
Entrar em análise é mudar sua condição projetiva, em que o sujeito para de se queixar do mundo e passa a se implicar. Se implicar é uma postura de gerar responsabilização sobre si mesmo, que é uma condição substancial para que uma pessoa tenha uma visão interior de si mesmo, e o despertar de sua relação para com o mundo. Desta gestação do conhecimento de si mesmo é que o entendimento das vivências realmente irá aflorar sobre o indivíduo libertando-o da sua condição de sofrimento.
O mal-estar é condição da situação humana. Ele está calcado sobre o desamparo que não irá caminhar por sobre o seu eixo de concretização da satisfação com os elementos que uma pessoa é capaz de manipular em sua vida. Então daí vem a função da psicanálise de fazer com que o sujeito veja em seu mal-estar o responsável para o não alcance de sua satisfação pulsional.
Muitas pessoas adoram se apropriar sobre “infernos” da vida. Na forma de observação da vida cultural em que o gozo pelo conflito atraí muito mais atenção dos leitores, dos ouvintes e dos telespectadores ávidos por incorporar sensações que despertam aspectos de criticidade, conformidade, estereótipos de conflito, sentimentos e manifestação de aspectos morais e éticos.
A reflexão de qualquer pessoa tem sentido de encontrar uma elaboração cuja tendência cíclica é geradora de princípios refratários de repetição. Porque para o indivíduo que canaliza conflitos a escolha sempre permanece inalterada porque está inserida dentro do padrão de vida do indivíduo. Então é comum observar que na virada do ano sempre o ambiente projetivo persevera sobre a manutenção de uma promessa de um ano melhor e as juras de amor neste período faz vivificar a necessidade do convívio harmonioso com o ser que ama. E o mesmo padrão se repete quando chega o carnaval, em que a promessa é de desprendimento da rotina de pensamento anterior em que uma visualização de uma liberdade, faz o indivíduo esquecer da promessa de amor eterno na transcrição da passagem do ano.
A ética médica ao visualizar o paciente o coloca na posição de narrador e ouvinte do diagnóstico do profissional, enquanto a ética do analista está inserida dentro da ética de construção do pensamento do paciente, em que recai sobre este toda a responsabilidade de suas ações. Se o paciente sofre perante o médico é sua responsabilidade de tirar o indivíduo da angústia pelo meio medicamentoso, isto é a responsabilidade do saber do médico. Agora se o sujeito sofre, a percepção do analista é de despertar o indivíduo para que ele mesmo encontre o caminho que irá tirá-lo da aflição – que é de total responsabilidade do paciente a reflexão que ele deverá construir sobre si mesmo que será alvo de cura de seus temores e aflições.
Quando o paciente se implica ele começa a duvidar da sorte. Quando indaga conclusão é o próprio sujeito responsável por sua conduta. O inconsciente humano é cultural. Hoje as a forma de histeria visualizada no final do século XIX em abundância de convulsões dos sentidos é observada por uma forma variada de surtos. O histérico de hoje apresenta sua compulsão na percepção de um extravasamento sensorial na forma de surtos em que uma grande carga de delírio está presente.
O desejo do histérico é inapreensível. Se antes Freud nos ensinou a relação do ser humano com seus país na constituição do pensamento na visualização do elo gerado pela convivência como a fabricação de instâncias psíquicas inicialmente denominada por complexo de Édipo, em que a aproximação do amor paterno do seu filho é um forte constituinte que irá condicionar os desdobramentos futuros da percepção de um indivíduo e que o irá acompanhar como uma estrutura de condicionamento por toda a sua vida, então hoje este estudo inicial está ancorado nas transformações em que a mudança da cultura desencadeia sobre os indivíduos profundas mutações na forma em que as pessoas constroem laços de relacionamento em sua vida.
A cultura portanto, se altera e com ela a constituição psíquica. Hoje o porteiro, o google e professor podem exercer no lugar dos pais a função paterna na construção deste constituinte psíquico de uma pessoa.
Quando se quebra o padrão quer se saber na realidade qual a implicação da ruptura.
Então a questão é saber quais objetos uma pessoa deve investir em sua vida? Sendo que a visão do passado histórico humano, as pessoas estavam muito preocupadas em saber o que ela deve investir? Observe que o universo humano antes parece sofrer de limitação quanto ao critério de objetivação de escolhas, ao passo que hoje a implicação em torno de algo parece ser muito mais multidimensional em que afeta diretamente nossas escolhas pessoais.
