
Venezuelanos que estão a mais de 15 dias no abrigo improvisado na zona Oeste de Boa Vista serão retirados do local para que ocorra rotatividade de pessoas, informou nesta sexta-feira (2) a Defesa Civil do estado.
A medida atinge somente venezuelanos não-índios. De acordo com denúncia feita por eles ao G1, a Defesa Civil deu até sábado (3) para que eles deixam o local.
Em abril deste ano, o governo estadual anunciou que ia continuar oferecendo apoio e abrigo aos venezuelanos no estado “por tempo indeterminado”.
Entre os venezuelanos que podem ser retirados do abrigo está José Gregório, de 46 anos. Ele está no abrigo há 15 dias e disse estar apreensivo com a determinação da Defesa Civil.
Gregório veio a Roraima há cinco meses em busca de ganhar dinheiro e enviar à família que ficou na Venezuela.
Vim buscar refúgio no Brasil porque na Venezuela é impossível de ser viver devido à crise política e econômica. Mas terei de sair daqui [alojamento] sem ter para onde ir. O local é só para os índios. Não tenho trabalho e nem dinheiro? lamenta, revelando haver cerca de 80 não-índios no abrigo.
De acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Doriedson Ribeiro, que também responde pela Defesa Civil, atualmente há 180 indígenas venezuelanos da etnia Warao no abrigo.
Na mesma situação de Gregório está o pintor Daguin Padia, de 33 anos. Longe da Venezuela há 15 dias, ele afirma que sair do abrigo é um “golpe” contra os venezuelanos que vêm a Boa Vista em busca de emprego.
Os indígenas não são mais que nós [não-índios]. Sou refugiado. Um tenente dos Bombeiros dando prazo para sairmos. Vão nos tirar de um teto e nos pôr na rua. Isso é um massacre, um golpe contra nós que só queremos trabalhar? diz. Padia deixou em Caracas cinco filhos.
Mãe de dois filhos, um de três meses e outro de dois anos, Joseana Carolina, de 17 anos, chegou a Roraima recentemente com o marido. Ela disse ter sido informada que não precisará deixar o abrigo em razão de ser mulher, mas teme que o marido tenha que sair.
Estou há cinco dias em Boa Vista. Temos assistência mínima. A comida é escassa para nós aqui. Meus filhos estão doentes, com diarreia e febre. Só os indígenas recebem atendimento médico, nós não. Não sabemos o que fazer se sairmos daqui. Meu marido ainda não arrumou emprego? declara.
Alojada no abrigo há duas semanas, Pricila Dias, de 34 anos, disse que pretende ir para a praça Germano Sampaio se tiver de deixar o local. Ela está na unidade com o filho de dois meses e o marido.

“Não temos para onde ir. A praça é a nossa única opção. Ninguém fala se terá alguma lugar para gente. Meu esposo começou a trabalhar hoje [sexta]. Mas não temos condições de nos mantermos, por enquanto”, afirma.
O abrigo é mantido pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil com apoio da Federação Humanitária Internacional.
Rotatividade é necessária, diz Defesa Civil
O coronel do Corpo de Bombeiros Doriedson disse que o prazo de estadia no abrigo é de 15 dias. Segundo ele, é necessário manter a rotatividade de pessoas no local, e sustenta não haver privilégios para o índios venezuelanos Warao em detrimento aos não-índios.
“Tem alguns [abrigados] que estão ficando tempo demais. É um abrigo, não é para morar. Tem de haver a rotatividade de refugiados. O local é para permanecer um tempo até se regularizar no estado. Além disso, há a questão dos índios que são mais vulneráveis. Os que sairão, são homens saudáveis que podem trabalhar”, sustenta.
Ainda conforme Doriedson, o prazo de permanência é informado quando o venezuelano chega ao local.
“Tudo é explicado. Inclusive a Acnur [Agência da Onu para Refugiados] vai nos auxiliar na nova administração no abrigo. Nenhum local deverá acomodar venezuelanos por período indeterminado”, acentua.
O coronel disse que não foi estabelecido um local para os não-índios ficarem após deixarem o abrigo. “Mas independe disso, a rotatividade é normal. Isso já vem ocorrendo constantemente”, diz.
O G1 entrou em contato com assessoria do Governo Estadual para saber quais medidas serão tomadas com os não-índios que podem deixar o abrigo, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.
Fonte: ITAQUERA