Em acirrada disputa, oposições vencem pleito na UFAM – Por Osíris Silva

Economista Osiris Silva (Am)

Uma lástima, uma vergonha o processo sucessório em curso na Fundação Universidade do Amazonas (UFAM). Ao que se pode claramente depreender das informações circulantes na cidade sobre o pleito para eleição de Reitor e vice-Reitor realizadas na quinta-feira, 22, vem ocorrendo total inversão de valores em detrimento do interesse maior do aluno, do ensino e da produção científica.
Nossa universidade, efetivamente, encontra-se imersa em avançado estágio de desgoverno. O que se reflete na baixa qualidade do ensino e na ínfima produção acadêmica de pesquisas e tecnologia (quase generalizadamente, temo afirmar).


A UFAM, particularmente, no tocante à sua função básica de ensino-pesquisa-extensão vem frustrando expectativas há muito tempo, especialmente desde quando, em larga escala, correntes políticas radicais passaram a minimizar o papel fundamental da universidade na sociedade e a perseguir o poder como forma de dominação ideológica.

Economista Osiris Silva (Am)

A universidade brasileira encontra-se hoje, penso eu, refém de radicalismos ideológicos e tendências políticas extemporâneos e improdutivos. Nossa academia, lamentavelmente, não se dá conta de que os tempos mudaram e o mundo evolui segundo paradigmas indutores de avanços na gestão, na logística operacional, na qualidade do ensino, na produção científica.

A UFAM está, sob múltiplos aspectos, fora desse padrão. Afirmo-o porque mantenho contato permanente com professores, alguns funcionários, além de ter sobrinhos, filhos de amigos e netos aí estudando.

Neste caso, há de se questionar, e também o faço como ex-aluno e cidadão que paga seus impostos, pesquisa e, com regularidade escreve sobre a base econômica, ambiental e tecnológica de nossa região: qual exatamente o papel da universidade no processo de crescimento regional (se é que há um), no levantamento de seus fundamentos históricos, culturais, sociais, antropológicos e econômicos?

Em que estamento da sociedade a UFAM, particularmente, se insere?

Pontos esses que me permito considerar, não para destruir ou ridicularizar, mas para oferecer visão alternativa à reflexão sobre o status quo de nossa principal casa de formação de mão de obra especializada em nível superior.

Chega. Vamos parar de brincar com coisa séria. Não estamos mais dirigindo centros acadêmicos, diretórios ou grêmios escolares. Os que gerem a universidade são de carne e osso e atuam no mundo realidade, não em cenário de ficção. Precisam se convencer dessa realidade.

Não é possível aceitar que uma campanha sórdida que estaria sendo empreendida pela atual Reitoria chegue, estou informado, e envergonhado, ao absurdo de oferecer pagamento a estudantes para votar em seus candidatos. Não se pode tolerar que outras formas de aliciamento cheguem junto a professores (na maioria PH.Ds) e a funcionários graduados com  essa finalidade. Seria isso possível?

Esquecem-se, e esse é o grande vilão da ainda frágil democracia brasileira, que a alternância de mandatos é essencial para a consolidação do processo de gestão democrática. Qual, essencialmente, o objetivo da perpetuação no poder perseguido por certas correntes políticas que, de forma deletéria, ainda se mantém fieis e solidárias, a regimes de força obsoletos?

Resultados

A consulta informal à comunidade universitária de cerca de 40 mil membros, levada a efeito pela UFAM para a escolha do reitor e vice-reitor no quadriênio 2017-2021 teve início às 9h do dia 22, prorrogando-se até ontem, 23. A votação no campus em Manaus é feita por meio de urnas eletrônicas, acompanhada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM).

Três chapas concorrem à eleição: Chapa 17 “Juntos pela UFAM”, que tem como candidato a reitor o professor Hedinaldo Lima e a vice-reitora a professora Nikeila Conde; Chapa 31 “Contraponto”, com as professoras Arminda Mourão e Iolete Ribeiro, concorrendo aos cargos de reitora e vice-reitora, respectivamente; e a Chapa 33 “UFAM: conectada para o futuro”, que tem como candidatos os professores Sylvio Puga e Jacob Cohen.

O resultado das urnas é o seguinte: Hedinaldo obteve 41,34% enquanto a porcentagem de Puga foi de 32,71%.  Arminda Mourão, com expressiva votação ficou com 25,96%.

