
O peregrino por muito tempo vagou só, buscando a rosa do deserto. Suas únicas companhias eram os astros do firmamento; de dia, o Sol lhe compeliam a andar sobre as dunas dançantes; a noite, a lua e as estrelas o acolhiam carinhosamente para o descanso.
Depois de um tempo incontável atravessando os caminhos desérticos, depois de passar pela Síria, depois de atravessar os portões de Istambul, o peregrino chegou ao reinado das areias do tempo, lá havia uma antiga caravanserai, ali estava o ser de sua procura.
O errante viajante julgando já tê-la entendido por completo se aproximou, despojado de cautela, com atitude despótica estendeu a mão para a Rosa, pretendendo levá-la consigo. Em seu coração ele não era um vilão, apenas estava ansioso, porém a paciência é imprescindível para os assuntos do centro do sentimento.
– Toca este nay… – pediu-lhe a rosa do deserto estendendo o objeto.
– Não sei tocar, minha senhora… – ele respondeu.
– Mas estou pedindo… – ela insistiu.
– Podeis acreditar-me, não sei… – o peregrino mais uma vez afirmou.
– É fácil, aperta estes furos com os dedos e o polegar; dá-lhe ar com os lábios e o instrumento deixará sair a mais eloquente melodia. Vê: aqui estão os registros. – a rosa explicou.
– Mas, não possuindo prática, não conseguiria tirar qualquer som. – ele respondeu pegando o objeto em mãos e analisando-o com os olhos.
– Pois, então, que criatura acreditas que eu seja? O que estás pretendendo? Estás procurando aparentar que conheces os meus registros, estás querendo arrancar os meus segredos mais íntimos; pretendes sondar-me, fazendo que emita desde a nota mais grave até a mais aguda de meu diapasão; e possuindo tal abundância de música e tão excelente voz neste pequeno órgão, tu, contudo, não podes fazê-lo falar. Estás pensando que eu seja mais fácil de ser tocada que uma flauta?
O peregrino calou-se em meditação e após muito silencio proferiu:
– Eu não sabia o quanto meu coração estava vazio até começar a preenchê-lo…