Unidade de pré-beneficiamento de pirarucu na AM funciona com energia solar

Estrutura projetada pelo Instituto Mamirauá deverá ser inaugurada ainda no manejo deste ano/Foto: Bernardo Oliveira

Técnicos do Instituto Mamirauá realizaram oficinas de capacitação na comunidade de Curimata de Baixo, da Reserva Extrativista Auati-Paraná, no estado do Amazonas. As aulas aconteceram nos dias 18 e 19 de setembro dentro da nova Unidade de Recepção e Pré-Beneficiamento de Pirarucu Manejado – uma estrutura flutuante projetada pelo Instituto Mamirauá, que deverá ser inaugurada ainda no manejo deste ano, entre outubro e novembro. A unidade é mais um esforço das comunidades e do instituto para melhorar a qualidade do pescado e, como consequência, seu preço inicial, que quase não aumentou na última década.


Durante as atividades, especialistas do Mamirauá capacitaram membros da Associação dos Agro-extrativistas de Auati Paraná (AAPA) a utilizarem as tecnologias que fazem parte da estrutura. A estação é equipada para receber os pirarucus recém-pescados e para o tratamento do pescado, de forma higiênica e eficiente, até o momento de serem congelados, agilizando o trabalho e melhorando o resultado do pré-beneficiamento.

O Instituto Mamirauá realizou capacitações na Reserva Auati-Paraná, Amazonas/Foto: Bernardo Oliveira

“É um projeto piloto para os manejadores. Só Auati-Paraná está recebendo uma estrutura com esse formato, mas a gente pensa em replicar a tecnologia para outras áreas”, explica Ademir Reis, Técnico em Tecnologias Sociais do Programa Qualidade de Vida (PQV) do Instituto Mamirauá. “Para a gente, está sendo um aprendizado, estamos muito satisfeitos”.

O projeto tem co-realização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Governo Federal.

Flutuante tem tratamento de água fluvial e funciona com energia solar

O flutuante, financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e pelo Serviço Florestal Americano, foi construído no início deste ano. A estrutura é feita com madeira parcialmente coberta por uma camada de fibra de vidro na parte inferior das paredes e no piso, de acordo com as especificações da Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (ADAF). Esteiras, pias e calhas de aço inoxidável, além de mangueiras próprias para limpar o pescado, uma cozinha e um banheiro completam a unidade.

Um sistema recolhe e trata a água do rio, regulando a quantidade de cloro em duas caixas d’água a 10 partes por milímetro – porção adequada para a lavagem do peixe. Em uma terceira caixa, a água é potável. Os efluentes do processo de evisceração e o esgoto vão para uma fossa biodigestora.

Unidade de pré-beneficiamento de pirarucu na Amazônia funciona com energia solar/Foto: Bernardo Oliveira

Para a iluminação geral e bombeamento de água, o abastecimento de energia é feito a partir de um sistema simples de placas fotovoltaicas, com capacidade de gerar energia solar suficiente para as necessidades do trabalho.

O peixe chega à área de recepção, devidamente higienizada, e é direcionado pelas esteiras até as calhas, onde será eviscerado e lavado. Em seguida, volta para as esteiras e é encaminhado a uma mesa, para ser medido e pesado. De lá, vai direto para a refrigeração.

Além de proporcionar as condições sanitárias ideais para o tratamento do pirarucu, a estrutura melhora também o trabalho dos manejadores. O que antes era feito, na maioria das vezes, à beira de rios e lagos, agora será realizado com equipamentos que evitam o excesso de esforço físico e possíveis problemas de saúde.

A estação é equipada para receber os pirarucus recém-pescados e para o tratamento higiênico do pescado/Foto: Bernardo Oliveira

“Quem vai fazer o processo de eviscerar o peixe está muito empolgado, porque eles ficavam na beira do lago, no sol. E agora não, vão estar limpinhos, sem perseguição de insetos”, conta Albides Figueira Alves, professor de português e vice-presidente da comunidade Vencedor, na Reserva Auati-Paraná.

Cartilha de pirarucu é inaugurada entre pescadores

As oficinas começaram na manhã de terça-feira (18) e se estenderam até o final da tarde. Na primeira apresentação, Reinaldo Marinho da Conceição, Técnico em Manejo de Pesca do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá, explicou a importância da vigilância sanitária. Questões como a higiene pessoal, a higiene diária do espaço e a utilização de vestimentas adequadas foram discutidas com os moradores da reserva.

A cartilha “Boas Práticas de Manipulação de Pirarucu” foi, pela primeira vez, utilizada com comunitários. O material é uma adaptação de outras publicações do instituto, com linguagem simples e acessível, desenvolvida para guiar os trabalhadores no tratamento correto do pirarucu, do ponto de vista da vigilância sanitária.

A capacitação dos comunitários em Auati-Paraná e a produção da cartilha contaram com apoio da Fundação Gordon and Betty Moore.

Técnicos do Instituto Mamirauá realizaram oficinas de capacitação na comunidade/Foto: Bernardo Oliveira

Em seguida, Josenildo Frasão da Silva, também Técnico em Tecnologias Sociais do PQV, falou aos presentes sobre os equipamentos de energia solar e tratamento de água, ensinando-os a melhor forma de operá-los. Fechando as apresentações, Ademir Reis abordou, no final da tarde, as possibilidades de gestão comunitária da unidade, fundamental para que ela funcione de maneira sustentável.

Na quarta-feira (19), os manejadores se reuniram para realizar a limpeza do ambiente, a partir das orientações dos técnicos do instituto. Logo depois, um pirarucu foi utilizado para uma simulação do pré-beneficiamento.

Estrutura será administrada pelos próprios comunitários

O flutuante pertence agora à AAPA, responsável por, daqui para frente, promover reuniões e criar mecanismos que envolvam e organizem os moradores em torno do equipamento, para definir as condições de uso e as responsabilidades de cada um. A base, eventualmente, necessitará de manutenções e trará custos à associação. Por isso, é importante que ela esteja preparada para esse tipo de situação.

A estação é equipada para receber os pirarucus recém-pescados e para o tratamento higiênico do pescado/Foto: Bernardo Oliveira

“Eles têm de abraçar a causa e fazer essa gestão compartilhada. Se apropriar [da unidade] e começar a andar com as próprias pernas”, afirma Ademir. A estrutura reunirá pescadores de seis comunidades da região.

Segundo Miguel Arantes, consultor técnico que coordena o manejo de pirarucu na Resex Auati-Paraná, já existe uma comissão para dar andamento a essa organização. “Estamos pensando também em fazer um regimento de uso desse flutuante, onde cada comunidade de pescadores tenha a sua responsabilidade. “.

“Vai facilitar muito o manejo do nosso peixe. Em 2005, vendíamos a [cerca de] quatro reais o quilo do pirarucu. Por falta de uma estrutura dessas, hoje ainda estamos vendendo pelo mesmo preço. Talvez agora possamos vender a um preço melhor. “, relata o professor Albides.

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