Desta forma, a escolha final vai ser definida em segundo turno no próximo dia 31, envolvendo os candidatos Hedinaldo Lima, reitor, e a professora Nikeila Conde, vice -reitora, contra a Chapa 33, encabeçada pelos professores Sylvio Puga e Jacob Cohen, candidatos a reitor e vice-reitor, respectivamente.

Governança

Na verdade, ao que pesquisei, não existe modelo predominante para a governança da educação superior, afirma relatório elaborado pela rede europeia de análise de educação superior Eurydice, publicado em 2008. “Mas fica claro que, em anos recentes, na maioria dos países as partes interessadas externas têm assumido papeis importantes no funcionamento interno das instituições.”

“Partes interessadas externas” (external stakeholders) é o termo usado, no relatório, em referência a figuras de fora do meio universitário imediato, como agentes políticos, governo e membros da comunidade em que o campus se insere.

O relatório Eurydice divide a estrutura de governança das instituições europeias nos seguintes níveis: regulação externa, exercida por órgão do governo (o equivalente, em termos brasileiros, a um ministério ou secretaria estadual); orientação externa, nome genérico dado ao poder de coordenação delegado pelos governos a conselhos, diretorias ou outros órgãos formados por figuras externas à universidade; administração interna, responsável pela condução do dia-a-dia da instituição; e administração acadêmica, nome genérico dado ao poder exercido pelas comunidades acadêmicas da universidade, geralmente por meio de votações e consensos.

Na Áustria, a tomada de decisões é partilhada por um senado acadêmico e por um conselho formado só por figuras externas à instituição.

Nos Estados Unidos, onde muitas das principais universidades são geridas ou supervisionadas por corporações privadas, compostas majoritariamente por figuras que não participam do dia-a-dia do campus, a presença de “partes interessadas externas” à comunidade imediata de professores, alunos e funcionários na condução dos assuntos universitários é uma tradição que remonta, em alguns casos, à fundação das instituições.

Nesse contexto, grandes universidades americanas, como Harvard e Yale, reservam um espaço privilegiado a ex-alunos em suas estruturas de tomada de decisão.

Em Oxford, no Reino Unido, o vice-chancellor tem um mandato máximo de sete anos e, desde 2000, não precisa mais ser escolhido entre os membros da Congregação, órgão deliberativo máximo da universidade, composto por professores, pesquisadores e funcionários. O neozelandês John Hood, que ocupou o posto de 2004 a 2009, foi o primeiro vice-chancellor escolhido fora dos quadros da instituição.

Já o posto de chancellor de Oxford é vitalício. Atualmente, seus deveres são principalmente cerimoniais. O chancellor é eleito pela Convocação, um colegiado que inclui, além dos membros da Congregação, ex-alunos e professores e funcionários que tenham se aposentado enquanto ainda membros da Congregação.

É o que, e como, penso. Que as correntes do atraso e da improdutividade sejam banidas de vez da nossa UFAM, e que, reconhecendo infausto e prolongado equívoco, volte-se de vez em direção da sociedade, não mantendo-se de costas aos seus anseios.

Como afirma a professora Cinthia Nascimento Coelho, em artigo publicado na Revista Ietec, de 2009, “sustentabilidade, crise econômica mundial, mudanças climáticas, escassez da mão de obra, inovação. Estas são as palavras-chaves que compõe o vocabulário das mudanças pelo qual passa o mundo e que, inevitavelmente, impõe a cada um de nós a busca por um novo modelo de vida no planeta. Neste cenário, a educação tem peso de ouro e as universidades passam a assumir um papel fundamental no processo reflexivo da sociedade”.

Este, verdadeiramente, o grande desafio, o maior compromisso que a universidade deve, em contrapartida, assumir para com a sociedade que a sustenta.

A propósito, anexo a esta, encontram-se dois artigos que publiquei em minha coluna de A Crítica, edições de 13 de fevereiro (ZFM, ciência e tecnologia o maior gargalo) e de 13 de março do ano em curso (ZFM, déficit tecnológico compromete matriz econômica e ambiental), nos quais questiono, dentre outros, o papel da universidade no processo econômico desta terra.(Osíris Silva é Economista, Consultor de Empresas e Escritor – [email protected]
NR – Artigo publicado, excepcionalmente, hoje (25-03-17)

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