A banalização do ser Mestre nas Artes Marciais – por Garcia Neto

Mestre Garcia Neto
Mestre Garcia Neto

O MMA (Mixed Martial Arts) é a modalidade esportiva de combate com maior índice de popularização na atualidade. A mídia mundial começou a mostrar o esporte como uma forma benéfica para formar um verdadeiro lutador, aquele que treina duro diariamente. Isso foi mais que um empurrão, para que o MMA virasse uma febre no Brasil, contribuindo para o surgimento de novas academias ˗ inclusive as de fundo de quintal ˗ atraindo novos adeptos e, por conseqüência, a eclosão de novos “mestres”, além do aumento indiscriminado do número de faixas pretas nesse mercado esportivo.


Para quem acompanha a evolução do MMA, percebe a sórdida banalização do ser faixa preta e do ser Mestre nas Artes Marciais, com destaque para o Jiu-Jitsu e a Luta Livre. Até parece que o processo de graduação do atleta não passa mais pelo critério mais comezinho estabelecido pelas instituições representativas ocidentais, que é o período de permanência em cada faixa. Para acesso à faixa preta basta ter fortes laços de amizade com um dos muitos “mestres” e pronto, logo logo você torna-se um “black belt” na maior cara de pau.

Até bem pouco tempo era difícil encontrar um faixa preta, o que para maioria dos praticantes, entre os quais me incluo ˗ já que nos anos de 1962 era bastante raro ˗, significava um sonho para qualquer garoto de minha idade (12 anos). Tive sorte de ter a simpatia de um Mestre japonês, 8º Dan, que fez minha iniciação no Judô, depois, levou-me à prática do Karatê-dô dentro dos critérios mais rígidos da arte japonesa. Uma disciplina obrigatória na planilha pedagógica das Artes Marciais chinesas e japonesas é o estudo da anatomia humana. O praticante das Artes Marciais de hoje não sabem da necessidade de se conhecer sobre o corpo humano, os sistemas, o funcionamento dos órgãos, e a fisiologia humana.

O ser sensei ou o ser Mestre nas Artes Marciais.
O ser sensei ou o ser Mestre nas Artes Marciais.

Mas, tudo está mudado. O atual ser faixa preta desconhece todo o encanto de um rigor tradicional e milenar que deveria ser respeitado, por ser algo de difícil acesso ou conquista. Podemos encontrar Faixas Pretas em qualquer lugar deste Brasil. O que é pior, na sua maioria apresentando comportamento incompatível com o grau adquirido, enfim, mostra ser aquele que ainda não descobriu que ensinar é aprender e sequer se apercebeu da necessidade de uma reavaliação de seus maus hábitos e erros do passado para chegar próximo do equilíbrio, do autocontrole e da disciplina.

Ser faixa preta ou Mestre ficou tão comum, pela facilidade de acesso através da politicagem, da chantagem ou pela submissão, subserviência, prestação de serviços, favores ou outros mecanismos não recomendáveis. Treinos, dedicação, reflexão, humildade, meditação, disciplina e compromisso com a conduta adequada, nem pensar. De tão popular dentro do Jiu-Jitsu e da Luta Livre, o ser faixa preta ou o ser Mestre já perdeu todo o sentido filosófico, e, pelo andar da carruagem, o novo objetivo dessa turminha de intolerantes é ser reconhecido como Grão-Mestre. Pouco importa a maestria e a grandeza de espírito. É desagradável ver a vaidade e a ambição de muitos graduados de faxada mostrando a marcação dos graus na faixa e desconhecem que as grandes conquistas implicam em grandes responsabilidades.

Enfim, o que identifica o verdadeiro ser professor, o ser senpai, o ser shifu, o ser sensei ou o ser Mestre nas Artes Marciais é sua origem, seus ancestres, pelo tempo e habilidades dentro da modalidade. Sem esses critérios básicos nada existe, tudo é enganação, é expor as Artes Marciais ao descrédito. Como exemplo de ancestralidade, o Grão-Mestre Raimundo Gomes (7º Dan) é graduado Faixa Preta pelo Grão-Mestre Yong Min Kim, 9º Dan; o Shifu Ari Galvão, graduado pela Grã-Mestre Lily Lau; este articulista (3º Dan) é Faixa Preta do Shiran Shuseki Tanaka, 7º Dan; o professor Mike Garcia, da equipe Totonho Aleixo, tem como ancestre o Grão-Mestre Carlos Bruno Cilla.

O momento é oportuno para estimular qualquer garotão despreparado a montar sua academia de MMA em cima de laje aberta ou no fundo do quintal sem a supervisão de um profissional devidamente graduado e federado. E fica o alerta: não seja inocente, informe-se para não ser enganado e nem vítima desse golpe. Repito, evite academias de garagem, de fundo de quintal ou montadas em laje aberta e procure saber o passado e os ancestres daquele que se apresenta com uma faixa preta na cintura ou o que se diz Mestre.
*Garcia Neto é jornalista e professor universitário.

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