Uma análise hoje é capaz de transformar um conflito imobilizador para fazer surgir a criticidade necessária para o retorno do desenvolvimento humano. É preciso transformar a rigidez em flexibilidade quando a forma de bem usar a psique humana e conduzir o indivíduo para a satisfação de suas necessidades e seu desejo de conquista de sua condição de felicidade.
A questão é saber se questionar o que isto em mim, na visão do paciente que se indaga para encontrar respostas, atrapalha as minhas relações comigo mesmo e com as outras pessoas que compartilho o ambiente? O que verdadeiramente atrapalha os meus laços sociais? Há que se ter coragem para perceber a si mesmo e reconhecer que nossas escolhas afetam o clima e o ambiente em nossa volta. É preciso transformar a moral da necessidade em ética de desejo.
A psicanálise é mantenedora porque está ancorada em princípios éticos que sintetizam os elementos que colaboram para a manutenção de sólidos laços culturais entre as pessoas de uma sociedade.
É preciso reconhecer que o meu desejo implica no desejo do outro. A minha necessidade perversa de usar o outro, utiliza as pessoas de meu convívio como insumo e argumento para meus desejos. Então não há que se dissociar a ética deste enlace, uma vez que sou responsável por mim mesmo e também pelo outro que a implicação de meus desejos corrobora para que a minha satisfação seja também atingida quando necessito implicar o próximo através de meus processo projetivos e perceptivos quando minha volição está em jogo dentro deste arcabouço de processos.
Uma relação perversa não tende a se sustentar quando o indivíduo não contabiliza a permuta sensorial em que o outro também deve exercer o seu direito de satisfação sobre um conteúdo, motivo da relação entre as partes.
A perversão em que Freud assinala não está no sentido antagônico do bem moral, mas da relação de dependência que é formada entre as pessoas na formação dos seus laços sociais afeta ao desejo de um.
Então a questão é cada indivíduo se perguntar o quão ele é objeto e o quão ele é instrumento de desejo do outro? E deste questionar se chegar à conclusão de o quanto isto está impactando para a construção da felicidade e satisfação na sua própria vida e por sobre a vida do outro? Assim se elimina a perversão no sentido de causar o mal a si mesmo e ao outro pelo antagonismo que o conflito desencadeia na geração de sofrimento e atrito entre as pessoas.
A gente precisa se pertencer para se sentir amparado pelo meio social, como se uma espécie de apoio colaborasse para a nossa manutenção e fixação do que somos e do que objetivamos construir quando a realidade é que compartilhamos em agrupamento uma mesmo espaço territorial, e a soma de nossas atitudes irão construir a nossa objetividade no modo de agir e estarmos inseridos dentro do contexto social.
Portanto, nós somos filiados, nós precisamos de filiação, nós precisamos das pessoas, porque sabemos que sozinhos a nossa condição de vazio irá afetar enormemente nossa integridade, porque a noção de vida é a própria partilha, porque através dela é que há métricas de comparação em que o crescimento é visualizado. E estar numa condição de isolamento, não se edifica um saber, porque não tem serventia não utilizar com outros fazendo com que a pessoa caia em delírio na necessidade de se comunicar com o mundo o que se sente e o que se apreende, como no filme O Náufrago em que o personagem principal não encontra outra alternativa de diálogo do que o delírio enigmático de si mesmo na construção de sua subjetividade na construção de seu pensamento com os objetos de naufrágio.
A psicanálise encontra soluções para contornar o vazio na limitação do sofrimento do paciente. As relações sempre pedem contrapartida. Os meios de transportar o desamparo também é alvo de construção do pensamento de análise para que o indivíduo seja menos propenso a se afetar negativamente em sua vida. O que de fato pode ser operado na análise é a maneira que uma pessoa pode visualizar sua vida.
O confronto com o real é entender a vida como todos os seus versos. E você já parou para pensar que tipo de verso é sua vida? Não estaria na hora de você começar a se implicar para saber o que te move a viver? O que verdadeiramente te traz felicidade? O que verdadeiramente te traz amor e paz de espírito? Sempre é bom lembrar que toda palavra adquire a feição do duplo sentido e que o real é sempre inatingível, portanto cabe a você se construir dentro daquilo em que o laço com outros seres te fortalece. Pense nisto e seja capaz de edificar sua vida.(Max Diniz cruzeiro – Neurocientista Clínico, Psicopedagogo Clínico e Empresarial – www.lenderbook.com)
– Baseado nos estudos da Psicanalista Thais Sarmanho