ZFM: o bom senso prevalecerá? – por Arthur Virgílio Neto

Arthur Virgílio Neto é prefeito de Manaus, diplomata/Foto: Reprodução/Facebook

Eu era senador e vi as montadoras de automóveis receberem incentivos generosos, através de medida provisória, enquanto o polo de duas rodas de Manaus agonizava. E se citássemos o financiamento nababesco tão comum ao setor sucroalcooleiro? E se afirmássemos que nenhuma grande indústria brasileira passa sem o aporte de recursos oficiais?


É muito forte o apelo mundial por políticas ambientais corretas. Daí o interesse que a floresta amazônica desperta no mundo inteiro. Interesse e preocupação.

A proteção que o Polo Industrial de Manaus – PIM – garante à estupenda cobertura florestal, que uns cobiçam e todos admiram, é motivo suficiente para sensibilizar o governo. Indago: é inteligente deixar morrer o instrumento que povoa fronteiras, alimenta milhões de brasileiros, mitiga as consequências perversas do aquecimento global? É sábio permitir que o desespero de legiões de pessoas deserdadas desmonte o equilíbrio da região desses rios, que serão vitais para o planeta, já nas próximas décadas?

Concordo que subsídios desonestos ou fúteis devam ser eliminados e que alguns outros, que encarnem importância apenas relativa, sejam reduzidos. Mas será que, em sã consciência, alguém pode aplicar raciocínios restritivos à ideia de fazer florescer o parque industrial da Zona Franca de Manaus – ZFM? Que já faz do Amazonas o maior recolhedor de tributos federais da região norte? Que gera empregos dentro e fora de suas fronteiras?

Arthur Virgílio Neto é prefeito de Manaus, diplomata/Foto: Reprodução/Facebook

Acredito que o bom senso prevalecerá. Se não prevalecesse, teríamos o poder judiciário pronto para dirimir quaisquer pendências. Até porque a ZFM está protegida pela Constituição Federal, até 2073, nos incentivos que recebeu e que são destinados a um projeto justo de diminuição de desigualdades regionais. Esse, aliás, é o fulcro: não dá para dissociar a ZFM do objetivo de reduzir desigualdades entre regiões e nem dá para confundi-la com incentivos destinados a um setor apenas.

Eu era senador e vi as montadoras de automóveis receberem incentivos generosos, através de medida provisória, enquanto o polo de duas rodas de Manaus agonizava. E se citássemos o financiamento nababesco tão comum ao setor sucroalcooleiro? E se afirmássemos que nenhuma grande indústria brasileira passa sem o aporte de recursos oficiais? Que as mais tradicionais, praticamente sem exceção, foram adubadas por isenções fiscais, financiamentos favorecidos ou outros que tais?

Não sou tolo a ponto de considerar que apenas a ZFM é estratégica. Apenas ressalto que condena-la à morte é ameaçar rios e floresta dadivosos. É comprometer o futuro do país. É buscar uma exposição internacional de consequências bem negativas.

Sejam francos: se houver uma disposição real de acabar com o Polo Industrial de Manaus, não há sequer necessidade de extinguir incentivos. Basta deixa-la afundando na crise, ao invés de prepara-la para a economia 4G. Basta ignora-la, não resolvendo suas deficiências de infraestrutura, de internet, de telefonia celular. Basta não estruturar a hidrovia do rio Madeira. Basta não investir em treinamento de mão de obra e nem em inovação tecnológica. Basta alimentar preconceitos, em vez de conhecer, de fato, a Amazônia, seus problemas e suas gigantescas possibilidades.

Não entendendo a nossa região, fica mesmo difícil que alguém, lá do alto de seus títulos acadêmicos, consiga sentir o que a ZFM representa para o Amazonas, para a floresta, para o planeta. Mas seria bom que pensassem logo em suprir essa falha grave, mergulhando, com humildade, na essência desse cantinho prodigioso do universo.

Nunca é tarde para se aprender mais, se é que já se aprendeu muito.

Arthur Virgílio Neto é prefeito de Manaus, diplomata

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