Comércio, eixo propulsor da economia – I – por Osíris Silva

Escritor e economista Osíris Silva/Foto: Divulgação

De acordo com Paul A. Samuelson (1915-2009), o primeiro americano a ganhar o Prêmio Nobel de Economia, em 1970, dentre outras conceituações define a economia como o estudo da maneira pela qual homens e sociedade resolvem, com ou sem emprego da moeda, utilizar fatores de produção escassos (terra, trabalho, capital e tecnologia) a fim de produzir diferentes mercadorias (trigo, carnes, frutas e legumes, automóveis, aviões, consertos, estradas, viadutos, tecidos, bens eletrônicos e de informática) e distribuí-las ao mercado consumidor.


O comércio integra o setor terciário da economia – o primário (agropecuária) e o secundário (indústria) -, correspondendo às atividades de trocas de bens e à prestação de serviços. Inclui vasta gama de atividades mercantis, desde o setor privado à administração pública, passando por transportes, atividades financeiras e imobiliárias, serviços a empresas ou pessoais, educação, saúde e promoção social. Desde o primitivo escambo – a simples troca de mercadorias sem o uso de moeda -, ao longo dos tempos foi se aperfeiçoando e internacionalizando, sendo hoje usado até como arma de guerra.

Entrementes, muitos conflitos foram travados visando a conquista de importantes rotas comerciais estratégicas para o abastecimento interno. Destaque às Guerras Púnicas, que se deram entre Roma e Cartago de 264 a.C. 146 a.C.; à rota da circunavegação, no século XV, que levou ao descobrimento da América e do Brasil; ao Bloqueio Continental que Bonaparte impôs aos ingleses e aos russos e, contemporaneamente, à II guerra Mundial (1939-1945) e às guerras pelo petróleo travadas em diversas partes do mundo. No âmago, a premência de satisfação das necessidades de bens e serviços do homem.

O comércio faz parte da história da humanidade desde o tempo das cavernas, quando o homem primitivo barganhava suas caças. E foi se desenvolvendo no correr dos séculos, posto que a ambição humana nunca teve limites. Civilizações inteiras floresceram aperfeiçoando a arte da troca de mercadorias, como é o caso dos povos da Mesopotâmia. Na crescente fértil era intensa a negociação comercial, tanto que foi preciso criar a escrita cuneiforme, além de aprender a calcular. E na Índia era onde se compravam especiarias (temperos), perfumes raros, joias fabulosas. Então foi preciso encontrar um novo itinerário para lá, o que culminou na chegada de Colombo na América.

No Brasil não foi diferente. Como o demonstra o início do fluxo das imigrações européias no Sul, e na Amazônia, a exploração da seringueira nativa com vistas à extração do látex para produção da borracha, matéria prima essencial à consolidação das transformações tecnológicas oriundas da Revolução Industrial inglesa do século XVIII, que redundou na substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e no uso inovador das máquinas aos processos (manuais) de produção vigentes, a atividade comercial configura o elo fundamental de ligação das atividades produtivas.

O comércio permite à Amazônia adquirir base geopolítica própria e proporcionar a transformação de simples vilarejos perdidos no meio da selva em florescentes cidades consolidadas a partir do século XIX, como Manaus e Belém. Simultaneamente, os regatões possibilitam a conexão do comércio centrado nas capitais amazônicas aos seringais localizados nos altos rios, induzindo a acumulação inimaginável de riquezas proporcionadas pela economia do látex.

Mesmo enfrentando inúmeros percalços desde o fim do ciclo da borracha a partir de 1912, quando a economia da região entrou em profunda estagnação, o comércio no Amazonas, não obstante, cumpre sua trajetória. Dados do IBGE relativos ao exercício de 2019 registram forte crescimento na receita nominal (9,1%) e o segundo maior incremento no faturamento do setor de serviços entre os Estados brasileiros. O crescimento do setor no Estado, em dezembro, foi de 1,2% face à novembro e de 8,3% relativamente à dezembro de 2018.

Manaus, 14 de setembro de 2020.

 

 

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