Brasil, nau sem rumo (Por Osíris Silva)

Economista Osiris Silva(AM)

Somos incompetentes de forma recorrente na gestão de um país de 200 milhões de habitantes, pobre e repleto de carências, escreveu em artigo na Folha de S. Paulo de hoje, 24, o jornalista Fernando Canzian. Escreveu ainda: “a história recente mostra, e não importa o partido, que o Brasil não consegue fazer a coisa certa de forma ordenada e racional durante muito tempo”.
A crise atual (Dilma), assinala o jornalista, “é muito semelhante à vivida em 1998/1999 (FHC) e em 2002/2003 (FHC+Lula). Trata-se do mesmo cenário de explosão da dívida pública e do dólar e da inflação renitente. De estelionato eleitoral descarado seguido, no pós-eleição, de arrocho, alta de tarifas e tentativa de subir impostos”.


Detalhe importante, lembrado por Canzian: “os ajustes feitos por FHC e Lula em suas crises foram relativamente rápidos. Mas tivemos, para isso, a supervisão externa do FMI, que exigiu medidas ortodoxas e rápidas para emprestar bilhões de dólares ao Brasil. Seguimos a receita do Fundo e as coisas voltaram a funcionar. O progresso dos anos Lula comprova isso”.

Agora, no entanto, diz o jornalista da Folha, é diferente: “não temos o FMI para nos tutelar e forçar um ajuste. Pois nossas contas externas estão relativamente em ordem e melhorando. Temos também US$ 370 bilhões em reservas. Exclusivamente por nossa conta, estamos há quase um ano da eleição de Dilma e não conseguimos fazer sequer um ajuste mínimo”.

No Brasil a história sempre se repete. Segundo Fernando Canzian, “vale muito a pena rever páginas da Folha nas crises de 1998/1999 e de 2002/2003. É tudo igual: pacotes, dólar a R$ 4,00, CPMF e queda do PIB. Não aprendemos nada”.

Pura verdade. O Brasil segue política errática desde a Proclamação da República. O golpe de Estado que derrubou o imperador Pedro II em nada ajudou ao País estruturar uma Constituição soberana, pragmática, eficaz e eficiente. Nem tão pouco a implantar modelo de governança e governabilidade que efetivamente atenda às demandas da sociedade por segurança, conquistas e direitos sociais, infraestrutura, enfim, as bases fundamentais para o desenvolvimento.

Ao longo da história dos países líderes mundiais a Constituição reflete norma jurídica suprema, principalmente a partir das revoluções ocorridas nos EUA, França e Inglaterra (as chamadas revoluções liberais, que visavam a instaurar um Estado de Direito, Estado de poderes limitados) em substituição ao Estado Absolutista que até então existia). Representa o grau de amadurecimento político, social e econômico de uma nação.

Menos no Brasil. Aqui, cúmulo da desfaçatez e do baixo nível educacional e cultural que lhe é característico, o ex-presidente Lula da Silva declarou ontem, 23, na expectativa de salvar a pele do governo Dilma Rousseff e a sua própria, que o “melhor é entregar seis ministérios ao Pmdb do que perder a presidência”.

Dado que o governo não tem princípios políticos respeitáveis, nem padrão de gestão competente, o caminho mais viável (do ponto de vista de seus líderes), no caso, é o da submissão a aliados que, por igual, apenas têm em mente o poder pelo poder, não o bem da nação de seu povo.
Diante de tal demonstração de falta de grandeza mental, moral e política, uma questão subjacente se sobressai: onde se encontra a dignidade das representações políticas brasileiras? Em quem o povo pode hoje confiar? No poder Legislativo, no Judiciário?

Em nada, ao que tudo indica. Com efeito, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal decidiu, nesta quarta-feira (23), que parte dos inquéritos da Operação Lava Jato seja retirado das mãos do juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná. A decisão, tomada em caso ligado a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), é uma derrota para os procuradores que atuam no caso e para Sérgio Moro, em particular. Juiz e procuradores, como do amplo conhecimento da sociedade brasileira, defendem que os crimes investigados em Curitiba fazem parte de um mesmo esquema que se ramifica em diversas frentes.

A sentença do STF foi comemorada por advogados dos acusados, que desde o início da operação atacam Moro por supostamente agir em sintonia com a Polícia Federal e o Ministério Público e conduzir o processo com mão de ferro.

A que nível de degradação moral chegaram Executivo, Legislativo e Judiciário? Têm-se revelado, efetivamente, nada mais que cúmplices de um processo de estelionato institucional jamais antes visto na história política deste País. Como bem lembrou o advogado Paulo Figueiredo, em artigo ontem publicado aqui no Facebook, a política rasteira do toma lá dá cá, do é dando que se recebe dos velhos tempos do “Centrão” e sua atuação na Assembleia Nacional Constituinte de 1987/88.

A história também aqui se repete.

O Brasil, por incrível que pareça, diante de uma população indefesa, e ao mesmo tempo acovardada, como nau sem rumo, perdida num formidável mar de corrupção sem paralelo na história brasileira, encontra-se entregue a uma malta sem lei, alma e dignidade. Seus únicos princípios, ao menos os mais explícitos, têm por fundamento única e exclusivamente a política do bolso cheio.
Dos seus próprios, evidentemente.(Osiris Silva – Economista, Consultor de empresas e Escritor)

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