[Crônica] O Amor nos Tempos do match – por Isabela Abes Casaca

El amor en los tiempos del cóleraEl amor en los tiempos del cóleraGabriel García Márquez. Na cabeceira. Jeremias olhava fixamente a capa. Incrédulo. Cincuenta y un años, nueve meses y cuatro días… O celular vibrou, uma notificação: Maritza Geithner. Match. Largou o aparelho.


Como é possível? Só nos livros ou canções… Deitou-se remoendo aquele enredo. Adormeceu. Sonhou. Depois de muitos anos sem lembrar-se de um sonho, ao despertar pela manhã, lembrou-se do que sonhara: Fogo. Uma chama plástica, virtual e estática, apagou-se, perdeu a vivacidade, quebrando em incontáveis pedacinhos.

Así termió pensado en él como nunca se hubiera imaginado que se podía pensar en alguien, presintiéndolo donde no estaba, deseándolo donde no podía estar, despertando de pronto con la sensación física de que él la contemplaba en la oscuridad mientras ella dormía, de modo que la tarde en que sintió sus pasos resueltos sobre el reguero de hojas amarillas del parquecito, le costó trabajo creer que no fuera otra burla de su fantasía.

O celular vibrou, uma notificação: Mercedes Gaitán. Match. Largou o aparelho. Jeremias pulou da cama. Passou um pente nos cabelos. Desceu as escadas e bebeu um café. Olhou o relógio e percebeu estar atrasado para o labor. Apressou-se. Tomou um ônibus para o trabalho.

No monitor do computador milhares de informações e dados transcorriam no decorrer das horas. Na tela mental o assunto era invariável, dois nomes ecoavam repetidamente: Florentino, Firmina… Florentino, Firmina… Florentino, Firmina… Florentino, Firmina… Florentino, Firmina… Florentino, Firmina… Florentino, Firmina… Florentino, Firmina… Florentino, Firmina…

Como um desenho de sentimentos pode ir se traçando por tantos longos anos? Um desenho que não se distorce ou desbota, como as tatuagens. Uma marca que não se faz com tinta na epiderme, mas um registro muito mais profundo que a derme, um sinal que fica gravado na alma. Como? Voltou os olhos para um pedaço de papel velho. Sentiu vontade de escrever uma carta. Mas, para que destinatário? O celular vibrou, uma notificação: Carolina Gamboa. Match. Largou o aparelho. Retornou ao trabalho.

Pues entonces tenía la impresión de conocerlo como si hubiera vivido con él toda la vida.

O expediente findou. Jeremias regressou a sua casa. Atirou a mochila sobre o sofá e rumou ao quarto. Suspirou de cansaço, infelizmente ainda era terça-feira. O celular vibrou, uma notificação: Anastacia Trujillo. Match. Sorriu forçosamente, como se estivesse cumprindo um mero protocolo. Largou o aparelho. Banhou-se. Ao retornar a cama deparou-se com El amor en los tiempos del cólera na cabeceira.

Não sabia se mirava o livro com a inocência de um conto de fada ou com a sacralidade de uma escritura sagrada. O sono encheu-lhe os olhos. O corpo pesou. Deitou-se no colchão e adormeceu. Profundamente.

Deja que el tiempo pase y ya veremos lo que trae…

E o tempo se escorreu. Vida e rotina eram sinônimos naquela sucessão de fatos cinzas. Era só trabalho e inúmeras notificações no smartphone. Match. Match. Match. Match. Match. Match. Match. Match. Match. Match. Match. Jeremias parecia estar no automático. Nos breves momentos que desligava o botão e voltava ao controle manual se recordava do livro. A capa e as páginas pareciam formar em sua mente um quadro, tal qual Vincent Van Gogh, ou Giacomo Balla, ou ainda Jackson Pollock.

Por mais exigente que a rotina fosse não conseguia afastar as lembranças do livro, trechos lhe vinham constantemente, provocando ventanias internas. Os dias ficavam mais longos. As horas ficavam mais longas. Os minutos ficavam mais longos. Os segundos ficavam mais longos. Os instantes ficavam mais longos. O tempo, como um todo, parecia transcorrer mais longamente. Porém, ele nunca deixa passar. E o tempo se escorreu.

Se estremeció, porque reconoció la antigua voz iluminada por la gracia del Espíritu Santo, y miró al capitán: él era el destino.

Chegou o fim de semana. Com quem ele encontrar-se-ia? Com qual daqueles avatares e profiles? Maritza Geithner? Mercedes Gaitán? Carolina Gamboa? Anastacia Trujillo? Ou qual outra? Tantas iguais… Antes de decidir-se, resolveu passar na biblioteca e devolver o livro. A imensa fachada era de tirar o fôlego. Uma catedral gótica de ficções. Ao cruzar os umbrais parecia adentrar num outro mundo dentro do Mundo.

Caminhava cauteloso pelos corredores, era um ambiente estranho, um selva de papel, brochuras, letras, palavras, frases, parágrafos, enredos, estórias e histórias. Estivera ali apenas uma vez na vida, há duas semanas, ocasião que encontrou-se casualmente com El amor en los tiempos del cólera. Procurava um manual de estudo de electromagnetismo, a obra de Gabo estava colocada erroneamente (ou acertadamente?) fora de sua catalogação, e Jeremias, sem muito pensar, decidiu emprestar o livro em questão.

Los seres humanos no nacen para siempre el día en que sus madres los alumbran, sino que la vida los obliga otra vez y muchas veces a parirse a sí mismos…

Olhava por todos os lados procurando o bibliotecário. Onde estaria? Segurava o celular na mão direita. Subitamente os dedos afrouxaram, o aparelho escorregou, espatifando-se no chão. A mão ficou livre. Avistara alguém que não estava procurando, contudo que seu inconsciente sempre buscara desde dia de seu nascimento. Ela cantarolava baixinho uma canção de Calle 13: La Vuelta Al Mundo. Si quieres cambio verdadero, pues, camina distinto!

O que é a vida senão um interminável livro ou uma infindável canção? Jeremias sentiu em silencio: La mitad de lo que digo no tiene sentido, pero lo digo sólo para llegar a ti, Julia… Julia… Julia…

El Amor es el mismo, no cambia con el Tiempo, es el resultado de la casualidad y las estrellas.
El Amor es el hijo favorito del Destino.

Artigo anteriorRenan Calheiros é eleito presidente do Congesso Nacional
Próximo artigoPlanalto é derrotado com vitória de Cunha, na Câmara Federal

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui