Comida jogada fora – por Luiz Gonzaga Lauschner

Quase todos os anos assistimos matérias em algum canal importante da televisão brasileira sobre a perda de grãos durante a colheita. O desperdício já foi maior, mas a diminuição é muito lenta. Os fabricantes de colheitadeiras não conseguem produzir máquinas que alcancem valas, nem oscilações ou as plantas que cresceram de maneira irregular.


Nas colheitas manuais isso é superado pelo cuidado do colhedor, normalmente o proprietário da terra onde ocorre a plantação. Contudo, impossível de ser aplicado em lavouras intensivas.

O desperdício de produtos para alimentação e de alimentos prontos é assunto de discussão cada vez que se fala em fome, má distribuição de renda e pobreza de um modo geral. Tem palpites de todo tipo, mas impossíveis de causar algum efeito prático. Frutas comestíveis e desconhecidas continuam apodrecendo na Amazônia numa quantidade que seria possível satisfazer as necessidades de vitaminas do mundo carente. A não ser os nativos e os animais, ninguém irá à mata catar essa frutas.

Ao descascar batata e mandioca, ou ao limpar uma cebola, ao tirar a semente do tomate ou ao proceder outros preparos já “desperdiçamos” boa parte do peso do ingrediente. Isso se estende à carne, ao frango e principalmente ao peixe.

Essa seleção é necessária para apresentarmos uma refeição gostosa, livre de quaisquer impurezas. Existem estudos para aproveitamento de tudo isso que, porém, sequer são aplicados em restaurantes, portanto estão muito mais longe de alcançar as cozinhas das casas.

A vigilância sanitária responsabiliza ao doador de alimentos prontos sobre as consequências que venha a causar ao recebedor dele. Essa medida inviabiliza qualquer possibilidade de se fazer chegar sobras de restaurante à boca de quem nada tem a mastigar.

Não cabe contestar as normas de higiene, porque o que sobra em restaurante já está em seu último estágio antes da contaminação. Sair dali e ficar exposto às intempéries para depois consumir põe a vida de quem come em risco. É um problema de difícil solução. Muitas doenças vêm da má alimentação, embora a maioria delas pudesse ser evitada com uma alimentação adequada.

Se por um lado, dói o coração toda vez que vemos o mau aproveitamento de alimentos, por outro, como contornar a logística e fazer chegar alimentos saudáveis a todos que dele precisam? Apenas com a perda de grãos na hora da colheita poderíamos alimentar mais de cem mil pessoas durante todo um ano. Outro tanto, talvez, com o que se perde durante o preparo e com as sobras nas panelas.

Existe solução? Possivelmente, não. Mas, pelo menos o descarte no preparo poderia servir para alimentação animal. Isso já é feito em abatedouros frigoríficos e centros de distribuição de hortifrutigranjeiros, porém raramente por grandes supermercados ou casas de carne. Num país que gasta mais com alimentação canina que com o combate à fome humana, isso ajudaria.

Contudo, nada impede que sonhemos com soluções mirabolantes. Quem sabe com um dia em que as únicas sobras sejam aquelas que ficam nos vasos sanitários.

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