
“Bolsonaro sabe que precisa avançar ao centro para ter alguma chance e a narrativa golpista só conseguiu assustar esses setores”, analisa Helena Chagas.
JAIR Bolsonaro compareceu ao esvaziado ato anti-STF de Brasília e mandou um vídeo ao de São Paulo, mas é nítido que baixou o tom.
Não discursou no DF e ficou no leto-lero para agradar aos paulistanos.
Por que?
Porque foi avisado por coordenadores políticos da campanha de reeleição que, pelos primeiros levantamentos, o discurso golpista contra o Supremo e as ameaças à eleição não angariaram um só voto a favor de sua reeleição.
Bolsonaro continua encarcerado em sua bolha, e foi para agradá-la que marcou certa presença cautelosa nos atos. Mas sabe que precisa avançar ao centro para ter alguma chance de chegar mais perto de Lula na eleição, e a narrativa golpista de colocar as Forças Armadas para contar votos só conseguiu assustar esses setores.
Foi lembrado que, na última investida antidemocrática, no 7 de setembro, amargou o crescimento de sua rejeição nas pesquisas por quatro meses.
Não por acaso, a frente democrática que Lula tenta construir em torno de sua candidatura avançou nos últimos dias, quando vimos personagens como João Doria defender o diálogo com o petista e como Armínio Fraga declarar voto nele num segundo turno.
Mesmo setores antipetistas do establishment já admitem, nas conversas, que diante de um presidente que prega o golpe – e que tem grandes chances de desferi-lo se for reeleito – e Lula, não há alternativa a não ser ficar com o segundo.
Laranja e abacaxi
É por aí que as tentativas de comparar Lula e Bolsonaro, como fez parte da mídia nas manifestações de 1 de maio, vão ficando cada vez mais sem sentido. Dizer que os atos sindicalistas dos aliados de Lula foram tão esvaziados quanto as manifestações golpistas de Bolsonaro é comparar laranja com abacaxi.
Uma coisa não tem nada a ver com a outra
Há muitos anos as centrais sindicais fazem atos e reúnem sindicalistas e simpatizantes – às vez mais gente às vezes menos, mas são manifestações desse público, que não atraem e nem convidam outros grupos. Lula tinha que estar lá, mas o ato do Pacaembu não era, e não foi planejado para ser um comício do petista. Não serve de medida política para nada.
Já os atos convocados para bater no STF e pregar o golpe tiveram a clara intenção de reunir muita gente e amedrontar a população e as instituições da democracia.
Não conseguiram
Seu esvaziamento, sim, serviu de medida para alguma coisa: o esvaziamento de Bolsonaro e sua bolha golpista e a configuração que começa a se consolidar no quadro eleitoral: de um lado, o risco à democracia; de outro, todos os que são contra o golpe, que representam a ampla maioria.
A novidade é que Lula, cada vez mais, agrega essas forças em torno de sua candidatura.
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