Vingança – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

O medo, transformado em pânico, ajudou a destruir Cartago. O medo, transformado em pânico, pode acabar com o que resta de civilização. Se o medo não for derrotado, os terroristas, mesmo que tenham morrido todos, já terão vencido a guerra, no dia mesmo em que destruíram o World Trade Center. Ao tratar, em um de seus ensaios, do medo que se apossou de Cartago, Montaigne o descreve como “une merveilleuse desolation”, uma desolação sobrenatural. Diante do medo, destaca o grande pensador, até a morte é mais suave: para dele fugir, os homens enforcam-se, envenenam-se, afogam-se. Ou buscam o abismo, como, no desespero, acossados pelo fogo, muitos saltaram do alto das torres de Nova York.


Atribuem a César (e o que não lhe atribuem?) a frase forte contra o medo, quando o advertiram dos sinais aziagos de seu último dia: o homem de coragem morre uma só vez; o covarde, muitas vezes. De Caio Mário, ao convocar a bravura do exército que derrotaria Jugurta, há a máxima que associa a coragem à honra: ninguém coloca um filho no mundo com a presunção de que ele venha a ser eterno, mas com a esperança de que venha a ser honrado. A nós, brasileiros, bastam-nos os nossos próprios e bem instalados medos. Há muitos anos que convivemos com o medo das ruas, o medo da noite, o medo das esquinas, o medo até mesmo de nossos guardiães, oficiais ou privados – além do medo do desemprego, que apavora mais do que a morte (muitos são os desempregados que se suicidam), o medo da fome, o medo da miséria. Em alguma coisa, no entanto, o medo é justo: ele atinge ricos e pobres, embora atinja mais os pobres do que os ricos.

Os pobres não podem pagar seguranças nem erguer altas muralhas em torno de seus barracos; estão impedidos de blindar seus carrinhos, quando os têm; devem enfrentar a viagem nos ônibus sujeitos aos assaltos todos os dias, a caminho do trabalho e de volta a casa. No trabalho dependem do humor de seus capatazes, e amanhecem, a cada dia, sob o medo de receber o aviso prévio de dispensa. Mas os ricos também se apavoram: sua fortuna, sua opulência, sua soberba são também orgulhosas torres, alvos visíveis e atraentes. Mas o nosso maior medo e aí entro no tema específico é com o Presidente da República este sim, nos mete medo.

A tenacidade de acabar com a Zona Franca de Manaus, reduzindo o IPI para produtos industrializados em todo país, realmente acaba com nossa única fonte de desenvolvimento, e ele faz isso, sempre na calada da noite, fez no carnaval e agora na véspera da sexta feira santa.

Promete agora reverter, como já prometeu varias vezes, e tudo por vingança contra os parlamentares do Amazonas que têm mostrado as fragilidades e corrupção do governo, esperemos para ver. Na verdade, havia prometido que não falaria mais desse medíocre Presidente, pois os bolsonaristas de plantão, que são minoria, me atacam por e-mail, por WhatsApp e pelo face, apesar de escrever em jornais.

Bolsonaro é na verdade um pulha, não é capaz de compreender mais do que 100 ou 200 vocábulos nacionais. Um título ou manchete bastam para os dois únicos neurônios – Tico e Teco – se comportarem como prótons, nêutrons e elétrons à beira de uma fissão nuclear. Em lugar de afirmar que a imprensa é a culpada de tudo, deveria parar de atacar jornalistas e se dedicar a governar, coisa que não fez em três nos e quatro meses de governo.

Enfim, não temos um governante. Debitam a De Gaulle a afirmação de que o Brasil não é um país sério. O povo brasileiro, no entanto, é mais sério e mais responsável do que os seus governantes. E uma das formas de ser sério é exatamente o de não se deixar abater pelo medo – sobretudo quando a difusão do medo é de interesse do governo.

 

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