Universidade pública – Por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

O termo “universidade pública” comporta muitas realidades. Há nichos de alta competência, concentrados nos Estados mais importantes do País, ao lado de padrões deprimentes de ensino. Comecemos por uma distinção simples: entre as universidades públicas boas e as ruins e, dentro delas, os cursos precários e os que atingem níveis de excelência. Não é difícil identificar um curso ou uma universidade ruim: seus professores não têm conhecimento do que deveriam ensinar; ou têm, mas o valor econômico e social desse conteúdo é nulo; ou não há didática e condições de ensino; ou tudo isso somado.


Identificar uma boa universidade, um bom curso, é mais problemático. No Brasil, o conceito de excelência no ensino superior está imbricado com um correlato seu: o de excelência em pesquisa. A experiência do aprendizado, inerente ao ensino, e a da descoberta, inerente à pesquisa, convivem na mesma esfera, a do conhecimento.

Pesquisa e ensino são coisas correlatas, mas não idênticas. E, dentro de uma mesma instituição, podem tornar-se concorrentes, se o peso de cada uma não for devidamente calibrado. É o que acontece em algumas das boas universidades públicas, em muitos de seus cursos comumente considerados os melhores. No mundo acadêmico brasileiro, a dedicação à pós-graduação, a participação em projetos de pesquisa, a publicação de artigos em periódicos estrangeiros e a frequência em congressos tendem a ser mais valorizadas do que a dedicação à graduação, à preparação de seminários consistentes e com a abrangência adequada – nem especializados demais nem amplos demais -, à relevância dos conteúdos para a formação dos profissionais e à didática.

A boa universidade pública está mais preocupada em formar bons pesquisadores do que bons profissionais, quando o País precisa de ambos. Teoricamente, não há conflito entre as atividades vinculadas à pós-graduação e à pesquisa, de um lado, e à graduação e ao ensino, de outro. Na prática, no entanto, o conflito é evidente, em termos de carga horária, de recursos, de motivação, enfim, da vocação de instituições que atingem ou buscam o que se considera no Brasil a excelência. A atividade-meio, a pesquisa, acaba prejudicando a atividade-fim, o ensino.

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Consultor.

É em parte por causa da dedicação à pesquisa que a média de aulas dos professores das universidades federais é de apenas 10 horas por semana, quando dois terços deles são contratados em regime de dedicação exclusiva, com 40 horas semanais. Outra parte do tempo é consumida no planejamento e correção de trabalhos; nas atividades de extensão, que incluem as polêmicas consultorias privadas; e em outros afazeres que não têm nada a ver com a universidade. Fica patente, no entanto, que a pesquisa drena tempo, energia e recursos além da conta e atrapalha mais do que ajuda em muitos casos.

É desejável que os professores, tanto das áreas das ciências básicas quanto da tecnologia, mantenham contato com o mundo da pesquisa, desde que continuem sendo, essencialmente, professores. O assunto é quase tabu porque a pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil está praticamente confinada à universidade. A iniciativa privada – sem incentivos do governo, asfixiada pelos juros e os impostos, e sem uma cultura de inovação tecnológica – contrata poucos cientistas e investe pouco em P&D no Brasil, em comparação com outros países “emergentes”.

É hora, portanto, de as melhores universidades do País repensarem a correlação entre ensino e pesquisa. E de o País criar espaços para a pesquisa fora das universidades – seja em outras instituições públicas, a exemplo da Embrapa, seja criando condições para a iniciativa privada chamar para si a responsabilidade pela inovação

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