
Há 30 anos, o Brasil lançou um projeto audacioso para estabilizar sua economia após um período prolongado de alta inflação, que corroía o poder de compra da sociedade e gerava incerteza. O Plano Real, inicialmente recebido com desconfiança devido ao fracasso de planos anteriores, focou em soluções de longo prazo. A abordagem do governo incluiu a criação de uma moeda virtual, a Unidade Real de Valor (URV), que estabilizou preços e salários antes de ser convertida no real, a moeda atual.
1º de Julho de 1994: A Virada Econômica
A introdução do real em 1º de julho de 1994 transformou radicalmente o cenário inflacionário do Brasil. A inflação, que chegou a 4.922% no acumulado em doze meses até junho de 1994, caiu drasticamente para 22% em 1995. Segundo Sergio Fausto, diretor-executivo da Fundação FHC, a inflação funcionava como um imposto silencioso e perverso, especialmente para os pobres. Desde então, a inflação acumulada em 12 meses ultrapassou 9% apenas em raras ocasiões, com a inflação de 2023 registrada em 4,6%.
Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda e um dos principais arquitetos do Plano Real, destaca a importância de comemorar os avanços e reconhecer os desafios que ainda existem. Ele ressalta a necessidade de reformas para que o Brasil possa crescer de maneira mais sustentável e enfrentar questões fundamentais.
Confiança e Previsibilidade
O real se tornou a moeda mais longeva do Brasil, trazendo um ciclo de confiança e previsibilidade. Antes, os brasileiros enfrentavam dificuldades para planejar o futuro e manter o valor de salários e poupanças. Com a nova moeda, o país conseguiu estabilizar a política fiscal e facilitar a organização financeira das famílias. Isso criou um ambiente favorável para o desenvolvimento econômico e social, atraindo investimentos, gerando empregos e permitindo a implementação de programas sociais de forma mais eficiente.
A Construção do Plano
A elaboração do Plano Real começou em 1993, sob a liderança do então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, durante o governo de Itamar Franco. Uma das principais características do plano foi a transparência, evitando surpresas e disputas judiciais que marcaram planos anteriores. A execução do Plano Real se dividiu em três partes:
1. Programa de Ação Imediata: Estabelecido em 1993, focado na redução e gestão dos gastos da União.
2. Criação da URV: Em fevereiro de 1994, a Unidade Real de Valor foi introduzida como medida provisória antes de ser convertida no real.
3. Implementação do Plano: Realizada pelos sucessores de Fernando Henrique no Ministério da Fazenda, Rubens Ricupero e Ciro Gomes.
A Grande Sacada do Plano Real
Fabiano Jantalia, especialista em direito bancário e ex-procurador do Banco Central, destaca que a grande sacada do Plano Real foi a abordagem gradual e estruturada para atacar não só a inflação do dia-a-dia, mas também suas causas estruturais. O plano trouxe soluções para a gestão de contas públicas e mais responsabilidade fiscal, culminando na Lei de Responsabilidade Fiscal.
Pedro Malan enfatiza que o sucesso do Plano Real foi fruto de uma década de discussões acadêmicas e tentativas anteriores de estabilização econômica, como os planos Cruzado, Bresser, Verão e Collor. Essas experiências proporcionaram valiosos aprendizados que contribuíram para a elaboração e implementação bem-sucedida do Plano Real.
Documentário “Real: O Plano que Mudou o Brasil”
Para comemorar os 30 anos do Plano Real, a equipe do Jornal da Record produziu um documentário detalhado, dividido em três episódios, onde figuras importantes como Fernando Henrique Cardoso, Pérsio Arida, Pedro Malan, Gustavo Franco e Edmar Bacha compartilham os bastidores dessa trajetória histórica.
O Plano Real não apenas estabilizou a economia brasileira, mas também transformou a vida dos brasileiros, proporcionando um ambiente mais estável e promissor para o desenvolvimento do país.
Fonte: R7