Comer na rua é seguro?

Luiz Lauschner Escritor e empresário

A onda de Food Truck, Food Bus e até Food Bike está presente nas grandes cidades. Há menos de um ano em Manaus já mostra que veio para ficar. As pessoas festejam porque a comida da preferência está chegando bem perto de casa. E não parecem estar preocupadas com os efeitos colaterais. O que esta modalidade tem de diferente das comidinhas de carrinho de cachorro quente, de pastel ou de churrasquinhos em locais de eventos?


Ao que parece muitos destes “estabelecimentos” tem o aval, ou mesmo a assinatura de grandes chefs, gastrônomos com conhecimento de segurança alimentar tanto no preparo como na embalagem, no transporte e serviço final. Quem lida com produtos perecíveis sabe o impacto que o calor da cidade exerce sobre eles e, por mais bem intencionado que esteja, não pode ignorar outro impacto que a deterioração causa: o financeiro. Mercadinhos e até grandes redes de supermercados tentam mascarar produtos em fase de vencimento para estimular os clientes a leva-los para casa antes que vençam nas prateleiras. Outros os reembalam e dão uma “nova” validade ao produto vencido.

Nem todo produto vencido está, necessariamente, deteriorado. Nem todo produto, dentro do prazo de validade está, necessariamente, próprio para o consumo. Há uma grande rede atuando em Manaus que, simplesmente, não consegue vender ovos de qualidade, mesmo com a embalagem mostrando correta validade. É prova de que a simples etiqueta não garante nada. Nem mesmo as carnes embaladas a vácuo merecem confiança porque, assim como os ovos que vêm de fora, são transportadas numa temperatura e armazenadas e expostas para venda em outra.
Quem consome comida estragada, pode ir parar num hospital por vários dias ou, em casos extremos, até no cemitério. Que fim é dado à comida que é preparada para um evento e por algum contratempo como falta de energia ou chuva intensa não é vendida? O dono dela não suporta o prejuízo de jogá-la fora. O reaproveitamento é seguro?

Espera-se que num Food Truck haja um suporte que permita o retorno ao freezer da comida não vendida, porque ele está sujeito aos mesmos contratempos de qualquer ambulante. Muitos ambulantes não têm um carro de apoio para levar com urgência os perecíveis para congelamento, embora, em muitos casos, isso não seja solução.

O gasto do tratamento de intoxicação por alimentos vai para a casa dos bilhões em todo o Brasil. A Vigilância Sanitária criou uma portaria há dez anos que determina todo o manuseio de comida em qualquer estágio. Nenhum grande restaurante conseguiu aplicar todas as normas em todos os produtos até hoje. Pode até conseguir em um dia ou outro, mas manter por meses é mais difícil. Se onde existe empenho diuturno é bastante difícil, imagine onde há má fé. Por uma questão de operacionalidade a fiscalização prefere os grandes supermercados ou restaurantes de renome. Pequenas falhas são maximizadas com o auxílio da imprensa. Milhares de pessoas são infectadas diariamente por comidinhas que dividem seu espaço com a poeira do asfalto ou a sujeira das sarjetas e não há denúncia. Em Manaus, um restaurante criterioso foi acusado de ter provocado infecção em um cliente. Seguramente, este restaurante já atendeu mais de dois milhões de outros clientes sem problemas. Fechar um estabelecimento por isso é como fechar uma companhia aérea pela queda de um avião e esquecer os milhares de voos seguros ou os milhares que perecem nas estradas todos os anos.

O melhor fiscal sempre é o público consumidor. Quanto mais bem informado ele for, menor o risco.

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