
Um pequeno jardim no canteiro central de uma rua na cidade de Manaus é cultivado por um rapaz que não tem salário, sapatos, instrução acadêmica e nem casa para morar. Mas ele cuida daquele pedaço de terra com zelo e amor, contribuindo positivamente com o planeta azul, porque borboletas, libélulas, formigas, pássaros, flores, plantas, árvores e frutas estão lá e tornam o lugar agradável e espalham vidas em um mundo de mortes.
Todo dia ele limpa o lugar, conversa com as plantas, observa o canto dos pássaros nas árvores, em uma relação de harmonia entre homem e natureza, impedindo que alguém possa fazer mal sequer a uma flor. É um vigilante permanente, parece que aquilo é, literalmente, o seu mundo ou entende que é parte de um universo que vai muito além da maldade humana.
Esse rapaz jamais terá reconhecimento pela população e pelos governantes por conta do seu amor pelo planeta Terra. Não é um Neymar, nem um influencer com milhões de seguidores. Jamais receberá uma comenda legislativa, pois não é cabo eleitoral, magistrado, promotor de justiça, delegado de polícia ou pastor de igrejas. É apenas um ser finito preocupado com a reprodução de vidas, representando apenas uma pequena parte de um grão no universo que se expande ao infinito.
Como moro a cem metros do “jardim dele”, há um mês, eu o contratei para podar os meus lírios, ixoras e bougainvilles. O rapaz chegou em minha casa às seis horas da manhã, trazia nas mãos apenas uma faca de cortar pão. Ele disse que era a sua ferramenta de trabalho. Acreditei que o serviço fosse para duas horas de trabalho. Porém, terminou depois das 14hs. O jardineiro cortava cada galho conversando com as plantas e sempre desviava a sua faca dos galhos com flores. Parecia um cirurgião pedindo licença das plantas!
Fiquei analisando sobre como é lindo o único planeta que tem vida. Águas, terras férteis, ar, florestas, frutas, sementes, flores, luz solar, luar para namorar e uma quase infinidade de animais que formam ecossistemas únicos no universo, mas sei que a maioria da espécie humana diariamente destrói o planeta Terra. Se julga muito superior a qualquer outro ser vivo. Com isso, extermina outras espécies de animais e os seus semelhantes, criando modelos de governança econômica ou inventando religiões para legitimar mortes, guerras e fomes.
As abelhas que estão pousando no jardim do ecologista voluntário contribuem com o nascer de novas vidas e de frutos que alimentam milhares de animais, inclusive o animal humano. As formigas são importantes, assim como os pássaros para equilíbrio dos ecossistemas. Quem dera tivessem os seres humanos outras condutas para salvar da extinção os animais e a si mesmo da destruição que promove contra o planeta da vida.
No mundo em que a vida não vale quase nada, em que o ser humano contamina a própria água que bebe, faz dos canteiros das ruas entulhos de lixo e onde a produção de bens de consumo são os grandes protagonistas. Quem adota pequenas iniciativas para cuidar melhor do planeta Terra merece toda admiração, ainda que seja o cultivo de um pequeno jardim de plantas, árvores e flores no bairro do Parque Dez, na maior metrópole do norte da floresta amazônica.
Sociólogo, Cientista Político e Advogado.