Sem justiça, a dor permanece como um luto interrompido – um ciclo inacabado. Ainda estou aqui , de Walter Salles, transformando a ausência de respostas em resistência ao desaparecimento imposto pela ditadura. Candidato do Brasil ao Oscar de 2025, o filme retrata a vida da família Paiva nunca após o desaparecimento de Rubens Paiva, ex-deputado e engenheiro, detido e assassinado pela ditadura nos anos 70 sob acusações comprovadas.
Ao reviver a história dos Paiva, Salles resgata uma memória de um país cujo futuro foi roubado. Na pré-estreia no festival Janela Internacional de Cinema, o diretor destacou a conexão entre a história dessa família e o Brasil, marcada pela violência de um regime que apagou vozes e sonhos. A obra denuncia o preço de uma ditadura que privou o país de figuras fundamentais, como Paiva, cuja morte segue sem proteção.
Fernanda Torres, interpretando Eunice, encarna a resiliência de uma mãe que enfrenta, por décadas, a impunidade do regime. A atriz contracena com Fernanda Montenegro, que vive Eunice em sua fase final, trazendo potência e sutileza a cada expressão. Ao lado de Selton Mello e um elenco refinado, Torres brilha em uma atuação contida e intensa.
Filmado com sensibilidade, Salles revela, nos primeiros minutos, uma rotina familiar que ganha força diante da brutalidade que se impõe. O cotidiano dá lugar ao silêncio e ao vazio, transformado em armas de repressão. A ausência de Rubens torna-se palpável e sufocante, como uma presença constante. Salles levou sete anos em pesquisa e entrevistas para condensar a história em 120 minutos; há, segundo ele, uma versão contínua que poderá ser lançada futuramente.
Ainda estou aqui concorrendo ao Oscar como Melhor Filme Internacional e em categorias como Melhor Direção, Melhor Atriz para Fernanda Torres e Melhor Roteiro Adaptado, evidenciando o impacto profundo de uma história que continua a ecoar na busca por justiça e memória.
Fonte: CartaCapital