Embaixador Chinês no Brasil recebe ameaças por telefone

Embaixador chinês em Brasília é ameaçado por telefone após responder filho de presidente. Pequim negocia ajuda ao Brasil na crise do coronavírus - foto: arquivo/B. In Foco

Fontes da diplomacia disseram que o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming foi ameaçado por telefone, depois que respondeu aos ataques do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), após declarações do deputado de que se a China fosse uma democracia, não uma ditadura, a pandemia de coronavírus teria sido barrada.


Após as declarações, o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming, recorreu à rede para se queixar de Eduardo, cobrou que ele pedisse desculpas ao seu povo e falou que protestaria junto ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e ao chanceler Ernesto Araújo.

Também na rede, a embaixada da China foi ainda mais dura. Acusou o deputado de, após ter voltado de uma viagem a Miami na semana passada, teria contraído um “vírus mental”, que estaria afetando a amizade entre os dois povos.

A alfinetada chinesa não é por acaso. Nesta quinta, a embaixada voltou a responder após a entrevista na CNN: “São absurdas e preconceituosas as suas palavras, além de ser irresponsáveis. Não vale a pena refutá-las”.

Apagando incêndio

Da Câmara, Maia pediu desculpas em nome dos deputados. “A atitude não condiz com a importância da parceria estratégica Brasil-China e com os ritos da diplomacia”, afirmou pelas suas redes. E do Itamaraty, o ministro Araújo chamou a atenção tanto do embaixador Yang quanto do deputado Eduardo. Afirmou que o chinês ofendeu o presidente brasileiro e que sua reação às críticas do deputado eram desproporcionais. E ressaltou que o parlamentar não falava em nome do Executivo.

Bananinha

Os bombeiros tiveram de agir. Do Palácio do Planalto, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o parlamentar não representava o Governo de seu pai. “O Eduardo Bolsonaro é um deputado. Se o sobrenome dele fosse Eduardo Bananinha, não era problema nenhum. Só por causa do sobrenome. Ele não representa o Governo”, disse à Mourão ao jornal Folha de S. Paulo.

A repercussão no Parlamento e entre empresários foi quase imediata e dura. Em nota, assinada pelo seu presidente, Alceu Moreira, a Frente Parlamentar da Agropecuária, da qual participam quase 300 dos 584 parlamentares brasileiros, ressaltou que “declarações isoladas não representam o sentimento da nação ou de qualquer setor”.

IBRACHINA

O Instituto Sociocultural Brasil-China (IBRACHINA) repudiou as críticas do congressista e a tratam como um “ataque discriminatório contra a comunidade chinesa”. Em documento assinado pelo presidente do órgão, Thomas Law, a entidade comparou a atitude de Eduardo a de fascistas. “Culpar o povo chinês, que mais sofreu com o coronavírus, é inadmissível. O filósofo alemão Theodor Adorno definiu esse tipo de ataque com clareza em 1947 ao afirmar que ‘culpar a vítima é uma das características mais sinistras do caráter fascista’”.

Teoria da conspiração

Nas redes bolsonaristas, entretanto, o discurso do parlamentar foi aplaudido. Em quatro grupos de WhatsApp que a reportagem monitora era comum receber mensagens como: o “vírus é chinês” ou a “China ataca o Brasil”. Neles, os autores das postagens e das imagens diziam que o deputado Eduardo tinha razão. E apresentavam teorias conspiratórias como a de terraplanistas que creem que os chineses criaram o vírus para ganharem mais dinheiro nas bolsas de valores.

Em seu Twitter, o professor de relações internacionais da FGV e colunista do EL PAÍS, Oliver Stuenkel, disse que o ataque de Eduardo à China era calculado. “[Ele] desvia a atenção da resposta incoerente do Governo à pandemia e mobiliza apoiadores contra um inimigo comum.

Tentará criar sentimentos anticomunistas e nacionalistas”. Também classificou a reação do embaixador chinês como um erro. “Afinal, é exatamente isso que ele [Eduardo] precisa para começar a briga. Teria sido melhor ignorar o episódio”.

Assessores do presidente Bolsonaro reclamaram das críticas feitas pelo seu herdeiro e lembraram que, além dos negócios entre os dois países, a parceria no combate ao coronavírus pode ser afetada. Desde a semana passada o Brasil negocia a doação de respiradores e equipamentos de proteção individual que os chineses não estão mais usando após a contenção da pandemia no país.

El País

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