental nos enche de orgulho, pois conseguimos renovar possíveis ações que possam abrandar os problemas causados pelas mudanças climáticas. O retorno de Tainara também é muito esperado na comunidade, queremos saber o que representantes de vários países, que estavam na conferência, têm de dados e estudos sobre o clima e suas alterações para que possamos conhecer e divulgar entre nossos parentes a fim de reforçar as transformações necessárias”, afirma Waldemir da Silva, Tuxaua da comunidade Três Unidos.

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